Dinheiro Rural

Ano histórico, mas desafiador

- Lana Pinheiro, editora da Dinheiro Rural

Em meio a tanto caos e incertezas vividos em 2020, a agroindúst­ria pareceu uma ilha de prosperida­de. No Brasil, a safra de grãos que termina em julho deve alcançar recorde de 264,8 milhões de toneladas e, o setor, um Valor Bruto de Produção (VBP) histórico de R$ 1 trilhão. Notícias com tantos dígitos tendem a provocar certa sensação de enleio, com chances de servir como cortina de fumaça para melhorias urgentes que precisam ser realizadas para assegurar o protagonis­mo futuro do agro brasileiro no cenário mundial. Como mostramos na matéria de capa desta edição da RURAL, o País ainda patina em velhos problemas como a falta de conectivid­ade em áreas rurais e custos com uma logística sustentada pelo modal rodoviário. Já nestes novos tempos, a postura negacionis­ta e um tanto desleixada do presidente Jair Bolsonaro perante à proteção do meio ambiente pode ter um efeito devastador nas relações comerciais do campo com mercados internacio­nais como União Europeia e Estados Unidos, que adotaram uma política mais ambientali­sta na administra­ção Biden e não se fiarão de usar a imagem do Brasil contra nós mesmos. Narrativa injusta? Produtores que trabalham sob as rígidas leis brasileira­s dirão que sim, mas sem uma ação institucio­nal que puna os ilegais de maneira exemplar, o mercado inteiro é prejudicad­o. É a regra do jogo, mas essa está dada. Outra regra que deve se confirmar em 2021 – e essa sim pode ser mudada – é a velha tradição de governos municipais, estaduais e federal de consertar rombos no orçamento público via aumento de receita e não corte de gastos. Quem pagará parte dessa conta será o agronegóci­o. De acordo com a Confederaç­ão Nacional da Agricultur­a e Pecuária (CNA), a nova reforma tributária pode onerar o setor em mais de 20%. Não bastasse os trovões que vêm de Brasília, o céu ainda esconde outro desafio: uma das maiores ameaças para a produção de 2021 são os efeitos imprevisív­eis da La Niña. O clima em algumas regiões do Brasil está fora dos padrões e as consequênc­ias na safra ainda não são conhecidas. Dentro da porteira, o produtor está mais resiliente do que nunca. Com uma mercadoria bem remunerada devido ao câmbio favorável às exportaçõe­s e à valorizaçã­o de commoditie­s na Bolsa de Chicago, ele está investindo em pacote tecnológic­o de mais qualidade, agricultur­a de precisão e digitaliza­ção de sua propriedad­e. Ferramenta­s para alcançar um único objetivo: fazer mais com menos, aumentando a competitiv­idade dos produtos brasileiro­s no mundo para que, finalmente, o Brasil ocupe o lugar de superpotên­cia que é o seu lugar. Mas, para isso, ele clama por decisões institucio­nais pautadas em dados, ciência e visão de futuro.

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Protagonis­mo do Brasil no agro depende, também, de decisões políticas

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