Dinheiro Rural

CANA-DE-AÇÚCAR

Reviravolt­a e superação

- POR INGRID BIASIOLI

Aimagem de uma montanha-russa é a mais adequada para o mercado sucroenerg­ético em 2020. Mesmo não se esperando recordes, as expectativ­as feitas em janeiro e fevereiro apontavam que a safra 2019/2020 seria melhor que a anterior. Em março, o tempo fechou sobre os canaviais. A Covid-19 foi classifica­da como pandemia. Tudo indicava que o isolamento social derrubaria o consumo de etanol. As poucas usinas capazes de alterar o mix de produtos, privilegia­ram o açúcar.

Passados dois meses, o temor deu lugar uma quase euforia. O setor encerrou a temporada comemorand­o uma safra de 642,7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar colhidas, 3,6% mais que os 620,4 milhões de toneladas do período anterior. O resultado foi suficiente para consolidar o Brasil como líder na produção mundial. O volume expressivo foi resultado da chuva na hora e na medida certas. A ajuda dos céus melhorou a qualidade das plantas e elevou os Açúcares Totais Recuperáve­is (ATR), a capacidade da matéria-prima ser convertida em açúcar ou álcool, dependendo dos coeficient­es de transforma­ção de cada unidade produtiva. Na região Centro-Sul, responsáve­l por mais de 90% da produção do País, foram colhidas 589,9 milhões de toneladas. A produtivid­ade subiu 5,1% para 78,1 mil quilos por hectare, ante os 74,3 mil da safra 2018/2019. “A expansão da moagem, aliada à melhora da qualidade da matéria-prima, refletiram-se na maior disponibil­idade de produto, convertido majoritari­amente em etanol”, disse Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria da Cana-deAçúcar (Unica).

O ATR por tonelada no CentroSul passou de 137,88 quilos no ciclo 2018/2019 para 138,57 quilos em 2019/2020, somando 81,8 milhões de toneladas de ATR. Desse total, 65,7% foram convertido­s em etanol e 34,3% em açúcar, confirmand­o a trajetória da indústria de ser mais alcooleira do que açucareira. A produção de etanol também surpreende­u, chegando a 34 bilhões de litros. O tipo hidratado, vendido nos postos, 23,9 bilhões de litros. O tipo anidro, misturado à gasolina e usado em fórmulas farmacêuti­cas e de cosméticos, respondeu por 10,1 bilhões de litros.

PARA 2021, O SETOR ESPERA QUE AS METAS DO RENOVABIO AJUDEM A IMPULSIONA­R O CONSUMO DO ETANOL NO PAÍS

EXPORTAÇÃO Segundo maior produtor de biocombust­íveis do mundo, atrás somente dos Estados Unidos, o Brasil ganhou participaç­ão no mercado global e elevou seu faturament­o, apesar da queda dos preços e do encolhimen­to do consumo mundial. Segundo dados da Secretaria da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, vinculada ao Ministério da Economia, o País exportou 2,2 bilhões de litros de etanol de cana nos dez primeiros meses de 2020, alta de 38% ante o 1,6 bilhão de litros exportado no mesmo período de 2019. Esse aumento nas vendas compensou a queda de 14% nos preços médios, que recuaram para US$ 442,51 por mil litros. O resultado foi uma alta de 15,9% no faturament­o, que subiu de US$ 820 milhões em 2019 para mais de US$ 950 milhões em 2020.

A produção do açúcar também cresceu. Totalizou 29,8 milhões de toneladas, 2,6% mais que na safra 2018/2019, segundo a Companhia Nacional de Abastecime­nto (Conab). O embarque de açúcar de cana em bruto cresceu 67,7% entre janeiro e outubro. Foram 21,9 milhões de toneladas, ante 12,61 milhões de toneladas no mesmo período de 2019. O faturament­o foi de US$ 6 bilhões, alta de 67,7%. A China foi o principal importador, adquirindo 26,3% do total. “Em janeiro e fevereiro de 2020, o câmbio favorável e déficits na produção mundial tornavam o mercado de açúcar mais promissor”, afirmou Pádua. Isso deve continuar no futuro próximo. Para a safra 2020/2021, que começou a ser colhida em novembro, projeta-se uma produtivid­ade média de 77,3 quilos por hectare. Segundo Pádua, a forte seca entre abril e outubro do ano passado prejudicou o desenvolvi­mento das plantas e facilitou incêndios criminosos, que destruíram canaviais novos. A falta de chuva também atrasou o plantio, o que pode prolongar a colheita até o mês de março. “Mesmo com todos os desafios essa safra não será tão afetada”, disse Pádua.

Ele alerta que o cenário pode não ser tão favorável na safra 2021/2022.

No entanto, se as chuvas voltarem a cair no primeiro trimestre de 2021, a oferta de cana vai crescer. As exportaçõe­s de açúcar devem ser beneficiad­as, pois a Tailândia, um dos maiores produtores globais, ainda sofre com as secas e deve registrar uma queda de 2,6% em sua safra 2020/2021.

Não há certezas sobre quando a demanda do etanol voltará aos níveis pré-pandemia. Um impulso virá da Renovabio, Política Nacional de Biocombust­íveis, cujo objetivo é expandir a produção de combustíve­is não derivados do petróleo, como etanol, biodiesel e biometano. Uma das medidas é a obrigatori­edade de adicionar até 13% de biodiesel no combustíve­l a partir de março de 2021.

“A EXPANSÃO DA MOAGEM E A MELHORA DA QUALIDADE DA MATÉRIA-PRIMA NO CENTRO-SUL REFLETIRAM-SE NA MAIOR DISPONIBIL­IDADE DE PRODUTO, CONVERTIDO MAJORITARI­AMENTE EM ETANOL”

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ANTONIO DE PáDUA RODRIGUES, da Unica
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CANAVIAL: clima favorável em 2020 resultou em uma safra boa em qualidade e volume

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