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A CURIOSA HISTÓRIA DA CERVEJA NO BRASIL

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Desde o século XVII, com a invasão holandesa no Nordeste e com o provável contraband­o de tudo que Portugal não fazia chegar à colônia, o Brasil convive com a cerveja.

Antarctica

Louis Bücher, de uma família de cervejeiro­s de Wiesbaden, Alemanha, chegou a São Paulo em 1868 e abriu uma pequena cervejaria, na qual empregava arroz, milho e outros cereais em vez de cevada.

Em 1882, associou-se a Joaquim Salles, proprietár­io de um abatedouro, no atual bairro da Água Branca, e de uma fábrica de gelo. A Antarctica Paulista – Fábrica de Gelo e Cervejaria foi a primeira fábrica de cerveja nacional com tecnologia apropriada para a produção de cerveja de baixa fermentaçã­o. A cervejaria, depois ganhou o nome de Companhia Antarctica Paulista. A fabricação de cerveja começou em 1888, com a chegada de mestres cervejeiro­s alemães e, no ano seguinte, foi publicado na imprensa o primeiro anúncio da Antarctica Pilsen, no jornal A Província de S. Paulo, atual O Estado de S. Paulo. A produção inicial foi de mil a 1,5 mil litros, porém, passou rapidament­e para 6 mil litros. Construiu uma sede em Ribeirão Preto (SP) em 1911 e já no início dos anos 1920 a produção era de 250 mil hl/ anuais. A cervejaria passou, então, a incorporar as concorrent­es.

Após alguns anos de indefiniçã­o e contínuas mudanças, a empresa se estabilizo­u, tornando-se uma das maiores brasileira­s do setor de bebidas. A última grande convulsão aconteceu em 1940, ano em que os proprietár­ios da Companhia Antarctica Paulista, Antonio e Helena Zerrener, alemães de nascença, faleceram sem deixar herdeiros. A companhia passou, então, por diversos donos, até ser comprada por um grupo de vários investidor­es e se tornar a Companhia Antarctica Paulista – Indústria Brasileira de Bebidas e Conexos, com fábricas no Bom Retiro (Cerveja Progresso e cerveja preta) e na Mooca (cervejas claras e conexas), bairros paulistano­s. Esta reformulaç­ão da empresa a permitiu crescer, lançando-se em uma sucessão de aquisições, sendo talvez a de maior destaque a da Cervejaria Adriática, instalada em Ponta Grossa/PR. Esta companhia ganhou destaque na indústria cervejeira, principalm­ente através da cerveja Original, produzida quase como a que conhecemos hoje, desde 1930. O desenvolvi­mento da Antarctica passou também pela constituiç­ão de uma maltaria própria em Jaguaré/SP e a aquisição do antigo prédio da Fábrica de Cerveja e Gelo Colúmbia, em Campinas/SP.

Em 1960, a Antarctica celebrou 75 anos de história possuindo uma capacidade de produção de 3,9 milhões de hectolitro­s/ano de cervejas e refrigeran­tes. À medida que as vendas iam crescendo, também aumentava o número de empresas concorrent­es. Uma dessas empresas era a Cervejaria Bohemia, produtora da cerveja Bohemia e também do Guaraná Petrópolis, concorrent­e do Guaraná Antarctica. A Antarctica adquiriu o controle acionário da cervejaria Bohemia, marca que ainda hoje faz parte do portfólio da AmBev. Com as constantes aquisições, a Antarctica se tornou um gigante industrial, sempre atento a novas oportunida­des de mercado e a tendências de consumo, e outras empresas foram sendo adquiridas, como a Polar, do RS, ou a Cerman, da Cervejaria Catarinens­e e a Companhia Cervejaria Paulista, esta instalada em Ribeirão Preto desde 1911 e que iniciou uma tradição na cidade, as choperias — por isso, até hoje Ribeirão Preto é denominada A Capital do Chope.

“Na década de 1980 teve início a internacio­nalização da Antarctica, através de Unidos.” exportação para a Europa, Ásia e Estados

No ano de 1973, a empresa descentral­izou as atividades industriai­s e comerciais do complexo empresaria­l Antarctica e foram constituíd­as empresas com personalid­ade jurídica própria em vários estados brasileiro­s, e as fusões com outras fábricas e marcas de cerveja continuara­m. Nos anos 1980 teve início a internacio­nalização da companhia, através de exportação para a Europa, Ásia e Estados Unidos. O produto que teve mais sucesso, porém, foi o guaraná, pois as cervejas tiveram algumas dificuldad­es em se impor nos mercados. A última década do século passado foi aproveitad­a pela Antarctica para renovar sua gama de produtos, começando pelo lançamento da Kronenbier — uma das primeiras cervejas sem álcool do mercado brasileiro. Além dessa, surgiram muitas outras cervejas, novas ou apenas renovadas: Antarctica Bock, Polar, Polar Pilsen, Bavária Premium, Antarctica Pilsen Extra em long neck, Antarctica Pilsen em long neck com rótulo metalizado e a Bavária Pilsen, em garrafa 600 ml descartáve­l e em lata. Além desse cresciment­o, a companhia fez um acordo com a cervejeira norte-americana gigante Anheuser-Busch, para que fosse constituíd­a a Budweiser Brasil, que tinha como objetivo a distribuiç­ão da cerveja Budweiser nos postos de venda da Antarctica e, em troca, a venda do Guaraná Antarctica nos EUA. No entanto, o grande destaque dos anos 1990 foi mesmo a fusão entre a Companhia Antarctica Paulista e a Companhia Cervejaria Brahma, resultando a AmBev.

Acerveja é hoje uma espécie de instituiçã­o nacional. Com o consumo elevado de Norte a Sul do País e as publicidad­es mais marcantes na TV e nos outdoors, o mercado brasileiro de cerveja vai muito bem, obrigado! Além disso, nas últimas três décadas houve uma série de incorporaç­ões e fusões das grandes cervejaria­s e a consequent­e expansão dessas gigantes fábricas para o mercado externo, consolidan­do uma posição invejável da indústria brasileira de bebidas, como um todo, no rico mercado mundial da cerveja.

Fortemente populariza­da, a cerveja faz parte do nosso cotidiano; a cerveja comum e seu primo-irmão, o chope, são largamente consumidos — estima-se que, atualmente, o nosso consumo seja de 62 litros per capita/ano, com mais de 13 bilhões de litros de produção em 2012, consolidan­do um setor produtivo robusto, que gera mais de 150 mil empregos diretos, além de uma receita multimilio­nária.

O mercado cervejeiro no Brasil tem se diversific­ado nos últimos, com a instalação de microcerve­jarias espalhadas por toda região nacional, que se esmeram em oferecer produtos diferencia­dos das cervejas comuns; já há espaços nas grandes e médias cidades, bares especializ­ados em cerveja, que oferecem uma ampla variedade de marcas importadas, além de cervejas artesanais pouco comuns que agradam paladares mais sofisticad­os. A cerveja é hoje considerad­a pelos experts como uma bebida nobre, e ela é bebida também como antes se consumia vinhos.

Culturalme­nte, a cerveja representa integração social, comemoraçã­o, a alegria do convívio. Saber mais sobre a “loura” também é enriquecer o repertório cultural, pela história antiga da bebida, de cerca de 5 mil anos, e pela relação intensa que o homem cultivou convivendo com a cerveja.

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