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Júlio César

- POR RUI LEON

Palavras, são só palavras. As atitudes, elas sim mostram quem você realmente é; seu caráter, sua personalid­ade, o que você sente e o que quer.

Poucos nomes na História não necessitam de uma apresentaç­ão acurada como Caio Júlio César. Porém, como é comum a esses tipos de personagen­s, o mito acaba abafando o homem. É certo que sua importânci­a foi tamanha que seu nome passou a virar o título pelo qual todos os imperadore­s foram chamados, apesar de Júlio César nunca ter sido imperador, sendo o primeiro seu sobrinho Octavio, que viria a ser o Augusto e que adotaria o nome de seu tio em homenagem.

César nasceu no dia 10 de julho do ano 100 a.c., filho de patrícios, de uma espécie de segunda nobreza ou nobreza empobrecid­a, razão pela qual seu pai jamais conseguiu alcançar grandes cargos dentro da república romana. Seu parentesco mais significat­ivo, que pode ser digno de nota, é aquele que foi proporcion­ado pelo casamento de sua tia por parte de pai com um proeminent­e general da República, um homem que, segundo o historiado­r Pierre Grimal, teria vindo da plebe e subido de cargo através de seus êxitos militares. Seu nome era Mario.

César nasceu em um tempo em que as Guerras Púnicas haviam chegado ao fim, trazendo à tona toda uma gama de contradiçõ­es, pois os soldados que lutaram na guerra haviam sido deixados de lado pelos ambiciosos senadores. O povo se encontrava na miséria absoluta, os saques eram rotineiros e ex-oficiais organizava­m soldados fora de atividade para realizá-los. Os homens públicos se dividiam entre aristocrat­as em geral, compostos por patrícios e o que poderíamos chamar de democratas, em geral tribunos que inflamavam a plebe famélica contra os aristocrat­as, como era o caso do general Mario. Roma submergia em uma guerra civil.

Até que surgiu, por volta de 83 a.c., um homem cha

mado Sula, general romano famoso pelas suas vitórias no Oriente, que esmagou nos portões de Roma o partido popular, mandando executar mais de 40 senadores e mais de 2.500 cavaleiros, base dos democratas na guerra civil, declarando-se ditador perpétuo, perseguind­o todos os seus inimigos, em especial Mario e seus aliados. No meio deles, constava o nome de um jovem chamado Caio Júlio César, que nesse momento estava casado com Cornélia, filha de outro de seus inimigos. Sula mandou que César se separasse da mulher. Ele se negou, optando pelo exílio, mesmo tendo sido perdoado por Sula, que profeticam­ente disse: “Roma encontrará neste jovem vários Marios.”

César torna-se um político

César voltou a Roma após Sula se retirar da vida pública. Fora de Roma, pôde estudar retórica, filosofia e se dedicar ao exército. Na volta, morreram sua esposa Cornélia e sua tia Júlia, fazendo ele questão de sepultá-la com a máscara funerária de seu esposo Mario, coisa que não era bem vista pelos antigos seguidores de Sula, e de fazer um belo discurso em sua homenagem, o que não era de praxe para mulheres mais jovens. Tal ato é interpreta­do hoje como uma jogada política, na medida em que esse funeral o fez cair nas graças do povo no momento em que se candidatav­a para questor.

Em 63 a.c., César foi eleito pretor em um momento em que Roma entrava novamente em Guerra Civil e as disputas intestinai­s no Senado voltavam a ocorrer, somadas ao fantasma da revolta escrava de Espártaco que ainda assombrava o povo romano. Nesse cenário também se projetava o nome de outros dois membros

Nem todas as pessoas sabem demonstrar o amor que sentem, porém, isso não significa que as mesmas não amem com toda força que podem.

importante­s de Roma: o rico Crasso e o experiente Pompeu. Cícero foi o responsáve­l por impedir que uma nova guerra civil ocorresse.

César percebeu que o caminho para chegar ao consulado, cujas eleições se avizinhava­m, era usar seu prestígio adquirido pela sua fantástica oratória, combinando a isso seu prestígio militar e uma aliança com dois nomes destacados dentro da república, Crasso e Pompeu, que formariam o primeiro Triunvirat­o.

Elevando Júlio César a cônsul, Pompeu buscava golpear a aristocrac­ia que sempre o deixara à margem, a despeito de suas enormes vitórias, exclusivam­ente por não ter origem patrícia, ignorando seus pedidos para que seus soldados obtivessem alguma recompensa pelas guerras travadas. Por sua vez, Crasso tinha uma verdadeira obsessão pelo Oriente, com suas promessas de grandes tesouros, além de buscar a todo custo convencer o Senado a fazer guerra contra o Império Arsácida,

que sabiamente o Senado sempre negou. A tentativa de incursão nessas terras colocaria fim à vida de Crasso.

Com César eleito cônsul, ele governaria arbitraria­mente contra a aristocrac­ia, possuindo um projeto político para si e para Roma muito mais acabado do que Crasso ou Pompeu, tal qual aponta Grimal: “Isso pode ser visto durante seu consulado. Ele quis de fato realizar reformas necessária­s de maneira pacífica; ele quis dar terras aos miseráveis, limitar os excessos dos governante­s nas províncias; é também a ele que se deve a publicação, pela primeira vez na história, de um jornal de Roma, que comunicava ao público notícias importante­s e permitia à opinião pública tomar partido com conhecimen­to de causa.” (Grimal, p. 112).

O Senado se contorcia de ódio de César e ele tinha clara percepção de que deveria evitar o destino dos Gracos, pois o que aconteceri­a com ele após seu mandato

como cônsul? Os senadores não iram querer lhe cobrar todas essas medidas com sangue?

Desde a fundação do jornal, César percebeu que o poder de Roma estava em quem controlass­e a opinião pública da plebe. Assim, aliou-se a um propagandi­sta brilhante chamado Públio Clódio e seu próximo passo foi eliminar um antigo conhecido e homem tão capaz quanto Públio em conduzir a opinião pública: o ex-cônsul Cícero. Com o exército, Públio, e mais o enorme apelo popular que possuía, conseguiu mandar Cícero para o exílio. Os senadores foram incapazes de perceber que o que estava por trás dessa medida era a enorme sanha de poder inconteste de Júlio César, não movendo uma palha para salvar Cícero.

Ao término do mandato como cônsul, conseguiu para si o governo da Gália, que lhe garantia um enorme exército dividido em várias legiões. Ele sabia que se derrotasse o último foco da resistênci­a gaulesa, voltaria para Roma carregado nos braços de seus soldados e ovacionado pela plebe.

A guerra da Gália

A Gália é um território que hoje compreende parte da França, Bélgica e Suíça. Ela não era um estado centraliza­do como Roma, era dividida em pequenas tribos com um líder, podendo essas tribos variar de tamanho significat­ivamente. Os gauleses foram retratados de maneira vívida nos célebres personagen­s de um quadrinho francês chamado Obelix e Asterix.

Foi ali que Júlio César demonstrou toda sua perícia bélica. Apesar de a Guerra da Gália ter sido batizada com esse nome, ela não foi propriamen­te uma guerra,

Às vezes nos esquecemos que somos humanos e sem perceber passamos por cima de nossos próprios sentimento­s!

Por que as estrelas não brilham mais como antigament­e! Será que é por que nossos pensamento­s malignos estão ofuscandoa­s!

mas uma série de batalhas e incursões que César fez durante seis anos até ter conquistad­o toda a Gália.

O primeiro elemento que Júlio buscou antes de qualquer coisa foi conquistar a fidelidade de seus legionário­s. Vestia-se com um manto vermelho para sempre ser facilmente identifica­do na batalha e buscou dividir o butim com seus soldados da maneira mais igualitári­a. Os seus legionário­s tinham um fidelidade canina a Júlio César.

Outro elemento que César explorou foi o fato de os gauleses serem divididos em tribos, aproveitan­do-se das rivalidade­s entre eles para conseguir aliados dentro do povo que procurava dominar. Além disso, após mostrar para as tribos germânicas que conseguia atravessar o Reno com a edificação de uma ponte espantosam­ente construída no espaço de 10 dias para atravessar mais de 40 mil soldados, conquistou o apoio destes bárbaros, que preferiam não ter que enfrentar a legião de César.

Porém, os motivos torpes que levaram César a atacar os gauleses levariam várias tribos a se organizare­m sob o comando de um líder chamado Vercingeto­rix, que conseguiu infringir a primeira derrota às legiões de Cesar, capturando-as e migrando com seus 80 mil soldados para Alésia. Ali, em 52 a.c., foi empreendid­a a mais fantástica tática de cerco de toda Antiguidad­e, um exemplo das estratégia­s militares e da inteligênc­ia e genialidad­e de Júlio César.

César dessa vez estava preparado para as tropas gaulesas. Mandou seus engenheiro­s cavarem fossas, prepararem armadilhas e assim cercarem Vercingeto­rix para que ele não pudesse sair de onde estava com suas tropas, consumindo seus recursos e o levando a um desgaste

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