Júlio César
Palavras, são só palavras. As atitudes, elas sim mostram quem você realmente é; seu caráter, sua personalidade, o que você sente e o que quer.
Poucos nomes na História não necessitam de uma apresentação acurada como Caio Júlio César. Porém, como é comum a esses tipos de personagens, o mito acaba abafando o homem. É certo que sua importância foi tamanha que seu nome passou a virar o título pelo qual todos os imperadores foram chamados, apesar de Júlio César nunca ter sido imperador, sendo o primeiro seu sobrinho Octavio, que viria a ser o Augusto e que adotaria o nome de seu tio em homenagem.
César nasceu no dia 10 de julho do ano 100 a.c., filho de patrícios, de uma espécie de segunda nobreza ou nobreza empobrecida, razão pela qual seu pai jamais conseguiu alcançar grandes cargos dentro da república romana. Seu parentesco mais significativo, que pode ser digno de nota, é aquele que foi proporcionado pelo casamento de sua tia por parte de pai com um proeminente general da República, um homem que, segundo o historiador Pierre Grimal, teria vindo da plebe e subido de cargo através de seus êxitos militares. Seu nome era Mario.
César nasceu em um tempo em que as Guerras Púnicas haviam chegado ao fim, trazendo à tona toda uma gama de contradições, pois os soldados que lutaram na guerra haviam sido deixados de lado pelos ambiciosos senadores. O povo se encontrava na miséria absoluta, os saques eram rotineiros e ex-oficiais organizavam soldados fora de atividade para realizá-los. Os homens públicos se dividiam entre aristocratas em geral, compostos por patrícios e o que poderíamos chamar de democratas, em geral tribunos que inflamavam a plebe famélica contra os aristocratas, como era o caso do general Mario. Roma submergia em uma guerra civil.
Até que surgiu, por volta de 83 a.c., um homem cha
mado Sula, general romano famoso pelas suas vitórias no Oriente, que esmagou nos portões de Roma o partido popular, mandando executar mais de 40 senadores e mais de 2.500 cavaleiros, base dos democratas na guerra civil, declarando-se ditador perpétuo, perseguindo todos os seus inimigos, em especial Mario e seus aliados. No meio deles, constava o nome de um jovem chamado Caio Júlio César, que nesse momento estava casado com Cornélia, filha de outro de seus inimigos. Sula mandou que César se separasse da mulher. Ele se negou, optando pelo exílio, mesmo tendo sido perdoado por Sula, que profeticamente disse: “Roma encontrará neste jovem vários Marios.”
César torna-se um político
César voltou a Roma após Sula se retirar da vida pública. Fora de Roma, pôde estudar retórica, filosofia e se dedicar ao exército. Na volta, morreram sua esposa Cornélia e sua tia Júlia, fazendo ele questão de sepultá-la com a máscara funerária de seu esposo Mario, coisa que não era bem vista pelos antigos seguidores de Sula, e de fazer um belo discurso em sua homenagem, o que não era de praxe para mulheres mais jovens. Tal ato é interpretado hoje como uma jogada política, na medida em que esse funeral o fez cair nas graças do povo no momento em que se candidatava para questor.
Em 63 a.c., César foi eleito pretor em um momento em que Roma entrava novamente em Guerra Civil e as disputas intestinais no Senado voltavam a ocorrer, somadas ao fantasma da revolta escrava de Espártaco que ainda assombrava o povo romano. Nesse cenário também se projetava o nome de outros dois membros
Nem todas as pessoas sabem demonstrar o amor que sentem, porém, isso não significa que as mesmas não amem com toda força que podem.
importantes de Roma: o rico Crasso e o experiente Pompeu. Cícero foi o responsável por impedir que uma nova guerra civil ocorresse.
César percebeu que o caminho para chegar ao consulado, cujas eleições se avizinhavam, era usar seu prestígio adquirido pela sua fantástica oratória, combinando a isso seu prestígio militar e uma aliança com dois nomes destacados dentro da república, Crasso e Pompeu, que formariam o primeiro Triunvirato.
Elevando Júlio César a cônsul, Pompeu buscava golpear a aristocracia que sempre o deixara à margem, a despeito de suas enormes vitórias, exclusivamente por não ter origem patrícia, ignorando seus pedidos para que seus soldados obtivessem alguma recompensa pelas guerras travadas. Por sua vez, Crasso tinha uma verdadeira obsessão pelo Oriente, com suas promessas de grandes tesouros, além de buscar a todo custo convencer o Senado a fazer guerra contra o Império Arsácida,
que sabiamente o Senado sempre negou. A tentativa de incursão nessas terras colocaria fim à vida de Crasso.
Com César eleito cônsul, ele governaria arbitrariamente contra a aristocracia, possuindo um projeto político para si e para Roma muito mais acabado do que Crasso ou Pompeu, tal qual aponta Grimal: “Isso pode ser visto durante seu consulado. Ele quis de fato realizar reformas necessárias de maneira pacífica; ele quis dar terras aos miseráveis, limitar os excessos dos governantes nas províncias; é também a ele que se deve a publicação, pela primeira vez na história, de um jornal de Roma, que comunicava ao público notícias importantes e permitia à opinião pública tomar partido com conhecimento de causa.” (Grimal, p. 112).
O Senado se contorcia de ódio de César e ele tinha clara percepção de que deveria evitar o destino dos Gracos, pois o que aconteceria com ele após seu mandato
como cônsul? Os senadores não iram querer lhe cobrar todas essas medidas com sangue?
Desde a fundação do jornal, César percebeu que o poder de Roma estava em quem controlasse a opinião pública da plebe. Assim, aliou-se a um propagandista brilhante chamado Públio Clódio e seu próximo passo foi eliminar um antigo conhecido e homem tão capaz quanto Públio em conduzir a opinião pública: o ex-cônsul Cícero. Com o exército, Públio, e mais o enorme apelo popular que possuía, conseguiu mandar Cícero para o exílio. Os senadores foram incapazes de perceber que o que estava por trás dessa medida era a enorme sanha de poder inconteste de Júlio César, não movendo uma palha para salvar Cícero.
Ao término do mandato como cônsul, conseguiu para si o governo da Gália, que lhe garantia um enorme exército dividido em várias legiões. Ele sabia que se derrotasse o último foco da resistência gaulesa, voltaria para Roma carregado nos braços de seus soldados e ovacionado pela plebe.
A guerra da Gália
A Gália é um território que hoje compreende parte da França, Bélgica e Suíça. Ela não era um estado centralizado como Roma, era dividida em pequenas tribos com um líder, podendo essas tribos variar de tamanho significativamente. Os gauleses foram retratados de maneira vívida nos célebres personagens de um quadrinho francês chamado Obelix e Asterix.
Foi ali que Júlio César demonstrou toda sua perícia bélica. Apesar de a Guerra da Gália ter sido batizada com esse nome, ela não foi propriamente uma guerra,
Às vezes nos esquecemos que somos humanos e sem perceber passamos por cima de nossos próprios sentimentos!
Por que as estrelas não brilham mais como antigamente! Será que é por que nossos pensamentos malignos estão ofuscandoas!
mas uma série de batalhas e incursões que César fez durante seis anos até ter conquistado toda a Gália.
O primeiro elemento que Júlio buscou antes de qualquer coisa foi conquistar a fidelidade de seus legionários. Vestia-se com um manto vermelho para sempre ser facilmente identificado na batalha e buscou dividir o butim com seus soldados da maneira mais igualitária. Os seus legionários tinham um fidelidade canina a Júlio César.
Outro elemento que César explorou foi o fato de os gauleses serem divididos em tribos, aproveitando-se das rivalidades entre eles para conseguir aliados dentro do povo que procurava dominar. Além disso, após mostrar para as tribos germânicas que conseguia atravessar o Reno com a edificação de uma ponte espantosamente construída no espaço de 10 dias para atravessar mais de 40 mil soldados, conquistou o apoio destes bárbaros, que preferiam não ter que enfrentar a legião de César.
Porém, os motivos torpes que levaram César a atacar os gauleses levariam várias tribos a se organizarem sob o comando de um líder chamado Vercingetorix, que conseguiu infringir a primeira derrota às legiões de Cesar, capturando-as e migrando com seus 80 mil soldados para Alésia. Ali, em 52 a.c., foi empreendida a mais fantástica tática de cerco de toda Antiguidade, um exemplo das estratégias militares e da inteligência e genialidade de Júlio César.
César dessa vez estava preparado para as tropas gaulesas. Mandou seus engenheiros cavarem fossas, prepararem armadilhas e assim cercarem Vercingetorix para que ele não pudesse sair de onde estava com suas tropas, consumindo seus recursos e o levando a um desgaste