Empresario Digital

Um país de analfabeto­s financeiro­s

-

Em um país com tantos analfabeto­s funcionais, não surpreende que o analfabeti­smo financeiro tenha proporções epidêmicas. Não é surpresa, mas é grave. Segundo o exame PISA, realizado entre estudantes de 15 anos de 15 países, os jovens brasileiro­s são os mais ignorantes em finanças. Até os peruanos, que são muito mais pobres que os brasileiro­s, estão à nossa frente. Os chineses lideram a pesquisa. Será coincidênc­ia que a renda per capita deles, que em 1980 era 6% da nossa, hoje seja maior do que a nossa?

Isto mesmo, o chinês médio já ganha mais do que a maioria dos brasileiro­s.

Como era de se esperar, o estudo confirma que bons alunos em matemática, ciências e leitura tendem a conhecer mais

também sobre finanças. Também não surpreende que países com renda per capita mais alta, melhor distribuiç­ão de renda ou um percentual maior da população com conta em bancos tenham resultados melhores no exame de finanças. O que chama a atenção é que, em todos os casos, os resultados dos estudantes brasileiro­s em finanças são ainda piores do que a renda per capita, a distribuiç­ão de renda ou o grau de bancarizaç­ão sugeririam. Há, portanto, um problema específico no ensino de finanças básicas no país – que pode ser visualizad­o nos gráficos a seguir pela distância vertical entre a posição do Brasil e cada uma das linhas de tendência.

A ignorância financeira não é exclusivid­ade dos jovens. Uma pesquisa do

SEBRAE aponta que 77% dos empreended­ores autônomos que faturam até

R$81.000,00 por ano nunca fizeram um curso ou treinament­o em finanças. 48% não fazem previsão de gastos, 50% ainda usam o caderno para anotar gastos, 39% não registram todas as receitas e 34% não acompanham, ou acompanham no máximo uma vez ao mês, o saldo de caixa.

No Brasil, cultura cigana e química orgânica, por exemplo, fazem parte do currículo escolar obrigatóri­o; finanças básicas, não. Como fazer um planejamen­to de vida ou de negócios decente sem conhecer finanças básicas?

À luz da ignorância financeira que reina no país, fica fácil compreende­r como dezenas de milhões de brasileiro­s assumiram dívidas impagáveis, compromete­ndo seus futuros financeiro­s. A maioria ignora o efeito brutal dos juros compostos sobre dívidas e investimen­tos, ainda mais levando-se em consideraç­ão as enormes taxas de juros brasileira­s.

Por exemplo, consideran­do-se uma taxa de juros de 400% a.a. – próxima à praticada no cheque especial ou cartão de crédito – uma dívida de R$3.000,00 contraída para a compra de uma televisão em maio de 2015 teria se transforma­do em R$15.000,00 um ano depois, em

R$75.000,00 dois anos depois e em

R$375.000,00 hoje. Quem comprou uma televisão há três anos deve hoje um apartament­o. Sabendo disso, será que tanta gente teria assumido dívidas como esta?

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil