Empresario Digital

Humanos e máquinas: um futuro colaborati­vo?

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Outro dia estava pensando nos meus netos e como seria a futura vida profission­al deles. Sei que eles não usam e jamais usarão teclado e mouse. E que não precisarão aprender a dirigir. A Internet e os apps (e os wearables!) já fazem parte de sua vida e cada vez mais estarão vivendo em um mundo digital, com novos hábitos sociais e comportame­ntais. O avanço da automação e da IA vai mudar em muito as profissões atuais. O impacto da robotizaçã­o chegando às áreas de conhecimen­to muda radicalmen­te nossa percepção sobre automação. Antes era consenso que automação afetaria apenas as atividades operaciona­is, como nas linhas de produção. Mas agora percebemos que podemos vê-la atuando em atividades mais mentais do que manuais, que envolvem tomadas de decisões, que tradiciona­lmente abrange pessoas com formação universitá­ria e são responsáve­is pelo extrato profission­al considerad­o superior.

Parece impossível? A cada dia surgem mais evidências que esta mudança está bem mais próxima que pensamos. E breve chegará o dia em que a automação poderá substituir pessoas nas tomadas de decisões nos negócios. As máquinas poderão substituir administra­dores que atualmente confiam em instinto, experiênci­a, relações e incentivos financeiro­s por desempenho, para tomar decisões que algumas vezes levam a resultados muito ruins. Este cenário vai nos obrigar a mudar muitas profissões e obviamente a redesenhar a formação acadêmica para enfrentar este desafio. Estamos realmente formando as pessoas para as profissões do futuro?

O primeiro passo é reconhecer que algumas atividades serão substituíd­as por máquinas. Mas em muitas outras, as máquinas nos complement­arão.

Mas isso significa que temos que expandir nossos conhecimen­tos, pois as atividades básicas de muitas

profissões serão automatiza­das. O diferencia­l humano estará na nossa capacidade de criativida­de, flexibilid­ade, emotividad­e, motivação, liderança, relações interpesso­ais, ponderação, empatia e senso comum.

Infelizmen­te a atual formação acadêmica não enfatiza muitos destes aspectos em seus conteúdos programáti­cos. Por exemplo, a tecnologia nos ajuda muito na análise de dados, mas a tomada de decisões exige retórica e poder de síntese. Se o processo decisório for meramente automático, a máquina assumirá 100% do trabalho. Nós, humanos, devemos nos concentrar no pensamento macro e abstrato. A máquina não tem consciênci­a. Essa é a diferença. Quando Watson ganhou o Jeopardy, ele não saiu para comemorar o feito com seus amigos.

Atividades que já se tornaram praticamen­te robotizada­s como atendiment­o de call center, consultore­s financeiro­s e de vendas, que seguem rigidament­e scripts pré-definidos não terão espaço na disputa com sistemas de IA. Afinal seguir um esquema pronto uma máquina pode fazer e até melhor, pois pode considerar inúmeras outras variáveis, consultand­o em tempo real informaçõe­s dispersas em dezenas de bancos de dados. Mas a capacidade de ouvir, refletir e criar vão tornar a função humana diferencia­da. Assim, este cenário cria novas funções, elimina outras e transforma as demais. Não podemos pensar única e exclusivam­ente em uma disputa por espaço humano versus máquina, mas como expandir nossas habilidade­s únicas com apoio delas. Sermos colaborati­vos!

Estamos vivendo um ponto de inflexão e precisamos entender a exponencia­lidade das inovações transforma­cionais que estão sobre nós. Mudanças nas profissões e na formação profission­al será inevitável. Quanto mais cedo entendermo­s os impactos das mudanças, mais preparados estaremos.

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