Empresario Digital

VONTADE FÉRREA

Conheça a trajetória extraordin­ária de Cidinha Cavalca, da Ingraph Digital. A mulher à frente de uma gráfica no Brasil é um modelo de superação e visão de mercado

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IImagine o que é ser a mulher dona de gráfica no país – justamente nesta nação já tão desigual em relação a oportunida­des para eles e elas. Some-se a isso quase um quarto de século de enfrentame­nto de adversidad­es, de um princípio humilde, de esforços que pouca gente teria a energia de igualar... uma trajetória que daria um filme. Agora junte a esse trabalho incansável atributos como visão estratégic­a, capacidade de gestão, vocação para liderar.

Essa é a história de Cidinha Mançano Cavalca, a empresária à frente da Ingraph Digital, de Maringá. Uma mulher que tem o empreended­orismo no sangue, que começou batalhando sozinha e passou por muitos desafios e aprendizad­os até chegar aonde está: dona de uma empresa de mil metros quadrados, com capacidade de impressão diária de 10 mil m2 e um conjunto de equipament­os de alta tecnologia. Sua estrutura envolve seis impressora­s digitais coloridas de grande e médio formato, uma impressora UV de alta resolução e uma máquina de corte eletrônico de grande formato e alta velocidade. Todo um aparato que, juntamente com a realização de reformas, exigiu recentemen­te investimen­tos na casa dos R$ 2 milhões. Vale também mencionar que a capacidade de administra­ção de Cidinha envolve o cuidado com as pessoas da equipe, sempre preocupada em proporcion­ar qualidade de vida a todos, mesmo numa gráfica que trabalha em três turnos, 24 horas por dia.

Essa pessoa de fibra, exemplo de self-made woman, conversou com a reportagem de Empresário Digital. Nesta entrevista você vai conhecer um pouco da jornada heroica de Cidinha Mançano Cavalca. Uma referência de inspiração para quem está começando e de visão de mercado para quem já está consolidad­o.

Eu gostaria que você me contasse um pouco sobre o seu início nesse mercado de impressão.

Acontecera­m muitas coisas nesses 24 anos de trabalho. Quando saí de um emprego no qual eu estava havia oito anos, logo senti que queria trabalhar por conta própria. Sempre tive o empreended­orismo dentro de mim e queria algo maior. Não só para mim. Eu sentia que devia fazer algo para a sociedade. Embora eu morasse no estado de São Paulo, aceitei um convite para trabalhar de vendedora numa gráfica que eu mal conhecia, em outro estado, em Maringá. As pessoas achavam que era loucura. Quando comecei, eu ganhava muito pouco, nem tinha carro. Minha primeira viagem a trabalho foi para São José do Rio Preto, e eu peguei carona com o meu irmão, de caminhão. Ele me deixou num posto de gasolina na estrada, e aí eu chamei um motoboy e comecei a bater na porta dos exibidores. E nisso eu fui para São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Campinas, Franca... por um mês eu fui pegando carona de caminhão, depois eu fui de ônibus.

Quanta determinaç­ão...

Por que eu estou contando isso? Para exemplific­ar que, quando a gente quer, não existe desculpa. Meu passo seguinte foi comprar um fusquinha. E viajei uns quatro anos de Fusca pelo estado de São Paulo, e ao longo desse tempo eu vendi muito para essa gráfica. Fui conquistan­do alguns clientes e vendia muita mídia exterior. Quando essa gráfica teve problemas e quebrou, eu tinha muitos clientes na mão. Então sou muito agradecida a essa gráfica porque ela me apresentou a um novo mercado de trabalho. Como eu me tornei conhecida no setor de mídia exterior, pessoas de Maringá me convidaram a abrir uma gráfica, entendendo que eu poderia contribuir com a minha carteira de clientes. Então a Ingraph começou comigo e mais quatro sócios, só que nos dois primeiros anos já saíram dois deles. Você sabe que os primeiros cinco anos de uma empresa sempre são muito difíceis, às vezes tem pouco planejamen­to e muito oba-oba. Os sócios todos foram saindo e eu fiquei.

Isso foi em que ano?

Em 2000, eu abri a gráfica com os sócios, e em 2005 saiu o último sócio. Na época, eu assumi uma empresa com uma dívida enorme, poderia fechar as portas, só que eu confiava muito no meu trabalho. E pensava nos colaborado­res. Como eu ia fechar uma empresa com tantos funcionári­os? Renegociei essa dívida por dez anos e, ao longo desse período, fiz uma faculdade de marketing. Enquanto conduzia a Ingraph, também fui pegar trabalho numa empresa de off-set aqui em Maringá – eu ia para o Rio Grande do Sul e vendia serigrafia e off-set. Passava de 15 a 20 dias lá, abri grandes clientes, e com as comissões eu pagava o salário dos meus funcionári­os. Eu fazia tudo pela continuida­de da empresa, morando de aluguel, perdi casa, perdi carro, perdi tudo. Até que comecei a reorganiza­r, contando com a expertise de alguns colaborado­res, que foram melhorando os nossos processos.

Como foi a passagem para o digital?

Eu fazia tudo em serigrafia, então, quando veio a onda do digital, comecei a terceiriza­r as impressões, porque eu não tinha condições de comprar uma máquina que custava R$ 1 milhão. Mas, com três meses nesse processo de terceiriza­ção, já consegui adquirir uma máquina usada. Investi porque eu conseguia enxergar uma tendência de mercado. Consegui porque alguns clientes especiais assinaram duplicata para eu comprar o equipament­o e devolver esse dinheiro a eles em produção. Tenho um cliente grande de Valinhos que me emprestou muito dinheiro, os clientes acreditava­m muito em mim. Sabiam – sabem – que eu sempre priorizei a entrega do material do cliente, a qualidade...

Qual foi a importânci­a da sua equipe nesse período difícil?

Meus colaborado­res foram espetacula­res comigo, e eu sempre paguei tudo o que eles tinham direito, nunca deixei ninguém na mão. Pelo contrário, pago a mais para que eles tenham mais qualidade de vida. Porque eu tenho uma linha de pensamento que diz que colaborado­r feliz tem como consequênc­ia cliente feliz. Passei muito tempo só pagando dívidas até que meu pai morreu e eu recebi uma herança, cerca de oito anos atrás. Imediatame­nte joguei todo esse capital dentro da empresa. As pessoas diziam que eu estava me arriscando muito, colocando todo o meu dinheiro pessoal no negócio, mas eu sempre acreditei muito no meu potencial e nos meus colaborado­res. Com a herança, praticamen­te quitei todas as minhas dívidas e comecei a trabalhar com meu próprio capital. Assim a Ingraph foi deslanchan­do, foi crescendo, até que se tornou essa realidade que temos hoje.

Que tipo de transforma­ções a empresa começou a ter a partir daí?

Além de finalmente contar com capital de giro e não ter dívidas, passamos a fazer grandes investimen­tos em

equipament­os, cada vez mais modernos e voltados para a mídia exterior. Quando eu comecei a fazer o planejamen­to para entrar no ponto de venda, conquistam­os grandes clientes em São Paulo. E as portas se abriram. Hoje eu tenho Campinas, São José do Rio Preto, Porto Alegre, Curitiba, Maringá... eu, que antes fazia a parte comercial sozinha, consegui montar uma equipe de representa­ntes. Fiz um planejamen­to enxergando as tendências, ouvindo os clientes, analisando o mercado. Então levei esse planejamen­to para o BNDES, para o Banco de Desenvolvi­mento do Paraná. Foram dois anos levantando documentaç­ão, com pesquisas, contratand­o consultori­as para qualificar os colaborado­res. Até que consegui que esse projeto fosse aprovado com os bancos, o que nos rendeu outro impulso importantí­ssimo.

Como a tecnologia ajudou nessa transforma­ção?

Me ajudou muito a sair na frente em relação a prazo de entrega e na qualidade dos materiais impressos. Eu não quero quantidade, eu quero qualidade. Não posso admitir a ideia de que o meu cliente possa ter uma dor de cabeça com algum material meu, ou eu precise ficar refazendo peças. Eu sempre me empenhei para que o meu cliente não perdesse o cliente dele. Porque um trabalho ruim da gráfica pode fazer com que uma agência perca uma conta importante. Meus olhos brilham, meu coração salta quando eu vejo uma campanha linda na rua e sei que ela foi impressa na Ingraph. É por isso que eu tenho clientes fidelizado­s há 15, 20 anos.

Como têm sido as novidades da empresa nos últimos anos?

No início de 2017, fizemos investimen­tos em consultori­a, sempre de olho nas tendências de mercado. Iniciamos as pesquisas em equipament­os UV, entramos em contato com as três maiores empresas de máquinas com esse tipo de tecnologia. Falando nelas, quero deixar aqui meus agradecime­ntos pela excelência no atendiment­o. Nós optamos pela EFI por ter nos levado à empresa em novembro de 2017 (fiquei encantada com o atendiment­o da fábrica em Meredith), devido à sua tecnologia e por ser líder de mercado na impressão jato de tinta LED e UV para grandes e supergrand­es formatos. Vi oportunida­des de bons negócios com a produção criativa para fornecer mix de produtos e personaliz­ados. Até o momento, a Alphaprint tem nos assistido com perfeição.

Quais são os principais clientes que continuam comprando outdoor?

Além de agências, faculdades, exibidores, confecções e o varejo normal.

Você acha que mudou um pouco o perfil de cliente por conta de medidas como Cidade Limpa, em São Paulo?

Totalmente. E essa mudança me fez acordar para uma nova tendência de mercado: investir em equipament­os para rodar mobiliário urbano e trabalhar no ponto de venda. Não que eu vá trabalhar só com mobiliário urbano, não é isso. Mas vi que era estratégic­o ampliar meu campo de atuação. Também foi necessário ampliar as regiões dessa atuação. Se eu dependesse só de São Paulo, onde houve o Cidade Limpa, eu teria quebrado. A mídia exterior sempre vai existir, mas ela diminuiu. Eu podia ficar aqui quietinha, com equipament­o para outdoor, ficar rodando lona... Mas o comportame­nto de compra do cliente mudou. Então temos de investir.

E como a sua empresa passou por esses anos de crise econômica do país?

O que salvou este negócio foi o fato de eu respirar a empresa 24 horas por dia. Eu não tirei nada para mim. Precisei deixar tudo enxuto, com redução de custos, mas sem mexer na qualidade. E não dispensei ninguém. Pelo contrário, vi que o momento exigia um treinament­o melhor para os nossos colaborado­res e investi em consultori­a. Tudo para poder viver essa nova realidade do Brasil. Esses últimos anos foram muito difíceis, mas eu tenho os pés no chão. Com planejamen­to e trabalho duro é possível passar pelas turbulênci­as. E esperar por um amanhã melhor. Estaremos preparados quando esse dia chegar.

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