Inclusão da diversidade: da obrigação à convicção
Quando o tema é inclusão e diversidade, a maioria das empresas é desafiada pela obrigação imposta por lei, por metas globais, por pressão da sociedade ou pelos indicadores de ESG. Sempre que uma corporação é motivada por obrigação e não por acreditar que o tema é estratégico para o negócio, as chances de sucesso tendem a ser menores.
É importante desenvolver a cultura de inclusão e diversidade e ‘curar’ as empresas de crenças limitantes, advindas de vieses inconscientes dos seres humanos, e que interferem negativamente nesse processo. Isso sim tem cura, com informação, convivência e representatividade. Tornar o local de trabalho mais inclusivo é responsabilidade de todos. A empresa só conseguirá atingir resultados expressivos e sustentáveis com processos bem desenhados para evoluir sua cultura interna.
É importante quebrar os rótulos equivocados que perseguem os marcadores sociais, como “pessoas com deficiência são incapazes”; “profissionais sêniores são desatualizados e não acompanham a tecnologia”; “profissionais mulheres são frágeis” etc.
Para que a inclusão da diversidade ocorra, é necessário oferecer às pessoas que representam algum marcador social espaço de fala, ambiente seguro psicologicamente, livre de preconceitos e discriminação. É preciso atuar junto à alta liderança, aos gestores, aos profissionais de RH etc. Incluir é ir além da contratação. Na prática, é preciso dar atenção às diferenças dos contratados, proporcionando a eles oportunidades iguais.
Esses profissionais também precisam ser desenvolvidos para que possam trazer, defender e esclarecer as questões relacionadas aos seus lugares de fala com naturalidade, com tom educativo e com parceria. Inclusão se faz COM as pessoas e NÃO para as pessoas! Somos protagonistas do nosso processo de inclusão! A receita é investir no letramento da cultura corporativa e na preparação das representatividades, ou seja, das pessoas representantes dos marcadores sociais.
Por exemplo, as pessoas com deficiência precisam estar preparadas para assumir que têm limitações, assim como os profissionais seniores etc. Se fôssemos todos iguais, se as necessidades, limitações, possibilidades e capacidades de entrega fossem iguais, por que teríamos que promover a inclusão de forma tão consciente? Para promover esse ambiente equalitário é preciso entender que o desenvolvimento não é igual para os diferentes marcadores sociais.
Constantemente, deparo-me com empresas que querem resolver todas as questões de inclusão em uma única consultoria. Essa tentativa de simplificar o que não é simples ocorre quando a inclusão é feita por obrigação. Incluir não é simples, tira a organização da zona de conforto, dá trabalho. A empresa que tenta fazer por obrigação não consegue ‘encarar’ o desafio.
Evoluir a cultura de inclusão da obrigação para a convicção nas empresas é essencial para que alcancem os resultados esperados no tema. Os benefícios chegam a ser imensuráveis. Destaco aqui alguns:
• Mais acesso a talentos, pois concentrando-se em habilidades, ao invés de estereótipos, é possível encontrar novos e melhores talentos;
• Aumento da inovação: profissionais com experiências diversas têm abordagens diferentes para resolução de problemas;
• Mais engajamento e retenção, já que os profissionais que se sentem incluídos têm níveis mais altos de lealdade, produtividade e entusiasmo;
• Melhor reputação, pois os consumidores valorizam empresas com compromisso real de inclusão.
Um estudo recente da McKinsey & Company sobre o estado da diversidade corporativa na América Latina aponta que as empresas da região que adotam a diversidade têm uma probabilidade maior de alcançar uma performance financeira superior à de seus pares que não o fazem.
Isso porque, de acordo com os dados apontados, essas empresas tendem a superar as outras em práticas de negócios com inovação e colaboração, e seus líderes são melhores em promover a confiança e trabalho em equipe. Também costumam ter ambientes mais felizes e melhor retenção de talentos, o que resulta em uma saúde organizacional mais sólida.
A pesquisa da McKinsey mostra que práticas de negócios e comportamentos de liderança eficazes reforçam o vínculo nas empresas da América Latina e sugere que a diversidade é um poderoso capacitador de práticas saudáveis e melhores resultados. Os funcionários de empresas comprometidas com a diversidade desejam permanecer mais tempo e aspiram alcançar níveis mais altos na organização.
Todos se beneficiam de um local de trabalho inclusivo, não apenas os que fazem parte dos marcadores sociais. A diversidade traz um ambiente favorável para encontrar a felicidade essencial no trabalho, que torna seus colaboradores mais produtivos e eficientes.
A maior beneficiada sempre será a humanidade e quando seres humanos ganham, os negócios ganham também. Os resultados só chegam se as estratégias e atitudes para inclusão da diversidade forem intencionalmente legítimas e convictas.