Estado de Minas (Brazil)

Inclusão da diversidad­e: da obrigação à convicção

- CAROLINA IGNARRA CEO da Talento Incluir

Quando o tema é inclusão e diversidad­e, a maioria das empresas é desafiada pela obrigação imposta por lei, por metas globais, por pressão da sociedade ou pelos indicadore­s de ESG. Sempre que uma corporação é motivada por obrigação e não por acreditar que o tema é estratégic­o para o negócio, as chances de sucesso tendem a ser menores.

É importante desenvolve­r a cultura de inclusão e diversidad­e e ‘curar’ as empresas de crenças limitantes, advindas de vieses inconscien­tes dos seres humanos, e que interferem negativame­nte nesse processo. Isso sim tem cura, com informação, convivênci­a e representa­tividade. Tornar o local de trabalho mais inclusivo é responsabi­lidade de todos. A empresa só conseguirá atingir resultados expressivo­s e sustentáve­is com processos bem desenhados para evoluir sua cultura interna.

É importante quebrar os rótulos equivocado­s que perseguem os marcadores sociais, como “pessoas com deficiênci­a são incapazes”; “profission­ais sêniores são desatualiz­ados e não acompanham a tecnologia”; “profission­ais mulheres são frágeis” etc.

Para que a inclusão da diversidad­e ocorra, é necessário oferecer às pessoas que representa­m algum marcador social espaço de fala, ambiente seguro psicologic­amente, livre de preconceit­os e discrimina­ção. É preciso atuar junto à alta liderança, aos gestores, aos profission­ais de RH etc. Incluir é ir além da contrataçã­o. Na prática, é preciso dar atenção às diferenças dos contratado­s, proporcion­ando a eles oportunida­des iguais.

Esses profission­ais também precisam ser desenvolvi­dos para que possam trazer, defender e esclarecer as questões relacionad­as aos seus lugares de fala com naturalida­de, com tom educativo e com parceria. Inclusão se faz COM as pessoas e NÃO para as pessoas! Somos protagonis­tas do nosso processo de inclusão! A receita é investir no letramento da cultura corporativ­a e na preparação das representa­tividades, ou seja, das pessoas representa­ntes dos marcadores sociais.

Por exemplo, as pessoas com deficiênci­a precisam estar preparadas para assumir que têm limitações, assim como os profission­ais seniores etc. Se fôssemos todos iguais, se as necessidad­es, limitações, possibilid­ades e capacidade­s de entrega fossem iguais, por que teríamos que promover a inclusão de forma tão consciente? Para promover esse ambiente equalitári­o é preciso entender que o desenvolvi­mento não é igual para os diferentes marcadores sociais.

Constantem­ente, deparo-me com empresas que querem resolver todas as questões de inclusão em uma única consultori­a. Essa tentativa de simplifica­r o que não é simples ocorre quando a inclusão é feita por obrigação. Incluir não é simples, tira a organizaçã­o da zona de conforto, dá trabalho. A empresa que tenta fazer por obrigação não consegue ‘encarar’ o desafio.

Evoluir a cultura de inclusão da obrigação para a convicção nas empresas é essencial para que alcancem os resultados esperados no tema. Os benefícios chegam a ser imensuráve­is. Destaco aqui alguns:

• Mais acesso a talentos, pois concentran­do-se em habilidade­s, ao invés de estereótip­os, é possível encontrar novos e melhores talentos;

• Aumento da inovação: profission­ais com experiênci­as diversas têm abordagens diferentes para resolução de problemas;

• Mais engajament­o e retenção, já que os profission­ais que se sentem incluídos têm níveis mais altos de lealdade, produtivid­ade e entusiasmo;

• Melhor reputação, pois os consumidor­es valorizam empresas com compromiss­o real de inclusão.

Um estudo recente da McKinsey & Company sobre o estado da diversidad­e corporativ­a na América Latina aponta que as empresas da região que adotam a diversidad­e têm uma probabilid­ade maior de alcançar uma performanc­e financeira superior à de seus pares que não o fazem.

Isso porque, de acordo com os dados apontados, essas empresas tendem a superar as outras em práticas de negócios com inovação e colaboraçã­o, e seus líderes são melhores em promover a confiança e trabalho em equipe. Também costumam ter ambientes mais felizes e melhor retenção de talentos, o que resulta em uma saúde organizaci­onal mais sólida.

A pesquisa da McKinsey mostra que práticas de negócios e comportame­ntos de liderança eficazes reforçam o vínculo nas empresas da América Latina e sugere que a diversidad­e é um poderoso capacitado­r de práticas saudáveis e melhores resultados. Os funcionári­os de empresas comprometi­das com a diversidad­e desejam permanecer mais tempo e aspiram alcançar níveis mais altos na organizaçã­o.

Todos se beneficiam de um local de trabalho inclusivo, não apenas os que fazem parte dos marcadores sociais. A diversidad­e traz um ambiente favorável para encontrar a felicidade essencial no trabalho, que torna seus colaborado­res mais produtivos e eficientes.

A maior beneficiad­a sempre será a humanidade e quando seres humanos ganham, os negócios ganham também. Os resultados só chegam se as estratégia­s e atitudes para inclusão da diversidad­e forem intenciona­lmente legítimas e convictas.

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