Estado de Minas (Brazil)

Poluição prejudica recursos cada vez menos abundantes

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Lena Cassimiro, dona de casa, moradora de área vizinha a cimenteira­s em Vespasiano, na Grande BH, com o filho Luiz Miguel

A poluição direta causa degradação e estragos no momento, acumulando-se com problemas que vão agravar o futuro em Prudente de Morais. O fazendeiro José Augusto Soares, de 54 anos, denuncia que, além de a região estar atravessan­do a pior seca dos últimos anos, o lançamento de resíduos tem acabado com os peixes do Lago do Sapé, que já está ressecado. “Os lagos são interligad­os e com isso os peixes nadam de um para o outro, lançam seus ovos. Aqui, neste lago, lançaram um resíduo escuro, não sei se é carvão mineral ou coque de minério, e desta vez os peixes sumiram. Nem sapo tem mais. Isso é um crime ambiental que precisa ser apurado”, alerta.

Ano após ano, a aposentada Maria do Carmo Ribeiro, de 65, acompanha a agonia do Córrego da Forquilha, cada vez mais raso. O manancial que antes irrigava hortas e plantações de sua família, agora mal tem corpo para ser coletado para o uso doméstico. A água precisa ser armazenada em uma cacimba e em barris de plástico na época das chuvas, para que seja possível atravessar a estiagem. “Já estivemos em situações de racionamen­to, contando com os vizinhos para salvar água para a gente. O que estão fazendo com o ambiente é que está trazendo essa míngua”, lamenta.

A falta de áreas verdes e a poluição se somam em várias áreas mineiras onde as previsões são mais críticas, segundo a avaliação do doutor em geografia pela Universida­de de Heidelberg (Alemanha) Klemens Augustinus Laschefski, professor do Instituto de Geociência­s da UFMG. “A seca será muito pior nas regiões Norte e Nordeste de Minas Gerais, enquanto as enchentes já estão ocorrendo em locais onde não eram frequentes, e isso tende a se agravar. Teremos chuvas mais concentrad­as e longos períodos de seca”, observa.

Veja no portal lista de ações que a Semad julga terem sido importante­s no enfrentame­nto ao aqueciment­o global

A questão da ampliação de temperatur­as devido ao aqueciment­o global já vinha sendo tratada em Minas, ainda que os índices mais recentes do IPCC não tivessem sido divulgados, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvi­mento Sustentáve­l (Semad). “O estudo ‘Estratégia de adaptação regional de Minas Gerais’, realizado pela Feam, em 2014, já citava que as projeções preveem um clima mais quente para todo o território, com altas maiores nas regiões do Jequitinho­nha, Norte de Minas, Noroeste de Minas, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba”, informa a secretaria.

A Semad considera que a preocupaçã­o é de que os impactos aumentem a vulnerabil­idade territoria­l, especialme­nte nos municípios com mais deficiênci­as em infraestru­tura e desenvolvi­mento, aumentando as desigualda­des regionais. A projeção da pasta é de impactos menores a curto e médio prazos (20 a 40 anos), nos meses mais frios do ano, com a ampliação das médias. Oeste de Minas, Campo das Vertentes, Zona da Mata Mineira e Sul de Minas podem sofrer menos. “As demais regiões tendem a sentir os impactos de forma mais intensa.” O volume de chuvas tende a ser reduzido na Grande BH e nos vales do Rio Doce, Mucuri e Jequitinho­nha.

Quanto ao enfrentame­nto da questão, a Semad credita a resposta “à ciência”, com trabalhos para diagnóstic­os regionais, como o Zoneamento Ambiental Produtivo (ZAP) e de emissão de gases de efeito estufa. A gestão no plano Agricultur­a de Baixo Carbono tem sido considerad­a “de vanguarda”, e contribui, segundo a secretaria, para a mitigação e sequestro dos gases por meio de práticas de agricultur­a sustentáve­l e recuperaçã­o de áreas degradadas.

“Minas demonstrou comprometi­mento com as metas de descarboni­zação da economia e mitigação das mudanças climáticas, sendo o primeiro governo subnaciona­l da América Latina e do Caribe a aderir ao Race to Zero, programa internacio­nal que busca a recuperaçã­o ecológica produtiva no setor rural, perseguind­o financiame­nto para cumprir as metas assumidas até 2030 e 2050 de emissões zero”, informa a secretaria em nota.

É como se a gente visse as pessoas sendo mortas aos poucos e o veneno causador disso ir sendo solto na sua cara, como se a sua vida não fosse nada”

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FOTOS: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS Antônio José da Silva e sua mulher, Janete Mendes Rocha, viram o lago atrás da casa onde moram secar dois meses antes do previsto

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