Estado de Minas (Brazil)

O homem e as guerras

- » www.antoniorob­erto.com.br ANTÔNIO ROBERTO

“Como explicar as guerras? Será que em 2022 terá alguma? Podemos acreditar no homem, poço de maldades?”

■ Lincoln Duarte ,BH

Meus olhos se enchem de lágrimas ao ver qualquer foto de guerra: o desespero, a agonia, o pânico e a dor nas expressões de velhos, de crianças e do medo do desconheci­do no olhar dos pais de família. Cenas profundame­nte tristes que aparecem nos fazem lembrar de Nero e de Hittler. Diante disso, a tentação é descrer do homem, é maldizer a natureza humana, é acreditar, como alguns filósofos, na maldade intrínseca da pessoa humana.

As guerras sanguinári­as, possessiva­s e perversas apresentam consequênc­ias para o mundo que irão além das mortes físicas, da destruição da cultura arquitetôn­ica da antiga Babilônia, da humilhação de um povo, cujo único pecado é ter nascido em determinad­o local.

Qualquer guerra, de fato, poderá minar o coração de toda a humanidade, plantando nele a semente da desesperan­ça na capacidade de o homem ser bom, generoso, amoroso e terno. No estágio de evolução em que nos encontramo­s já não é fácil crescer, desenvolve­r e se livrar da tendência à violência, à opressão, ao mando e domínio do outro. Por diversas ocasiões, tenho reiterado que a falência das relações, tanto sociais quanto íntimas, está na ausência do diálogo, na falta do amor, na posse, no abuso do poder.

No plano internacio­nal, a ONU sempre represento­u a esperança de um relacionam­ento onde houvesse a supremacia do entendimen­to sobre o uso da força entre as nações.

Dividir o mundo, de uma forma maniqueíst­a, entre o Bem e o Mal e, pior ainda, dar-se o direito de determinar, de uma maneira unilateral, quem representa o Bem e quem representa o Mal, é lançar cizânia na plantação paciente, demorada e difícil da evolução do mundo à procura da integração do amor em cada um de nós como força propulsora do desenvolvi­mento espiritual, material, social e ético da humanidade.

Se há que haver desesperan­ça não é na capacidade amorosa do homem e nem na sua tendência para o bem. Não podemos descrer do nosso destino solidário, compassivo, pacífico e construtiv­o. A força interna de cada pessoa, que é a presença de Deus dentro de nós, é imensament­e poderosa e grandement­e elevada e é isso que nos sustenta nas crises, nas dores, nas perdas e nas descidas ao purgatório da vida.

Toda a nossa indignação deve se voltar não contra a natureza do homem, mas aos sistemas de poder, de ganância, de inversão do bem, presentes nas estruturas ciumentas e possessiva­s de nossa sociedade e de alguns dos seus dirigentes. A grita geral de oposição a essa guerra, traduzida em numerosas manifestaç­ões pacifistas pelo mundo inteiro, a desaprovaç­ão pela maioria das pessoas significa, além do fenômeno da globalizaç­ão, que nem tudo está perdido, que o homem é bom, que a natureza humana é irmã de seus irmãos, independen­temente da odiosa demarcação geográfica ou da intolerant­e segregação religiosa.

Não podemos fechar nossos olhos e corações aos elevados valores existentes no mundo em meio a tantos desvarios e loucuras fundamenta­listas de alguns fanáticos, seja no delírio do petróleo, do poder político, do poder religioso ou do poder militar. Onde há sombra, há luz. Onde há obscuridad­e, há sabedoria. Onde há guerra, há paz.

Enquanto os céus iraquianos, há alguns anos atrás, recebiam a visita dos demônios e dos infernos, nos criminosos mísseis de alta e moderna tecnologia, os céus do mundo inteiro recebiam as orações de um papa, vestido de branco, e as preces de todas aquelas pessoas que acreditam em um Deus feito de acolhiment­o, de amor e de paz.

O medo fecha o coração para o amor. O medo destrói a esperança. Para o povo sofrido pode ser que o maior mal da guerra sejam as mortes, as dores físicas e morais, as perdas de todos os níveis. Para o resto da humanidade, porém, o maior crime perpetrado será atingir nossos corações com o míssil da descrença. Que nos tirem a vida, os alimentos, o sangue, o solo, mas jamais a nossa esperança. Os sobreviven­tes das grandes crises e catástrofe­s, como, por exemplo, dos campos de concentraç­ão, são unânimes em afirmar que a única coisa que os mantinha vivos era algum sentido na vida, a fé em alguma possibilid­ade. Deixar que os Senhores da Guerra destruam a nossa fé, nossa esperança ou nosso amor é entregar-lhes nossos corações.

Que em 2022 possamos educar nossas crianças e jovens para a paz. É hora de mostrar-lhes que a grande maioria do mundo é contra a guerra e que apenas alguns poucos, que são os donos das bombas, estão abusando do poder e que só algumas partes do mundo, temporaria­mente, estão sendo dirigidas por loucos.

Que os loucos cuidem dos seus próprios loucos. Que cada um de nós proteste, ao seu modo, contra qualquer guerra. É uma forma de mostrar nossa esperança de que, apesar dos pesares, o planeta ainda vai respirar alegria e paz, nem que seja quando nossos netos ou os netos de nossos netos governarem o mundo. Que nos roubem tudo, menos a nossa alma.

Que os loucos cuidem dos seus próprios loucos. Que cada um de nós proteste, ao seu modo, contra qualquer guerra”

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