Estado de Minas (Brazil)

Ex-ministros e parlamenta­res criticam

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O gesto do presidente Jair Bolsonaro de pedir o impeachmen­t do ministro do STF Alexandre de Moraes foi reprovado por 10 ex-ministros da Justiça e da Defesa, em um comunicado enviado ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEMMG). Assinaram o texto Raul Jungmann, ministro da Defesa do ex-presidente Michel Temer (MDB); José Eduardo Cardozo e Eugênio Aragão, ministros da Justiça da ex-presidente Dilma Rousseff (PT); Celso Amorim e Jaques Wagner, ministros da Defesa de Dilma; Tarso Genro, ministro da Justiça do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); e Miguel Reale Júnior, José Gregori, Aloysio Nunes Ferreira e José Carlos Dias, ministros da Justiça do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

No documento, os ex-ministros alertam o presidente do Senado de que, “em face da evidente atipicidad­e da conduta e da tentativa de se instrument­alizar esta Casa do Legislativ­o, para tumultuar o regime democrátic­o, é imperioso dar de plano fim a esta aventura jurídico-política, pois o contrário seria sujeitar o nosso Judiciário a responder a um processo preliminar no Senado Federal para atender a simples capricho do presidente, que vem costumeira­mente afrontando as linhas demarcatór­ias da Constituiç­ão”.

Eles ainda destacam que “essa aventura política, que visa perenizar uma crise institucio­nal artificial­mente criada, deve ser coartada em seu nascedouro”. “Eventual seguimento do processo surtirá efeitos nocivos à estabilida­de democrátic­a, de vez que indicará a prevalênci­a de retaliação a membro de nossa Corte Suprema, gerando imensa inseguranç­a no espírito de nossa sociedade e negativa repercussã­o internacio­nal da imagem do Brasil”, ponderam os ex-ministros.

No Legislativ­o, a atitude de Bolsonaro não foi bem-vista. Vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM) comentou que “o presidente usa o pedido de impeachmen­t como instrument­o recursal para contestar as decisões do ministro, o que é absolutame­nte incabível”. Para o deputado, as razões apresentad­as pelo presidente não sustentam a elaboração de um pedido de impeachmen­t.

“A alegação de que o ministro proferiu julgamento na causa em que é suspeito é descabida porque não configurad­as as hipóteses de suspeição, que são aquelas listadas na lei. A alegação de quebra de decoro por atentar contra a liberdade de expressão nem merece maior reflexão, posto que não pode o indiciado alegar quebra de decoro por conta do seu indiciamen­to”, observou. “A fragilidad­e técnica da peça do pedido de impeachmen­t deixa claro que nessa atitude está apenas o desejo de criar uma nova bandeira mobilizado­ra para sua militância, após a derrota do voto impresso”, completou Ramos.

Para a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), “o pedido de impeachmen­t de Alexandre de Moraes tem pouquíssim­a chance de ser aprovado”. “Os ataques ao ministro devem-se à sua atuação rigorosa no combate às fake news, que tanto afetam a democracia. O presidente tensiona ainda mais as relações e caminha a passos largos para a ingovernab­ilidade.”

Relator da CPI da COVID-19, Renan Calheiros (MDB-AL) pontuou que “nunca se viu nas democracia­s um desvario igual ao de Bolsonaro ao propor o impeachmen­t do ministro Alexandre de Moraes”. “O ataque é a gota d’água para os democratas. Não há diálogo com quem só ambiciona o confronto. Obviamente, o pedido não prosperará e tem meu voto antecipado: não”, destacou.

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