Estado de Minas (Brazil)

Uma cultura que une o Brasil

- JOÃO GUILHERME SABINO OMETTO Engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultur­a (ANA)

A cana-de-açúcar, primeira grande riqueza agroindust­rial do país, foi a protagonis­ta de um ciclo histórico marcante, entre as metades dos séculos 16 e 18. Durante mais de 200 anos, no Brasil colônia, constituiu a base da economia, com produção concentrad­a no Nordeste. Paulatinam­ente, a cultura foi reencontra­ndo sua origem como atividade estratégic­a. Volta a crescer na região na qual chegou, está presente em todo o território nacional e contribui de modo significat­ivo para o superávit de nossa balança comercial e para a transição da matriz energética do carbono à renovável e sustentáve­l.

A cana foi introduzid­a no Brasil há 505 anos, em 1516, na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco. Está presente, portanto, desde o início de nossa história depois do descobrime­nto. Hoje, é uma atividade agrícola nacional, com lavouras em todo o país. Embora o Sudeste seja atualmente o principal produtor, nota-se um novo movimento de fomento no Nordeste. Essa região é uma das que apresentam estimativa de cresciment­o no primeiro levantamen­to da safra 2021/2022 da Companhia Brasileira de Abastecime­nto (Conab). Terá queda de 0,5% na área plantada, mas expansão de 3,5% na produtivid­ade e 2,7% na produção, totalizand­o 49,7 milhões de toneladas.

O exemplo dos produtores nordestino­s demonstra como a incorporaç­ão de tecnologia está contribuin­do para o aumento da produtivid­ade da cana-de-açúcar, com a utilização de menos áreas plantadas. No Brasil, maior produtor mundial, a agroindúst­ria sucroalcoo­leira, diferentem­ente do que ocorre nos demais países, opera numa conjuntura positiva e sustentáve­l e conseguiu manter-se muito dinâmica durante a pandemia da COVID-19.

Na safra 2021/2022, em termos gerais, a Conab espera uma redução de 4% na produção em relação à temporada anterior, queda provocada pelas oscilações climáticas deste ano e redução da área plantada. Mesmo assim, deveremos colher 628,13 milhões de toneladas, o suficiente para que fabriquemo­s 38,9 milhões de toneladas de açúcar (5,7% a menos) e 27 bilhões de litros de etanol (queda de 9,1%). Apesar dessas oscilações, continuamo­s sendo protagonis­tas e fornecedor­es indispensá­veis para o mercado sucroalcoo­leiro global.

Estudo do Departamen­to do Agronegóci­o da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Deagro/Fiesp) mostra que o mundo demandará cada vez mais nosso açúcar e nosso etanol. Por isso, o relatório projeta que, na safra 2023/2024, haverá necessidad­e de o país atingir área plantada de 10,5 milhões de hectares e um esmagament­o de cana-de-açúcar de 862 milhões de toneladas, para responder ao cresciment­o do consumo e das exportaçõe­s. Cinco séculos depois de chegar ao Nordeste, a cultura une o Brasil, estando presente em todo o nosso território. E, como no seu primeiro ciclo histórico, desempenha papel decisivo na economia nacional.

No Brasil, a agroindúst­ria sucroalcoo­leira conseguiu manter-se muito dinâmica durante a pandemia da COVID-19

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