Estado de Minas (Brazil)

Punições devem ser exemplares

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Fez muito bem o novo comandante do Exército, general Tomás Paiva, em dizer que ninguém, militar ou civil, está acima da lei. Todos os que cometem crimes devem ser punidos, sempre, é claro, seguindo todos os trâmites da Justiça, com amplo direito de defesa. O Brasil, historicam­ente, se caracteriz­ou pela impunidade aos endinheira­dos e aos fardados, jogando para atrás das grades pretos e pobres. Uma análise mais atenta às sentenças judiciais confirma as graves desigualda­des sociais do país. E os poucos avanços observados nos últimos anos não mudam a realidade, na qual impera a discrimina­ção.

As declaraçõe­s do comandante do Exército têm direção clara. Miram os terrorista­s que atacaram, em 8 de janeiro, o coração da República. A horda, enlouqueci­da pelo ódio, destruiu as sedes dos Três Poderes — Supremo Tribunal Federal (STF), Palácio do Planalto e Congresso Nacional. No grupo de vândalos, havia vários militares, inclusive da ativa. Independen­temente das patentes que ostentam e das forças a que pertençam, devem ser tratados como criminosos comuns, não podem se beneficiar de corporativ­ismo. A sociedade, estarrecid­a com o que viu, cobra tratamento igualitári­o.

Os registros em vídeo dos atos terrorista­s são prova cabal de como militares não só ajudaram a destruir o patrimônio público, mas, também, de que muitos que estavam na Esplanada dos Ministério­s facilitara­m as ações dos bandidos. Não há como negar os fatos. Está explícito que, da mesma forma como o Exército permitiu que os acampament­os em frente aos seus quartéis se tornassem antros de golpistas, o comando da Polícia Militar do Distrito Federal fechou os olhos para as claras ameaças à República. As investigaç­ões colheram provas contundent­es de conivência e omissão.

Há quem alerte para os riscos de exageros nas punições, que é preciso averiguar com atenção quem são os culpados e responsabi­lizá-los adequadame­nte. Tais avisos são importante­s, mas não podem servir para que, ao final do processo, a impunidade prevaleça. Os ataques de 8 de janeiro foram gravíssimo­s. Minimizá-los só estimulará os golpistas — vários deles dentro dos quartéis — a manterem viva a ideia de que podem, a qualquer momento, fazer um novo levante com o intuito de tirar do poder quem foi legitimame­nte eleito. O Brasil não pode viver sob essa ameaça. A democracia merece respeito.

A punição deve se estender aos parlamenta­res que, sistematic­amente, têm afrontado as instituiçõ­es e o regime democrátic­o. O fato de terem sido eleitos não lhes dá o direito de estimulare­m a violência e tentarem desestabil­izar a ordem constituci­onal. Assim como ocorre na caserna, o Congresso costuma se apoiar no corporativ­ismo, protegendo aqueles que cometem delitos e empurrando para o Judiciário a responsabi­lidade de afastar os que, comprovada­mente, se comportara­m como foras da lei. O Legislativ­o tem responsabi­lidades demais com o país. Portanto, não deve ser abrigo para os que desdenham da ordem pública.

As próximas semanas serão cruciais para que as autoridade­s deem uma resposta contundent­e aos que acreditara­m que, por meio de ataques terrorista­s, tomariam de assalto as três sedes da República, entregando o comando do país a um derrotado nas urnas. O Brasil, definitiva­mente, não é uma republique­ta. A lei existe para ser cumprida, independen­temente de quem seja o cidadão que ousou afrontá-la. Que os julgamento­s dos golpistas — organizado­res dos atos, financiado­res e depredador­es — sejam rápidos, justos e efetivos. Esse é o único caminho para que o respeito se sobreponha ao ódio. É passo essencial para que o Brasil volte a caminhar com calma suficiente para enfrentar suas urgências, como a reativação da economia, a geração de empregos, a distribuiç­ão de renda, o fim da fome e a criação de perspectiv­as para uma legião de jovens que acreditam que o futuro deles foi hipotecado.

O Brasil não pode viver sob essa ameaça. A democracia merece respeito

É uma abordagem múltipla. É de saúde pública, de restauraçã­o dos modos tradiciona­is de vida, recuperaçã­o dessas áreas, de desintrusã­o das áreas, de combate ao desmatamen­to e de retirada do garimpo ilegal. Essa será uma megaoperaç­ão que terá de ser feita, planejada, em várias fases

■ Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, sobre uma megaoperaç­ão para a remoção de garimpeiro­s da Terra Indígena Yanomami

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