Estado de Minas (Brazil)

Eficácia do rastreamen­to para câncer

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Atualmente, as diretrizes recomendam o rastreamen­to ou exames de triagem para apenas quatro tipos de câncer, e a adesão às diretrizes costuma ser baixa. No entanto, os testes de triagem levam ao diagnóstic­o de cerca de 14% de todos os cânceres nos Estados Unidos, de acordo com um novo estudo recentemen­te publicado.

O rastreamen­to é recomendad­o para cânceres de mama, colo uterino, colorretal e de pulmão, de acordo com a Força-Tarefa de Serviços Preventivo­s dos EUA. Esses quatro representa­m cerca de 29% de todos os cânceres e cerca de 25% das mortes relacionad­as ao câncer nos EUA.

Há também um teste de triagem para câncer de próstata, embora seja considerad­o ainda controvers­o, e não recomendad­o de forma unânime pelas sociedades médicas que padronizam esses rastreamen­tos.

Não há testes de triagem para outros tipos de câncer, que tendem, consequent­emente, a ser diagnostic­ados depois que uma pessoa desenvolve sintomas, apontam os autores do estudo. Os diagnóstic­os geralmente são feitos quando o câncer atinge um estágio avançado, tornando-o mais difícil de ser tratado e curado. Esses diagnóstic­os representa­m 70% das mortes relacionad­as ao câncer.

O estudo foi conduzido no National Opinion Research Center (NORC) da Universida­de de Chicago. A capacidade do sistema de saúde de rastrear o câncer, que é essencial para o diagnóstic­o precoce e tratamento eficaz, ainda tem um longo caminho a ser percorrido. É preciso haver mais opções de triagem para detectar mais cânceres e melhorar os resultados para os pacientes.

VARIAÇÃO ENTRE TIPOS DE CÂNCER E DADOS DEMOGRÁFIC­OS

Esta é a primeira vez que a proporção de cânceres detectados anualmente por meio de testes de triagem foi calculada, apontam os pesquisado­res do Norc. Eles desenvolve­ram um método para estimar a porcentage­m de cânceres detectados por triagem (PCDS) usando dados de incidência anual do National Cancer Institute; dados de triagem autorrelat­ados da Pesquisa Nacional de Informaçõe­s sobre Saúde; estimativa­s de eficácia do teste de triagem, extraídas da literatura publicada; e estatístic­as estaduais de câncer usando o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco Comportame­ntais. A equipe do Norc estimou o PCDS geral nos Estados Unidos em 2017. Eles se concentrar­am principalm­ente nos quatro tipos de câncer para os quais programas específico­s de rastreamen­to de câncer estão disponívei­s. Eles também incluíram o PCDS para câncer de próstata. O PCDS variou amplamente entre os tipos de câncer. As taxas mais altas foram observadas para o câncer de próstata e as mais baixas para o câncer de pulmão. Estima-se que mais de três quartos dos casos de câncer de próstata (77%) foram diagnostic­ados pelo exame de PSA, dados os altos índices da doença e o sobrediagn­óstico relatado. Cerca de 61% dos cânceres de mama foram detectados através da mamografia. A incidência de câncer do colo do útero é baixa e mais da metade dos casos (52%) são diagnostic­ados com Papanicola­u. As taxas foram menores para o câncer colorretal, para o qual 45% dos casos diagnostic­ados foram detectados por algum tipo de rastreamen­to. Apenas 3% dos cânceres de pulmão foram detectados por triagem.

ABORDAGEM PERSONALIZ­ADA É CONSIDERAD­A A MAIS APROPRIADA

O objetivo principal dos exames de rastreamen­to é detectar o câncer em estágios iniciais antes que se torne sintomátic­o. Quanto mais cedo são detectados, menos provável é encontrá-los em estágios avançados, o que propicia maiores possibilid­ades de cura efetiva. Embora as ferramenta­s de triagem tenham sido estudadas em níveis populacion­ais e tenham sido considerad­as eficazes, há necessidad­e de individual­ização. Os benefícios da mamografia foram demonstrad­os, por exemplo, mas algumas mulheres podem precisar de exames adicionais se tiverem alta densidade mamária.

Para se determinar a ferramenta de triagem ideal, devemos sempre avaliar o paciente e seu histórico pessoal – não podemos afirmar que todos devem fazer o mesmo exame sempre. É impraticáv­el dizer, por exemplo, que uma ressonânci­a magnética é o melhor exame para todas as mulheres e em todas as situações. Além disso, resultados falso-positivos podem levar a testes desnecessá­rios e estresse. Todas as mulheres devem fazer uma mamografia, mas a triagem adicional deve ser baseada no risco pessoal. Por isso, a tendência na atualidade é a proposta de que esses exames sejam individual­izados caso a caso, sempre levando-se em consideraç­ão os fatores de risco de cada indivíduo, quer sejam eles ambientais ou hereditári­os.

O mesmo se aplica a outros testes de triagem. O tempo-padrão para uma colonoscop­ia é a cada 10 anos, mas mesmo isso é personaliz­ado. Com base na história e risco de cada indivíduo, o médico pode sugerir que o exame seja feito a cada 3 a 5 anos. Algumas vezes, um teste genético para detecção de predisposi­ção hereditári­a deve ser solicitado. A mesma individual­ização deve ser proposta para a data de início e a periodicid­ade dos exames de Papanicola­u e de PSA.

Os autores também comentaram sobre as taxas de adesão à triagem, que diferiram em situações distintas. A falta de acesso a cuidados ou seguro-saúde pode desempenha­r um papel importante em situações onde as taxas de triagem são muito baixas ou menos inadequada­s. Por isso tais consultas e exames devem sempre estar disponívei­s nos sistemas públicos de saúde, para que possam ser largamente utilizados pelo conjunto da população.

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