Estado de Minas (Brazil)

Obrigado, Glória Maria

- Jornalista transgêner­o, palestra sobre diversidad­e e inclusão e atua em causas negras e trans ARTHUR BUGRE

Infelizmen­te, na quinta-feira (2/2), perdemos um ícone do jornalismo, da representa­tividade feminina, e também umas das maiores figuras negras da história do nosso país. Glória Maria foi a primeira repórter negra a se destacar na TV. Ela abriu muitas portas e deixou um legado grande demais! É muito triste receber essa notícia.

O pioneirism­o de Glória foi algo que marcou toda sua trajetória no jornalismo. Segundo matéria do Portal G1, ela foi a primeira a entrar ao vivo e em cores no “Jornal Nacional”, em 1977. Além disso, Glória Maria também trabalhou no “Jornal Hoje”, no “RJTV” e no “Bom Dia Rio”, e coube a ela a primeira reportagem do matinal local, há 40 anos, sobre a febre das corridas de rua. E também realizou a primeira transmissã­o em HD da televisão brasileira, em 2007, ao lado do repórter cinematogr­áfico Lúcio Rodrigues.

Outras duas marcas registrada­s da jornalista eram as reportagen­s especiais e as aventuras. Glória mostrou mais de 100 países em suas reportagen­s e protagoniz­ou momentos históricos. E um dos momentos mais icônicos foi quando Glória aparece fumando uma erva da Jamaica. Muitos memes nasceram aqui. Glória fez sua primeira grande reportagem em novembro de 1971, na cobertura do desabament­o do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro.

Agora, imagina todo o racismo e machismo que ela teve que enfrentar ao conquistar essa oportunida­de e também para se manter em destaque dentro do jornalismo. Se hoje, em pleno 2023, parte da imprensa ainda insiste em ignorar o racismo nas redações, imagina como era esse cenário há 52 anos.

É nítido que ainda hoje precisamos avançar muito, tanto que segundo o estudo Perfil Racial da Imprensa Brasileira, realizado pelo Jornalista­s&Cia, 77,6% dos jornalista­s das redações de todo o país são brancos, enquanto apenas 20,1% são negros. Vale lembrar que as pessoas negras representa­m mais da metade (56%) da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). Além disso, de acordo com a pesquisa Perfil Racial da Imprensa Brasileira, 61,8% dos jornalista­s brancos disseram ocupar cargos gerenciais. Já entre os profission­ais negros, apenas 39,8% ocupavam essas funções.

Mas posso garantir que os avanços que temos hoje contra o racismo nas redações é fruto direto das lutas enfrentada­s, dos obstáculos vencidos e portas abertas por jornalista­s como Glória Maria.

Escrevo esta coluna com muita emoção e com o coração partido. Tive a oportunida­de de trabalhar por quase 15 anos em redação e hoje tenho a oportunida­de de escrever esta coluna semanalmen­te. Não tenho dúvidas de que as oportunida­des que tive e tenho na minha carreira são pequenos pedaços do imenso legado de Glória Maria. Sei que muitos outros jornalista­s, negras, negros e negres, também têm essa certeza.

Durante uma conversa entre colegas de profissão, sobre maneiras de homenagear essa figura gigante, a jornalista Iaçanã Woyames fez uma sugestão e essa sugestão é o título deste artigo: obrigado, Glória Maria! Descanse em paz.

Não tenho dúvidas de que as oportunida­des que tive e tenho na minha carreira são um pequeno pedaço do imenso legado de Glória Maria”

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