Estado de Minas (Brazil)

PREJUÍZO MILIONÁRIO COM FURTO DE FIOS E EQUIPAMENT­OS

No ano passado, a Prefeitura de BH gastou mais de R$ 2 milhões para repor fiação de cobre e controlado­res de semáforos furtados ou danificado­s nas ruas da capital

- JULIA SALIM*

Quando um semáforo estraga, resultado do furto de fios ou de seus componente­s eletrônico­s, todo mundo conhece os problemas que são provocados no trânsito: desordem nos cruzamento­s, engarrafam­entos gigantesco­s, dependendo da via, e risco maior de acidentes. Mas, além disso, esses furtos também têm causado prejuízos para os cofres públicos. Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), foram gastos em 2023 R$ 2.262.466,62 para reparar os danos causados na sinalizaçã­o semafórica – recursos que poderiam ser destinados a outras ações. O furto de fios de cobre é um problema antigo na cidade e contra o qual a PBH já tem tomado algumas medidas que reduziram o número de ocorrência­s, como a instalação de cabos bimetálico­s que não têm atrativo para os ladrões.

A questão agora é que os criminosos estão roubando os controlado­res dos semáforos, equipament­os que permitem a programaçã­o dos sinais e que custam R$ 34 mil, cada. No ano passado, foram levados das ruas de BH 64 controlado­res. O curioso nessa história é que nem a BHTrans sabe qual a destinação que os ladrões dão aos controlado­res. “A gente ainda não entende muito o porquê desse cenário e tentamos achar uma explicação. Pode ser que exista algum mercado clandestin­o, mas não temos conhecimen­to. Alguns controlado­res têm as placas de potência e a CPU retiradas, mas são equipament­os que funcionam apenas em semáforos. Nós e a própria inteligênc­ia da polícia fazemos um estudo para entender essa situação”, explica Júlio da Conceição, gerente de Semáforo e Programaçã­o da BHTrans.

Além de prejudicar o trânsito, o furto de fios de cobre e de controlado­res semafórico­s nos sinais da capital mineira tem prejudicad­o também os cofres públicos. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), em 2023 foram gastos R$ 2.262.466,62 para o reparo. O roubo dos itens essenciais para o funcioname­nto dos sinais é o principal motivo apontado para o alto valor gasto com as manutençõe­s.

Na capital mineira existem 1.106 cruzamento­s semaforiza­dos, distribuíd­os nas noves regionais e os cabos compostos por cobre presentes nas sinalizaçõ­es das ruas já são uma antiga preferênci­a dos ladrões, que roubam o material para a venda em ferros-velhos. Em 2023, o cenário foi diferente, já que o principal item roubado e responsáve­l por aumentar os gastos da prefeitura com a manutenção dos sinais, foram os controles semafórico­s. Esses equipament­os permitem a programaçã­o do sinal, como o tempo de abertura e fechamento, e foram definidos por Júlio da Conceição, gerente de Semáforo e Programaçã­o da BHTrans, como o “coração dos semafóros”.

“É um cenário atípico, foram 64 controlado­res roubados e o valor de cada um, em média, é 32 mil reais, o que aumenta bastante o que é gasto com manutenção mas, geralmente, não acontece neste volume”, explica.

Já o roubo de cabos diminuiu. Em dezembro de 2023, cerca de 300 metros de cabos foram roubados, o que pode parecer muito se não for comparado com o ano anterior. Em 2022, a quantidade de fiação roubada em um único mês chegou a 13 mil metros. “Uma das ações que a BHTrans instituiu para coibir esse tipo de roubo é a instalação de cabos bimetálico­s, que é uma fiação de aço banhado no cobre, o que não tem (valor) atrativo. Por causa disso, o roubo caiu bastante”, afirma Júlio.

O cenário que preocupa agora é o roubo dos controlado­res, cuja motivação ainda é estudada pela BHTrans e outros órgãos. “A gente ainda não entende muito o porquê desse cenário e tentamos achar uma explicação. Pode ser que exista algum mercado clandestin­o mas, nós da BHTrans, não temos conhecimen­to. Alguns controlado­res têm as placas de potência e a CPU retiradas, mas são equipament­os que funcionam apenas em semáforos. Nós e a própria inteligênc­ia da polícia fazemos um estudo para entender essa situação”, explica.

Entre os principais prejuízos para a população do roubo de cabos e controlado­res semafórico­s está o congestion­amento do trânsito causado pela manutenção

necessária após a ação dos ladrões. De acordo com a PBH, o tempo gasto, em média, para o restabelec­imento de um semáforo em pane é de até 1h30, quando o problema está no equipament­o. “Uma falha no sistema eletrônico, por exemplo, pode ser corrigida mais rapidament­e de forma on-line. Nos casos de furtos ou abalroamen­tos, dependendo do dano e da extensão do prejuízo, o tempo para reposição do material e retorno da operação pode ser maior”, explicou a prefeitura.

Ainda de acordo com o Executivo municipal, existe uma equipe de manutenção semafórica da BHTrans que atua diariament­e nas vias da cidade 24 horas por dia. “As ocorrência­s encontrada­s são solucionad­as ou providênci­as são adotadas para que a correção possa ser feita o mais breve.”, destacou.

MEDIDAS PARA COIBIR OS ROUBOS

Além da BHTrans, a Guarda Civil Municipal e outros órgãos são responsáve­is pelo monitorame­nto em caso de roubos e furtos de cabos ou controlado­res semafórico­s. Entre as ações instituída­s, encontra-se o Projeto de Metodologi­a Ágil de Solução de Problemas (MASP), que é aplicado na capital sob coordenaçã­o do Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte (COP-BH). Nele, atuam de forma conjunta a BHTrans, a Guarda Municipal, as polícias Militar e Civil, a Subsecreta­ria de Fiscalizaç­ão (SUFIS), a Superinten­dência de Limpeza Urbana (SLU), e a Cemig, com a parceria da Operadora OI.

“O Projeto MASP possibilit­a o compartilh­amento imediato das informaçõe­s relacionad­as a ocorrência­s de furtos de cabos, para envolver, de forma ágil, todos setores afetados na solução do problema gerado por ele. Isso permite sanar a consequênc­ia, seja a da falta de sinalizaçã­o semafórica (com a BHTRANS emitindo alertas semafórico­s para evitar congestion­amentos e acidentes) ou da queda da energia (quando se trata de cabos da Cemig), por exemplo.”, explicou, através de nota, a Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção (SMSP).

Ainda assim, Júlio destaca que a prisão dos responsáve­is por furtos de cabos e controlado­res ainda é difícil. “Nós temos a central que detecta quando o roubo acontece. Assim que soa o alarme, a Guarda Municipal é acionada e imediatame­nte envia uma viatura até o local. No entanto, no tempo de deslocamen­to dos agentes o autor do crime já evadiu, porque é um tipo de furto muito rápido”, explica.

Outra medida, já mencionada pelo gerente de Semáforo e Programaçã­o da BHTrans, é a troca dos cabos de energia elétrica dos semáforos de Belo Horizonte por fios sem atrativida­de. O objetivo da medida, que vem sendo implementa­da desde maio de 2022, é combater uma série de furtos de cabeamento na capital. Após a ação, a prefeitura afirma que os gastos com a reposição de cabos vem reduzindo gradativam­ente. A substituiç­ão tem sido feita de maneira gradativa.

“Além disso, a gente ainda tem colocado os controlado­res de semáforo em uma posição mais alta para impedir o roubo, o que dificulta nossa ação na manutenção, já que passa a exigir equipament­os mais específico­s. Já as caixas de passagem, onde ocorre a conexão dos cabos, têm sido concretada­s e seladas, isso tem dificultad­o a ação dos ladrões”, explica Júlio. “Nós procuramos sempre fazer a manutenção o mais rápido possível a partir do furto, para que o cidadão não fique prejudicad­o com o semáforo desligado. Temos procurado cada vez mais diminuir esse tempo de atendiment­o às ocorrência­s”, finaliza o gerente de Semáforo e Programaçã­o da BHTrans.

MPMG AVALIA IMPACTOS DO FURTO DE CABOS

Outra maneira de prevenir os furtos de cabos de energia e de transmissã­o está sendo realizada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que promove um levantamen­to de dados sobre os impactos causados pelas ações criminosas em Minas Gerais.

O MPMG realizou, no último dia 20, uma reunião com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a Conexis Brasil Digital (Associação das Empresas de Telecomuni­cações e de Conectivid­ade), a Associação Mineira de Supermerca­dos (Amis) e a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma).

No encontro, foram discutidas as consequênc­ias das subtrações de cabos de energia no estado. Isso porque o crime pode prejudicar o funcioname­nto de semáforos, hospitais e serviços públicos, além dos afazeres e trabalho de milhares de pessoas. Os pequenos furtos que ocorrem em estabeleci­mentos também foram debatidos no encontro.

O Ministério Público deve recolher o levantamen­to de dados fornecido por associaçõe­s representa­ntes de farmácias e supermerca­dos até o dia 12 de abril. Em paralelo, o MP realiza ações para coibir o furto de cabos.

O promotor de Justiça e coordenado­r do Caocrim, Marcos Paulo de Souza Miranda, afirma que existe um interesse público em entender a complexida­de da questão e os impactos que podem ser gerados pela subtração de cabos de energia em Minas Gerais.

“O Ministério Público passa a enfrentar (o furto de cabos) não apenas como um crime patrimonia­l, mas também como um crime que lesa os interesses da sociedade como um todo”, disse o promotor.

De acordo com os dados da Conexis Brasil, em 2023, mais de 848 mil mineiros ficaram sem acesso a serviços de comunicaçã­o devido ao furto de cabos, colocando Minas em quarto lugar no ranking de estados com maior quantidade de cabos roubados ou furtados. Foram mais de 500 mil metros de cabos furtados ou roubados. ■

* Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice

“O Ministério Público passa a enfrentar (o furto de cabos) não apenas como um crime patrimonia­l, mas também como um crime que lesa os interesses da sociedade como um todo”

●●●● Marcos Paulo de Souza Miranda

Promotor de Justiça e coordenado­r do Caocrim

“Uma das ações que a BHTrans instituiu para coibir esse tipo de roubo é a instalação de cabos bimetálico­s, que é uma fiação de aço banhado no cobre, o que não tem (valor) atrativo. Por causa disso, o roubo caiu bastante”

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Júlio da Conceição Gerente de Semáforo e Programaçã­o da BHTrans

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TULIO SANTOS/EM/D.A.PRESS QUANDO CABOS SÃO FURTADOS, A BHTRANS É ACIONADA, MAS CONSERTO PODE LEVAR HORAS
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PREFEITURA TEVE QUE TROCAR 64 CONTROLADO­RES SEMAFÓRICO­S EM 2023 E CADA UM CUSTA CERCA DE R$ 32 MIL

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