Estado de Minas (Brazil)

PRODUÇÃO DE LEITE PROVOCA DEBATE SOBRE VETO DE ZEMA

Oposição diz que restrição a isenção de cobrança dupla de pedágios em rodovias contraria intenção do governador de ajudar o segmento

- BERNARDO ESTILLAC

Além de travar a pauta na Assembleia Legislativ­a de Minas Gerais (ALMG), o veto do governador Romeu Zema (Novo) ao projeto de lei que isenta a cobrança dupla de pedágios em rodovias estaduais privatizad­as gera críticas da oposição em relação aos esforços recentes do estado em ajudar a produção leiteira local. De autoria do deputado estadual Marquinhos Lemos (PT), a proposta prevê que motoristas que passam repetidame­nte pela mesma praça de pedágio entre as 5h e as 22h do mesmo dia só sejam cobrados uma vez. Segundo o parlamenta­r, a medida favoreceri­a os pequenos produtores de leite que precisam transitar entre diferentes cidades para vender o material.

Zema tem encampado a luta dos produtores de leite mineiros nas últimas semanas e defendido alterações no sistema de tributação que estariam favorecend­o a compra de produtos do exterior em detrimento da produção local. Na última quinta-feira, o governador assinou o Decreto 48.791 que retira as empresas importador­as de leite em pó do regime especial de tributação, o que sobe a alíquota de zero para 12%. Para a venda do produto fracionado, a alíquota passa de 2% para 18%.

A oposição ao governador, no entanto, bate na tecla que outras medidas devem ser tomadas para aliviar os pequenos produtores. Uma delas seria não ter vetado o projeto de isenção à cobrança dupla em pedágios. O argumento alegado é que os produtores transitam entre as cidades repetindo o mesmo trajeto ao longo do dia e sendo, portanto, cobrado em repetidas oportunida­des que passam pelas mesmas praças de pedágio.

No fim do ano passado, começaram a funcionar oito praças de pedágio em um grupo de estradas estaduais do Triângulo Mineiro privatizad­as recentemen­te. A concession­ária EPR tem pontos de cobrança em Uberaba, Perdizes, Monte Carmelo, Indianópol­is, Patrocínio, Nova Ponta e Água Comprida. Produtores da região demonstram preocupaçã­o com a nova cobrança, que não estava no planejamen­to.

Fausto Amaral da Fonseca, presidente da Cooperativ­a Agropecuár­ia de Patrocínio (Coopa), disse à reportagem que o rendimento da produção leiteira é contado em valores pequenos e cada alteração na balança entre as cifras gastas e recebidas impacta os pequenos produtores.

“O rendimento do leite é quase gota a gota, o produtor ganha centavos na produção de leite. Claro que qualquer gasto a mais onera. O custo do transporte já não é barato. São R$ 12,75 por eixo, mas tem caminhões maiores também e se você soma o caminhão passando todo dia, mais de uma vez, o preço fica mais caro no fim do mês”, afirma.

Para Junior Cesar Soares, comerciant­e e produtor rural de Monte Carmelo, a cobrança repetida de pedágios não impacta especialme­nte o setor leiteiro, mas o setor agrário de uma forma geral. Ele destaca que a região depende do escoamento no Ceasa de Uberlândia e precisa fazer viagens repetidas até a cidade-polo.

“A gente tem que ser realista porque é um tema muito sério. Não acho que os pedágios têm muito impacto para o pequeno produtor de leite, que não trafega tanto nas rodovias e consegue fazer as entregas de dois em dois dias. Mas eles impactam o agro e elevam os custos. Nossa região aqui é grande produtora de grãos e precisa escoar para Uberlândia. Aí você passa por três pedágios, com ida e volta, é cobrado seis vezes”, destacou.

O PL 459/2019 vale apenas para isentar a cobrança repetida em praças de pedágio que ainda serão instaladas. As rodovias com contrato de concessão vigente não seriam afetadas caso ele fosse aprovado. Os parlamenta­res a favor do projeto argumentam, porém, que se ele fosse sancionado com mais celeridade, já poderia estar valendo para pontos de cobrança que passaram a operar recentemen­te.

Há, atualmente, quatro lotes em processo de estudos de concessão pelo governo de Minas. O mais adiantado compreende as rodovias BR-356, MG-262 e MG-329 em trecho de 190 quilômetro­s que passam pelas cidades de Nova Lima, Rio Acima, Itabirito, Ouro Preto, Mariana, Acaiaca, Barra Longa, Ponte Nova, Urucânia, Piedade de Ponte Nova e Rio Casca. Há outros três lotes em estudo para concessão: Vetor Norte, Zona da Mata e Noroeste. Para estes pontos, ainda não há a definição de localizaçã­o e valor de cobrança das praças de pedágio.

O veto de Zema ao projeto é um dos que trava a pauta da Assembleia há mais de um mês. A votação tem prioridade regimental e precisa ser resolvida para que outras propostas sejam analisadas em plenário. Prontos para apreciação dos deputados desde fevereiro, os vetos do governador não foram discutidos após repetidas oportunida­des em que a base da situação não conseguiu reunir quórum suficiente para o início da sessão. Aprovado por unanimidad­e nos dois turnos, o PL 459/2019 passou na ALMG diante de acordo entre parlamenta­res governista­s e a oposição.

O QUE DIZ O GOVERNO

Em nota, a Secretaria de Estado de Infraestru­tura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) defende o veto afirmando que o objetivo primordial da concessão de uma rodovia é melhorar as condições de trânsito, manter reformas e manutenção constantes e oferecer infraestru­tura de qualidade à população.

“Os avanços na estrutura da malha viária só tendem a trazer progressos econômicos e sociais, como, por exemplo, um ganho de eficiência no frete, com rapidez nos deslocamen­tos e redução de prejuízos decorrente­s de perda de cargas por causa de trepidação e buracos, já que as rodovias concession­adas contam com pistas em melhor estado de conservaçã­o”, completa o documento sem, no entanto, tratar especifica­mente sobre a oneração aos produtores de leite. ■

Brasília – O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) começa a julgar hoje uma ação que pode levar à cassação do mandato do senador Sergio Moro (União Brasil-PR). O contexto é desfavoráv­el para Moro. Se condenado, o ex-juiz da Operação Lava-Jato poderá recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Partido dos Trabalhado­res (PT) e o Partido Liberal (PL) entraram com representa­ção contra o parlamenta­r apontando gastos excessivos durante a pré-campanha nas eleições de 2022. O Ministério Público Federal também foi no mesmo caminho em parecer assinado em dezembro de 2023.

Moro é acusado de abuso de poder econômico e uso indevido de veículos ou meios de comunicaçã­o no período que antecede a campanha. A justificat­iva é que, em 2021, ele se filiou ao Podemos, visando disputar a eleição presidenci­al, mas, com a proximidad­e do limite para que trocasse de partido, ele se filiou ao União Brasil e anunciou sua candidatur­a ao Senado

Os partidos alegam que os gastos com a pré-campanha inicialmen­te para presidente diminuíram as chances dos outros candidatos ao Senado pelo Paraná. O PL alega que o valor gasto pelos dois partidos na précampanh­a foi de quase R$ 7,6 milhões. O PT calcula que seja algo perto de R$ 4,8 milhões. Já a defesa do senador alega que o valor total neste período foi de R$ 141 mil. As diferenças ocorrem devido a uma desconform­idade de critérios sobre o que é ou não gasto com pré-campanha.

Caso ele seja condenado por abuso de poder econômico, a chapa será cassada, o que acarretari­a na perda de mandato do exjuiz, e ele ficará inelegível até 2030. A vaga que ele deixaria aberta no Senado seria ocupada após uma nova eleição.

No meio político, a expectativ­a é que Moro perca o mandato. O julgamento é visto como definidor do futuro político

MANDATO DO SENADOR SERGIO MORO É ALVO DE AÇÃO DO PT E DO PL NO TRE-PR

paranaense. A avaliação é que, caso mantenha os direitos políticos, Moro se tornará favorito no pleito para governador em 2026, o que também influencia­rá na composição das alianças partidária­s e na formação de palanques na disputa para senador. Por outro lado, em um cenário de cassação, a aposta é que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguirá emplacar um aliado no cargo. ■

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GUILHERME DARDANHAN/ALMG PLENÁRIO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIV­A: VETO DO GOVERNADOR ROMEU ZEMA AO PROJETO SOBRE ISENÇÃO DE PEDÁGIO ESTÁ TRAVANDO A PAUTA

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