PRODUÇÃO DE LEITE PROVOCA DEBATE SOBRE VETO DE ZEMA
Oposição diz que restrição a isenção de cobrança dupla de pedágios em rodovias contraria intenção do governador de ajudar o segmento
Além de travar a pauta na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o veto do governador Romeu Zema (Novo) ao projeto de lei que isenta a cobrança dupla de pedágios em rodovias estaduais privatizadas gera críticas da oposição em relação aos esforços recentes do estado em ajudar a produção leiteira local. De autoria do deputado estadual Marquinhos Lemos (PT), a proposta prevê que motoristas que passam repetidamente pela mesma praça de pedágio entre as 5h e as 22h do mesmo dia só sejam cobrados uma vez. Segundo o parlamentar, a medida favoreceria os pequenos produtores de leite que precisam transitar entre diferentes cidades para vender o material.
Zema tem encampado a luta dos produtores de leite mineiros nas últimas semanas e defendido alterações no sistema de tributação que estariam favorecendo a compra de produtos do exterior em detrimento da produção local. Na última quinta-feira, o governador assinou o Decreto 48.791 que retira as empresas importadoras de leite em pó do regime especial de tributação, o que sobe a alíquota de zero para 12%. Para a venda do produto fracionado, a alíquota passa de 2% para 18%.
A oposição ao governador, no entanto, bate na tecla que outras medidas devem ser tomadas para aliviar os pequenos produtores. Uma delas seria não ter vetado o projeto de isenção à cobrança dupla em pedágios. O argumento alegado é que os produtores transitam entre as cidades repetindo o mesmo trajeto ao longo do dia e sendo, portanto, cobrado em repetidas oportunidades que passam pelas mesmas praças de pedágio.
No fim do ano passado, começaram a funcionar oito praças de pedágio em um grupo de estradas estaduais do Triângulo Mineiro privatizadas recentemente. A concessionária EPR tem pontos de cobrança em Uberaba, Perdizes, Monte Carmelo, Indianópolis, Patrocínio, Nova Ponta e Água Comprida. Produtores da região demonstram preocupação com a nova cobrança, que não estava no planejamento.
Fausto Amaral da Fonseca, presidente da Cooperativa Agropecuária de Patrocínio (Coopa), disse à reportagem que o rendimento da produção leiteira é contado em valores pequenos e cada alteração na balança entre as cifras gastas e recebidas impacta os pequenos produtores.
“O rendimento do leite é quase gota a gota, o produtor ganha centavos na produção de leite. Claro que qualquer gasto a mais onera. O custo do transporte já não é barato. São R$ 12,75 por eixo, mas tem caminhões maiores também e se você soma o caminhão passando todo dia, mais de uma vez, o preço fica mais caro no fim do mês”, afirma.
Para Junior Cesar Soares, comerciante e produtor rural de Monte Carmelo, a cobrança repetida de pedágios não impacta especialmente o setor leiteiro, mas o setor agrário de uma forma geral. Ele destaca que a região depende do escoamento no Ceasa de Uberlândia e precisa fazer viagens repetidas até a cidade-polo.
“A gente tem que ser realista porque é um tema muito sério. Não acho que os pedágios têm muito impacto para o pequeno produtor de leite, que não trafega tanto nas rodovias e consegue fazer as entregas de dois em dois dias. Mas eles impactam o agro e elevam os custos. Nossa região aqui é grande produtora de grãos e precisa escoar para Uberlândia. Aí você passa por três pedágios, com ida e volta, é cobrado seis vezes”, destacou.
O PL 459/2019 vale apenas para isentar a cobrança repetida em praças de pedágio que ainda serão instaladas. As rodovias com contrato de concessão vigente não seriam afetadas caso ele fosse aprovado. Os parlamentares a favor do projeto argumentam, porém, que se ele fosse sancionado com mais celeridade, já poderia estar valendo para pontos de cobrança que passaram a operar recentemente.
Há, atualmente, quatro lotes em processo de estudos de concessão pelo governo de Minas. O mais adiantado compreende as rodovias BR-356, MG-262 e MG-329 em trecho de 190 quilômetros que passam pelas cidades de Nova Lima, Rio Acima, Itabirito, Ouro Preto, Mariana, Acaiaca, Barra Longa, Ponte Nova, Urucânia, Piedade de Ponte Nova e Rio Casca. Há outros três lotes em estudo para concessão: Vetor Norte, Zona da Mata e Noroeste. Para estes pontos, ainda não há a definição de localização e valor de cobrança das praças de pedágio.
O veto de Zema ao projeto é um dos que trava a pauta da Assembleia há mais de um mês. A votação tem prioridade regimental e precisa ser resolvida para que outras propostas sejam analisadas em plenário. Prontos para apreciação dos deputados desde fevereiro, os vetos do governador não foram discutidos após repetidas oportunidades em que a base da situação não conseguiu reunir quórum suficiente para o início da sessão. Aprovado por unanimidade nos dois turnos, o PL 459/2019 passou na ALMG diante de acordo entre parlamentares governistas e a oposição.
O QUE DIZ O GOVERNO
Em nota, a Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) defende o veto afirmando que o objetivo primordial da concessão de uma rodovia é melhorar as condições de trânsito, manter reformas e manutenção constantes e oferecer infraestrutura de qualidade à população.
“Os avanços na estrutura da malha viária só tendem a trazer progressos econômicos e sociais, como, por exemplo, um ganho de eficiência no frete, com rapidez nos deslocamentos e redução de prejuízos decorrentes de perda de cargas por causa de trepidação e buracos, já que as rodovias concessionadas contam com pistas em melhor estado de conservação”, completa o documento sem, no entanto, tratar especificamente sobre a oneração aos produtores de leite. ■
Brasília – O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) começa a julgar hoje uma ação que pode levar à cassação do mandato do senador Sergio Moro (União Brasil-PR). O contexto é desfavorável para Moro. Se condenado, o ex-juiz da Operação Lava-Jato poderá recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Liberal (PL) entraram com representação contra o parlamentar apontando gastos excessivos durante a pré-campanha nas eleições de 2022. O Ministério Público Federal também foi no mesmo caminho em parecer assinado em dezembro de 2023.
Moro é acusado de abuso de poder econômico e uso indevido de veículos ou meios de comunicação no período que antecede a campanha. A justificativa é que, em 2021, ele se filiou ao Podemos, visando disputar a eleição presidencial, mas, com a proximidade do limite para que trocasse de partido, ele se filiou ao União Brasil e anunciou sua candidatura ao Senado
Os partidos alegam que os gastos com a pré-campanha inicialmente para presidente diminuíram as chances dos outros candidatos ao Senado pelo Paraná. O PL alega que o valor gasto pelos dois partidos na précampanha foi de quase R$ 7,6 milhões. O PT calcula que seja algo perto de R$ 4,8 milhões. Já a defesa do senador alega que o valor total neste período foi de R$ 141 mil. As diferenças ocorrem devido a uma desconformidade de critérios sobre o que é ou não gasto com pré-campanha.
Caso ele seja condenado por abuso de poder econômico, a chapa será cassada, o que acarretaria na perda de mandato do exjuiz, e ele ficará inelegível até 2030. A vaga que ele deixaria aberta no Senado seria ocupada após uma nova eleição.
No meio político, a expectativa é que Moro perca o mandato. O julgamento é visto como definidor do futuro político
MANDATO DO SENADOR SERGIO MORO É ALVO DE AÇÃO DO PT E DO PL NO TRE-PR
paranaense. A avaliação é que, caso mantenha os direitos políticos, Moro se tornará favorito no pleito para governador em 2026, o que também influenciará na composição das alianças partidárias e na formação de palanques na disputa para senador. Por outro lado, em um cenário de cassação, a aposta é que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguirá emplacar um aliado no cargo. ■