SILÊNCIO DE LULA NÃO IMPEDE REPÚDIO À DITADURA MILITAR
Apesar do veto do presidente a manifestações oficiais contra o golpe de 1964, ministros e parlamentares governistas vão às redes sociais criticar o regime
Brasília - Mesmo com o silêncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vetou atos do governo na passagem dos 60 anos do golpe de 1964, que deu início ao período de 21 anos de ditadura militar no Brasil, ministros e parlamentares governistas lembraram a data ontem. Em busca de reconstruir pontes com os militares, o presidente Lula determinou e orientou que seus ministros e o governo não realizassem atos, solenidades, discursos ou que material fosse produzido em memória dos 60 anos do golpe militar.
A reportagem apurou que o presidente se reuniu com o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, no começo do mês para tratar do tema. O Palácio do Planalto informou que não iria comentar o assunto. A assessoria do Ministério dos Direitos Humanos, por sua vez, negou que o encontro entre Almeida e Lula tenha ocorrido.
Ontem, Almeida foi às redes sociais comentar a data. Em postagem nas redes sociais, ele escreveu: “Queremos um país social e economicamente desenvolvido e não um ‘Brasil interrompido’. “Por que ditadura nunca mais? Porque queremos um país soberano, que não se curve a interesses opostos aos do povo brasileiro. Porque queremos um país institucional e culturalmente democrático. Porque queremos um país em que a verdade e a justiça prevaleçam sobre a mentira e a violência. Porque queremos um país livre da tortura e do autoritarismo. Porque queremos um país sem milícias e grupos de extermínio”.
Almeida não foi o único ministro a relembrar a importância da data. O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, disse que a “esperança e a coragem derrotaram o ódio, a intolerância e o autoritarismo”. “Defender a democracia é um desafio que se renova todos os dias”, dis
O advogado-geral da União, Jorge Messias, decidiu homenagear a ex-presidente Dilma Rousseff, que ficou presa por três anos durante a ditadura e integrou grupos que lutavam contra o regime. “Democracia sempre!!! Minha homenagem nesta data é na pessoa de uma mulher que consagrou sua vida à defesa da democracia, Dilma Rousseff. Que a luz da democracia prevaleça, sempre. Essa é a causa que nos move”, declarou.
PARENTES DE VÍTIMAS DA DITADURA MILITAR ORGANIZARAM ONTEM EVENTO NO CENTRO DE SÃO PAULO, NA DATA DOS 60 ANOS DO ATO QUE INICIOU O LONGO REGIME MILITAR NO PAÍS
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, homenageou a todos que foram presos, torturados “ou que tiveram seus filhos desaparecidos e mortos na ditadura militar.” “Que o golpe instalado há exatos 60 anos nunca mais volte a acontecer e não seja jamais esquecido”, afirmou. A deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), destacou a criação do PT, em 1980, motivada pela “defesa da democracia e dos direitos do povo”, para “recordar o passado.
Os líderes governistas no Congresso também falaram sobre os 60 anos do golpe nas redes sociais. José Guimarães (PT-CE), líder na Câmara, destacou ser “crucial lembrar daqueles que sofreram e resistiram durante esse período”. Já o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) relembrou a famosa frase de Ulysses Guimarães, que afirmou que “traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério”.
FRUSTRAÇÃO
Consternação e frustração são alguns dos sentimentos gerados pelo veto de Lula sobre a atos contra o golpe, disse Arthur Mello, coordenador de advocacy do Pacto pela Democracia. A coalização formada por 200 organizações da sociedade civil organizou ações com o mesmo slogan que seria adotado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania caso Lula não tivesse desautorizado eventos em alusão à data.
Em outra iniciativa de entidades diversas, os 60 anos do golpe foram relembrados ontem em São Paulo, com a 4ª edição da Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado, realizada pelo Movimento Vozes do Silêncio, representado pelo Instituto Vladimir Herzog, o Núcleo de Preservação da Memória Política e a OAB-SP. Segundo o Pacto pela Democracia, a escolha do slogan “Sem memória não há futuro” é “propositadamente similar ao que seria adotado pelo Ministério dos Direitos Humanos, mas as ações foram canceladas pelo governo Lula”.
Os eventos envolvem o levantamento de uma hashtag com o slogan nas redes sociais e ações de lambe lambe na rua Consolação, em São Paulo, dentre outros eventos. “Há um sentimento não só de frustração, mas de consternação da sociedade civil com o governo federal decidindo se calar nos 60 anos do golpe”, disse Mello.
“Dizer que não há motivos para falar do golpe militar é admitir um completo desconhecimento das causas dos ataques do 8 de janeiro”, disse Mello também. “[O discurso de Lula mostra] um apequenamento político do governo federal. A gente não vive sob tutela do governo militar mais. A gente não precisa pedir autorização aos militares [para celebrar a democracia]”, declarou. Assinam a campanha organizações como a Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia, Movimento Mulheres Negras Decidem e Washington Brazil Office.
“Há um sentimento não só de frustração, mas de consternação da sociedade civil com o governo federal decidindo se calar nos 60 anos do golpe”
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Arthur Mello Coordenador do Pacto pela Democracia, que reúne 200 organizações da sociedade civil
GENERAL
O general e senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que foi vice-presidente de Jair Bolsonaro, usou as redes sociais para celebrar o golpe de 1964. “A história não se apaga e nem se reescreve, em 31 de março de 1964 a Nação se salvou a si mesma!”, postou ele no X, antigo Twitter. Essa não é a primeira vez que Mourão celebra a data. No ano passado, ele se referiu ao golpe de 1964 como uma “revolução democrática”. Em seu governo, Jair Bolsonaro determinou que o Ministério da Defesa comemorasse a data. Uma pesquisa do Datafolha, divulgada na semana passada, aponta que 63% dos brasileiros avaliam que a data que marcou o início do regime militar deve ser desprezada. ■
A ampliação do Mercado Livre de Energia – sistema que, entre outros benefícios, permite que se escolha o fornecedor de energia – poderá reduzir em até R$ 10,7 bilhões os custos com eletricidade de empresas dos setores rural, comercial e industrial. A projeção é da Associação Brasileira de Comercializadores de Energia (Abraceel).
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