Estado de Minas (Brazil)

SILÊNCIO DE LULA NÃO IMPEDE REPÚDIO À DITADURA MILITAR

Apesar do veto do presidente a manifestaç­ões oficiais contra o golpe de 1964, ministros e parlamenta­res governista­s vão às redes sociais criticar o regime

- ANDREA MALCHER

Brasília - Mesmo com o silêncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vetou atos do governo na passagem dos 60 anos do golpe de 1964, que deu início ao período de 21 anos de ditadura militar no Brasil, ministros e parlamenta­res governista­s lembraram a data ontem. Em busca de reconstrui­r pontes com os militares, o presidente Lula determinou e orientou que seus ministros e o governo não realizasse­m atos, solenidade­s, discursos ou que material fosse produzido em memória dos 60 anos do golpe militar.

A reportagem apurou que o presidente se reuniu com o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, no começo do mês para tratar do tema. O Palácio do Planalto informou que não iria comentar o assunto. A assessoria do Ministério dos Direitos Humanos, por sua vez, negou que o encontro entre Almeida e Lula tenha ocorrido.

Ontem, Almeida foi às redes sociais comentar a data. Em postagem nas redes sociais, ele escreveu: “Queremos um país social e economicam­ente desenvolvi­do e não um ‘Brasil interrompi­do’. “Por que ditadura nunca mais? Porque queremos um país soberano, que não se curve a interesses opostos aos do povo brasileiro. Porque queremos um país institucio­nal e culturalme­nte democrátic­o. Porque queremos um país em que a verdade e a justiça prevaleçam sobre a mentira e a violência. Porque queremos um país livre da tortura e do autoritari­smo. Porque queremos um país sem milícias e grupos de extermínio”.

Almeida não foi o único ministro a relembrar a importânci­a da data. O ministro-chefe da Secretaria de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a (Secom), Paulo Pimenta, disse que a “esperança e a coragem derrotaram o ódio, a intolerânc­ia e o autoritari­smo”. “Defender a democracia é um desafio que se renova todos os dias”, dis

O advogado-geral da União, Jorge Messias, decidiu homenagear a ex-presidente Dilma Rousseff, que ficou presa por três anos durante a ditadura e integrou grupos que lutavam contra o regime. “Democracia sempre!!! Minha homenagem nesta data é na pessoa de uma mulher que consagrou sua vida à defesa da democracia, Dilma Rousseff. Que a luz da democracia prevaleça, sempre. Essa é a causa que nos move”, declarou.

PARENTES DE VÍTIMAS DA DITADURA MILITAR ORGANIZARA­M ONTEM EVENTO NO CENTRO DE SÃO PAULO, NA DATA DOS 60 ANOS DO ATO QUE INICIOU O LONGO REGIME MILITAR NO PAÍS

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, homenageou a todos que foram presos, torturados “ou que tiveram seus filhos desapareci­dos e mortos na ditadura militar.” “Que o golpe instalado há exatos 60 anos nunca mais volte a acontecer e não seja jamais esquecido”, afirmou. A deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), destacou a criação do PT, em 1980, motivada pela “defesa da democracia e dos direitos do povo”, para “recordar o passado.

Os líderes governista­s no Congresso também falaram sobre os 60 anos do golpe nas redes sociais. José Guimarães (PT-CE), líder na Câmara, destacou ser “crucial lembrar daqueles que sofreram e resistiram durante esse período”. Já o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) relembrou a famosa frase de Ulysses Guimarães, que afirmou que “traidor da Constituiç­ão é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituiç­ão, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério”.

FRUSTRAÇÃO

Consternaç­ão e frustração são alguns dos sentimento­s gerados pelo veto de Lula sobre a atos contra o golpe, disse Arthur Mello, coordenado­r de advocacy do Pacto pela Democracia. A coalização formada por 200 organizaçõ­es da sociedade civil organizou ações com o mesmo slogan que seria adotado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania caso Lula não tivesse desautoriz­ado eventos em alusão à data.

Em outra iniciativa de entidades diversas, os 60 anos do golpe foram relembrado­s ontem em São Paulo, com a 4ª edição da Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado, realizada pelo Movimento Vozes do Silêncio, representa­do pelo Instituto Vladimir Herzog, o Núcleo de Preservaçã­o da Memória Política e a OAB-SP. Segundo o Pacto pela Democracia, a escolha do slogan “Sem memória não há futuro” é “propositad­amente similar ao que seria adotado pelo Ministério dos Direitos Humanos, mas as ações foram canceladas pelo governo Lula”.

Os eventos envolvem o levantamen­to de uma hashtag com o slogan nas redes sociais e ações de lambe lambe na rua Consolação, em São Paulo, dentre outros eventos. “Há um sentimento não só de frustração, mas de consternaç­ão da sociedade civil com o governo federal decidindo se calar nos 60 anos do golpe”, disse Mello.

“Dizer que não há motivos para falar do golpe militar é admitir um completo desconheci­mento das causas dos ataques do 8 de janeiro”, disse Mello também. “[O discurso de Lula mostra] um apequename­nto político do governo federal. A gente não vive sob tutela do governo militar mais. A gente não precisa pedir autorizaçã­o aos militares [para celebrar a democracia]”, declarou. Assinam a campanha organizaçõ­es como a Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia, Movimento Mulheres Negras Decidem e Washington Brazil Office.

“Há um sentimento não só de frustração, mas de consternaç­ão da sociedade civil com o governo federal decidindo se calar nos 60 anos do golpe”

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Arthur Mello Coordenado­r do Pacto pela Democracia, que reúne 200 organizaçõ­es da sociedade civil

GENERAL

O general e senador Hamilton Mourão (Republican­os-RS), que foi vice-presidente de Jair Bolsonaro, usou as redes sociais para celebrar o golpe de 1964. “A história não se apaga e nem se reescreve, em 31 de março de 1964 a Nação se salvou a si mesma!”, postou ele no X, antigo Twitter. Essa não é a primeira vez que Mourão celebra a data. No ano passado, ele se referiu ao golpe de 1964 como uma “revolução democrátic­a”. Em seu governo, Jair Bolsonaro determinou que o Ministério da Defesa comemorass­e a data. Uma pesquisa do Datafolha, divulgada na semana passada, aponta que 63% dos brasileiro­s avaliam que a data que marcou o início do regime militar deve ser desprezada. ■

A ampliação do Mercado Livre de Energia – sistema que, entre outros benefícios, permite que se escolha o fornecedor de energia – poderá reduzir em até R$ 10,7 bilhões os custos com eletricida­de de empresas dos setores rural, comercial e industrial. A projeção é da Associação Brasileira de Comerciali­zadores de Energia (Abraceel).

O agronegóci­o brasileiro tem bons exemplos a apresentar para o mundo. O mais recente dele está na produção de algodão. Segundo estudo da Mosaic Fertilizan­tes, lavouras tratadas com fontes alternativ­as de nitrogênio reduziram em até 20% a emissão de poluentes. O Brasil é o terceiro maior produtor de algodão do mundo.

O ecoturismo está em alta no Brasil. Um levantamen­to do Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade (ICMBio) constatou que 11,8 milhões de pessoas visitaram os parques nacionais do país em 2023. Trata-se do maior número da história. O Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi o mais visitado, com 4,4 milhões de turistas.

Se uma gigante como a americana AT&T, uma das maiores operadoras de telecomuni­cações do mundo, não consegue proteger os dados de seus clientes, não é difícil imaginar como as nossas informaçõe­s pessoais estão expostas. A empresa revelou que 73 milhões de contas de usuários foram vazadas na dark web desde 2019.

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MIGUEL SCHINCARIO­L/AFP

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