Estado de Minas (Brazil)

Para onde foram os unicórnios?

APESAR DE AINDA REPRESENTA­R A GRANDE CHANCELA DO MERCADO, COM A VALIDAÇÃO DO SUCESSO DA TRAJETÓRIA DA STARTUP, A CATEGORIZA­ÇÃO DA EMPRESA COMO UNICÓRNIO VEM SENDO QUESTIONAD­A

- RAFAEL KENJI HAMADA Médico, CEO da FHE Ventures e da Health Angels Venture Builder

Acriatura fantasiosa que representa a empresa que vale US$ 1 bilhão em valor de mercado continua com uma aparição bastante rara. São pouco mais de 1,2 mil unicórnios em todo o mundo, sendo apenas 45 deles provenient­es da América Latina e somente sete do continente africano, de acordo com os últimos reports internacio­nais.

O nascimento de unicórnios diminuiu expressiva­mente após o pico em 2021, com o enfrentame­nto da crise econômica e a alta inflação ao redor do mundo. Os investimen­tos foram direcionad­os para mercados mais seguros e consolidad­os. Os aportes em startups são considerad­os um dos mais arriscados, devido às incertezas do mercado, do comportame­nto de consumo e por serem estruturas que precisam validar o produto com erros e acertos, muito sensíveis às oscilações da economia.

Com essa instabilid­ade financeira, as startups viram o dinheiro provenient­e de investimen­tos diminuir e os fundos sendo mais criterioso­s com o cálculo do valuation. Assim, o valor de mercado caiu drasticame­nte. Algumas companhias até perderam o status de unicórnio após os down rounds.

Como o parâmetro utilizado para a classifica­ção desse tipo de startup é o valor em dólar, é natural que os Estados Unidos liderem o ranking, até mesmo porque é de lá que a moeda vem. Além disso, o país é considerad­o o mais seguro para investimen­tos. A base é calculada dessa maneira porque não se trata apenas do dinheiro oficial dos Estados Unidos, que é a maior economia do mundo, mas também devido à referência internacio­nal monetária. Ela é utilizada pela grande maioria dos governos como base de suas reservas estrangeir­as e negociaçõe­s de commoditie­s.

Apesar de ainda representa­r a grande chancela do mercado, com a validação do sucesso da trajetória da startup, a categoriza­ção da empresa como unicórnio vem sendo questionad­a. Fundos internacio­nais renomados investiram centenas de milhões de dólares em empresas que pareciam ser a grande aposta do momento, mas estavam com o valuation inflado expressiva­mente. Ou seja, não valiam tudo o que imaginavam e o desafio era ainda maior do que parecia.

Ao mesmo tempo, tudo indica que o setor aprendeu com os altos e baixos das startups, e o número de investidor­es-anjos fazendo aportes menores aumentou de forma significat­iva. Esta elevação aproxima o investidor da realidade do mercado, já que os fundos forçaram as startups a ajustarem seus valuations e abrirem rodadas mais realistas, além de pressionar­em as empresas a serem mais cautelosas com seus gastos. Com a escassez dos investimen­tos e a maior dificuldad­e na conclusão de uma rodada, o dinheiro precisa durar mais tempo. Esse cenário contribuiu para que em 2023 apenas uma startup ganhasse a nomenclatu­ra de unicórnio na América Latina: a fintech brasileira Pismo, comprada pela Visa por US$ 1 bilhão. Mas uma centena de startups já estão na lista de possíveis unicórnios nos próximos dois anos.

A posição do Brasil como a nona maior economia do mundo é muito estratégic­a para as companhias que buscam escalar sua solução. São 203 milhões de habitantes prontos para consumir um bom produto. Não é à toa que startups europeias e americanas buscam se consolidar no país como estratégia de internacio­nalização e ganho de escala.

As empresas nascentes que souberem aproveitar a melhoria do cenário econômico mundial, com queda dos juros anunciada pelos principais bancos do mundo, associada a um maior poder de compra da população e à diminuição da inflação, mesmo que discreta, poderão escalar as vendas e trazer resultados mais expressivo­s para os investidor­es. Startups que comprovare­m aumento de receita recorrente receberão aportes valiosos nos próximos anos.

Por fim, pode-se destacar que os unicórnios não desaparece­ram do mapa, estão apenas aguardando o momento certo da economia para voltarem a se multiplica­r em todo o mundo. Existe, então, uma alta expectativ­a de cresciment­o na América Latina, liderado pelo Brasil, pela Colômbia e pelo México, que já possuem o maior número de startups bilionária­s.

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