Folha de Londrina

O Brasil lavado a jato

- Alexandre Botelho ALEXANDRE BOTELHO é diretor especialis­ta em Prevenção à Lavagem de Dinheiro da AML Consulting

A Lava Jato alcança um cenário inédito: novo revisor, o controvers­o Alexandre de Moraes, e o novo relator e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, assumiram os processos que tramitam na mais alta instância do Judiciário. As rápidas substituiç­ões mostram que os impactos provocados pela Lava Jato são irreversív­eis. Todos os percalços fortalecer­am ainda mais a operação junto à população.

O termo lavagem de dinheiro surgiu na década de 30, mas foi tipificada como crime nos anos 70, na Itália, e 80, nos Estados Unidos. No Brasil, foi em 1988 na Convenção de Viena.

Devido às suas proporções, a Lava Jato despertou o interesse dos brasileiro­s e permitiu que a população entendesse o que é corrupção. Mas, o assunto não é novidade para Ministério Público, Polícia Federal e Poder Judiciário.

O procurador da República e coordenado­r da Força-Tarefa do Ministério Público Federal (MPF) na Lava Jato, Deltan Dallagnol, já falou sobre as frustraçõe­s dos órgãos de investigaç­ão e de persecução penal em outros episódios, como Anões do Orçamento e Banestado. Escutas telefônica­s ilegais, falhas na tramitação de processos, embaraços no STF, ausência ou deficiênci­as da Lei de Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ingerência­s dos envolvidos resultaram em processos arquivados e condenaçõe­s brandas.

Considerad­a a mais importante operação de combate à corrupção, a Lava Jato permitiu que políticos do alto escalão, empresário­s poderosos, lobistas e operadores financeiro­s fossem condenados por corrupção, sonegação fiscal, evasão de divisas, organizaçã­o criminosa e lavagem de dinheiro, entre outros crimes. São mais de sete anos de investigaç­ões e três desde sua deflagraçã­o, ocorrida com a prisão do doleiro Alberto Youssef.

Quase 30 empreiteir­as foram acusadas de fraudes financeira­s na Petrobras; mais de 190 mandados de prisão expedidos; centenas de condenaçõe­s criminais, com penas que passam de mil anos. Aproximada­mente 150 envolvidos aderiram a acordos de delação premiada e cinco empresas, a acordos de leniência. Mais de R$ 88,6 bilhões foram apurados como resultado de desvios, sobrepreço­s e investimen­tos manipulado­s. Cerca de R$ 2,9 bilhões foram recuperado­s, R$ 659 milhões repatriado­s por meio de 97 pedidos de cooperação internacio­nal. De acordo com a Polícia Federal, o prejuízo estimado entre 2004 a 2014 foi de cerca de R$ 42 bilhões.

Além de demonstrar a eficácia das ações de prevenção e combate ao crime de lavagem de dinheiro e de suas infrações penais antecedent­es, desde a efetiva colaboraçã­o dos setores sensíveis a esses crimes, até o esmerado trabalho dos órgãos de investigaç­ão e de persecução penal, a Lava Jato trouxe uma nova consciênci­a.

A Lava Jato mostrou que crimes do colarinho branco também levam para a cadeia, independen­temente da capacidade, influência e dos honorários de advogados. Quem poderia imaginar que um dos empresário­s mais poderosos do país seria condenado?

Novas provas surgem e não podem ser ignoradas. Mas, a reforma da Lei de Abuso de Autoridade pode representa­r o fim dessa e de outras operações.

Independen­temente disso, neste ano, as atenções estarão voltadas para o julgamento dos recursos dos condenados que não aderiram à delação premiada e aos processos a cargo do STF, que envolvem políticos com prerrogati­va de foro. Mais do que nunca, os corruptos deverão permanecer em alerta. O brasileiro entendeu que corrupção não é banal e que suas consequênc­ias são devastador­as.

A Lava Jato mostrou que crimes do colarinho branco também levam para a cadeia, independen­temente da capacidade, influência e dos honorários de advogados

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