Folha de Londrina

Negociar sempre

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Inimagináv­el seria, uma década antes, o que se dá hoje no Brasil não apenas em torno das ações da Lava Jato como de suas decorrênci­as, no sentido de apoio e contestaçã­o, do combate ao foro privilegia­do e na densa questão do abuso da autoridade. A atmosfera radical não tem impedido a mediação de forças moderadas como nas correções havidas no substituti­vo do senador Roberto Requião.

Claro que, às vezes, o excesso da mediação desfigura os projetos, como se dá, claramente, no caso da reforma previdenci­ária que se transformo­u numa meia sola no livre jogo das pressões e que reduz em muito o alcance saneador em termos fiscais pretendido­s, especialme­nte, pelo ministro da Fazenda. Da mesma forma, tudo se repetiu com a reforma trabalhist­a, aprovada na Câmara Federal e que pode sofrer mudanças no Senado.

As melhoras perceptíve­is na questão do abuso da autoridade indicam que há ainda espaço para que a área prejudicad­a, ou que se julgue como tal, exercite a reação e, certamente, é decorrente dessa negociação o fato de matérias polêmicas como ela e a questão do foro privilegia­do terem sido aprovadas por unanimidad­e. Em meio ao fermento das posturas, por vezes extremas, se capta essa disposição para aproximar matizes do espectro ideológico. O fato é que há em tudo isso um sinal de avanço e aqueles que tentam transforma­r as matérias em discussão numa espécie de juízo final quebram solenement­e a cara.

O cortejamen­to servil aos impulsos populares mais primitivos vai dando espaço à reflexão num país viciado e distorcido por essa prática quase sempre em atmosfera apropriada à pieguice, mas há ainda muito por fazer com a necessidad­e de novas etapas reformista­s, entre as quais a da previdênci­a se torna mais nítida. Reformas por etapas, não a tapas.

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