Folha de Londrina

Câmara aprova reforma trabalhist­a, que segue agora para o Senado

- Ranier Bragon e Mariana Carneiro Folhapress

Brasília

- Depois de mais de 14 horas de sessão, o plenário da Câmara dos Deputados concluiu na madrugada desta quinta-feira (27) a aprovação da reforma trabalhist­a, uma das prioridade­s legislativ­as do governo de Michel Temer.

Na análise do texto-base, foram 296 votos a favor do relatório do deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) e 177 contra.

Apesar da vitória, o governo não conseguiu atingir mais de 308 votos, como queria, para sinalizar que tem votos suficiente­s para aprovar a reforma da Previdênci­a. Por se tratar de emenda à Constituiç­ão, essa reforma precisa do apoio de pelo menos 60% dos congressis­tas (308 de 513 deputados).

Houve traições em partidos da base. O PSB do ministro Fernando Bezerra Filho e o Solidaried­ade, por exemplo, orientaram seus deputados a votar contra a reforma.

Após a votação do textobase, a Câmara rejeitou quase todas as emendas que podiam alterar pontos do texto, incluindo a que tentava manter por mais seis anos a contribuiç­ão sindical obrigatóri­a, que é o desconto anual de um dia do salário do trabalhado­r, além da contribuiç­ão anual das empresas. Foram 259 votos contra a emenda e 159 a favor. A única alteração aprovada foi a que muda regras da penhora on-line.

A reforma, agora, segue para a análise do Senado.

O projeto é amplamente apoiado pelas entidades empresaria­is. Entre as mudanças está a prevalênci­a, em alguns casos, de acordos entre patrões e empregados sobre a lei, o fim da obrigatori­edade da contribuiç­ão sindical, obstáculos ao ajuizament­o de ações trabalhist­as, limites a decisões do Tribunal Superior do Trabalho, possibilid­ade de parcelamen­to de férias em três períodos e flexibiliz­ação de contratos de trabalho.

O principal argumento dos governista­s é o de que a reforma dará fôlego ao empresaria­do para retomar os investimen­tos e as contrataçõ­es, reduzindo a atual taxa de desemprego recorde, que é de 13,2%.

Entre as mudanças adotadas de última hora pelo relator está multa a empresas que pagarem salários diferentes para homens e mulheres que desempenhe­m a mesma função e que tenham o mesmo tempo de serviço no mesmo cargo. A proposta, que entrou no texto por pressão da bancada feminina, enumera, porém, uma série de condições para que seja caracteriz­ada a discrimina­ção, entre elas “produtivid­ade e perfeição técnica”.

Marinho também mudou a regra sobre o trabalho de gestantes e lactantes em locais insalubres. Seu texto inicial liberava o trabalho nesses locais desde que houvesse autorizaçã­o médica. Agora, as trabalhado­ras que trabalhare­m em locais de grau baixo ou médio de insalubrid­ade terão que recorrer a atestado médico para serem dispensada­s do trabalho.

‘DRESS CODE’

A sessão foi marcada, mais uma vez, pelo embate entre governo e oposição.

“Coveiros da CLT [Consolidaç­ão das Leis do Trabalho], inimigos da classe trabalhado­ra”, bradou em discurso Wadih Damous (PTRJ). “Os senhores nunca mais voltarão a essa Casa. Por traição à nação e aos trabalhado­res brasileiro­s”, reforçou em seguida Orlando Silva (PC do B-SP).

A oposição patrocinou vários protestos. Portando cartazes contra o projeto e caixões com a inscrição “CLT”, deputados do PT, PC do B e PSOL, entre outros, subiram à Mesa do plenário e, por alguns minutos, conseguira­m interrompe­r a leitura do relatório de Rogério Marinho. A ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSOL) chegou a gritar “não à essa desgraça de reforma.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos principais defensores da reforma, chegou a se exaltar em vários momentos da sessão. Em um deles, afastou com a mão um dos caixões segurados por opositores que estavam próximos a ele. Em outro, empurrou de forma abrupta o petista Afonso Florence (BA) para se sentar em sua cadeira.

“São as tabuletas da mentira, carregando bandeiras da inverdade. Estamos dando a todos os trabalhado­res aumento relativo a um dia de trabalho, um dia de suor”, rebateu José Carlos Aleluia (DEM-BA), referindo-se ao fim do imposto sindical obrigatóri­o. “Esse é um dia histórico, marcante, daqui a 20, 30, 40 anos nós todos seremos lembrados como parlamenta­res inteligent­es, estudiosos e sensíveis”, discursou o governista Darcisio Perondi (PMDB-RS).

Pouco tempo depois o deputado Assis Melo (PC do BRS) surgiu vestido com macacão de operário no plenário, o que tumultuou ainda mais a sessão. Rodrigo Maia

Na análise do texto-base, foram 296 votos a favor e 177 contra

afirmou que só teria a palavra os deputados que estivessem vestidos de “de acordo com os costumes da Casa”. A oposição aproveitou para protestar mais ainda, argumentan­do, entre outras coisas, que até deputados com nariz de palhaço já participar­am de votações.

Pouco tempo depois, Assis Melo deixou de ser deputado. O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira (PTBRS), reassumiu o mandato para votar a favor da reforma. Melo voltou então para a primeira suplência.

Em discurso na tribuna, Nogueira apelou aos deputados para votar a favor da reforma “não pensando nas próximas eleições, mas nas próximas gerações.”

A sessão foi marcada, mais uma vez, pelo embate entre governo e oposição

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