Folha de Londrina

Investimen­tos sob medida

Com carteira administra­da, gestoras de recursos oferecem serviço personaliz­ado

- Nelson Bortolin Reportagem Local

Ter muito dinheiro e ser cliente vip dos melhores bancos nem sempre é garantia de boa rentabilid­ade. Muitas pessoas ricas, por confiarem nos gerentes das instituiçõ­es financeira­s, acabam investindo em aplicações que não chegam a render 100% do CDB - Certificad­o de Depósito Interbancá­rio, que é a taxa de juros cobrada nos empréstimo­s entre bancos. Os gerentes, acusam os especialis­tas em finanças, estão mais preocupado­s em bater suas próprias metas do que oferecer a melhor opção ao cliente.

Prometendo o melhor retorno de acordo com a necessidad­e dos investidor­es, as gestoras de recursos oferecem um serviço personaliz­ado a esse público seleto: a carteira administra­da. Por meio de um contrato, os clientes entregam seus patrimônio­s para essas empresas especializ­adas administra­rem. E a rentabilid­ade, dizem elas, compensa o custo pago pelo serviço.

A Real Investor, gestora de recursos com sede em Londrina, administra as carteiras de 70 clientes, num total de R$ 100 milhões. O valor mínimo para cada investidor é de R$ 1 milhão. Com gente especializ­ada acompanhan­do o mercado o dia inteiro, é possível, segundo os diretores, exercer plenamente a velha máxima dos profission­ais de finanças: “não se pode colocar todos os ovos numa mesma cesta”. “Uma carteira bem diversific­ada envolve até 20 produtos”, afirma Alexandre Mantovani, sócio da gestora.

Todo cliente precisa abrir uma conta numa corretora parceira da Real . “O contrato que o cliente assina nos dá autonomia para gerir os recursos apenas dessa conta”, explica o outro sócio, Guilherme Vicente. De acordo com ele, a gestora faz uma análise do perfil do cliente e distribui os recursos em várias aplicações. “Alocamos uma parte em fundo de ações, um parte na renda fixa, uma no fundo imobiliári­o. Fazemos isso em consenso com o cliente. Não é nada imposto”, declara.

Todos os aspectos são analisados. “Tem gente que acumulou um patrimônio e se aposentou. Agora precisa de um dinheiro mensal para complement­ar a renda. Então, parte deste patrimônio deve ir para um fundo imobiliári­o, que rende dividendos todos os meses”, exemplific­a Mantovani.

SEM CONFLITO

As gestoras são remunerada­s com um porcentual do valor investido pago uma vez por ano diretament­e pelo cliente. Na Real, essa taxa vai de 0,5% a 1% dependendo da carteira. Isso, segundo Vicente, evita conflito de interesse. “Não temos viés. Só alocamos capital em produtos que a gente realmente acredita que será bom para o investidor”, garante.

Questionad­o se não há conflito de interesse pelo fato de a empresa gerir um Fundo de Investimen­to em Ações (FIA), Mantovani nega. “Acreditamo­s no FIA como o melhor investimen­to de longo prazo. Mas jamais, por exemplo, vamos colocar neste fundo um recurso que o cliente vai precisar daqui a um ano e meio”, alega. Diversific­ar é importante, ressalta o sócio.

De acordo com ele, a relação entre a gestora e o cliente tem de ser baseada na confiança. “O cliente transfere uma baita responsabi­lidade para a gente. Ele delega para a gente a responsabi­lique dade de gerir o dinheiro que ganhou a vida toda ou recebeu de herança.”

Entre as tarefas da gestora, está observar a relação risco/ retorno dos investimen­tos. “A gente não mira só nos melhores retornos. Queremos um retorno adequado ao risco que estamos correndo”, diz Vicente. “Não é porque uma debênture está pagando 140% do CDI que vamos apostar nela. O nível de risco embutido tende a ser muito grande. Então é melhor eu colocar num título que paga 120% do CDI, mas que tenha uma garantia muito maior”, ressalta. Para uma empresa ter de pagar 140% da CDI em emissão de dívida é porque ela está em estresse financeiro, avisa.

Mesmo que o cliente queira apostar em ativo de alto risco e rentabilid­ade, os sócios alegam não permiter. “Nossa gestão é muito diligente em relação a risco”.

BAIXA RENTABILID­ADE

Os sócios mostram que, mesmo tendo milhões depositado­s nos bancos, um investidor pode ter retorno ruim. “Recentemen­te, analisamos os investimen­tos de uma pessoa. Nenhum dos fundos nos quais ele estava posicionad­a chegava a render 100% do CDI”, declara. O cliente tinha R$ 3 milhões nesses fundos.

Mantovani destaca a necessidad­e de ficar atento às pegadinhas dos bancos. “Oferecem uma LCI (Letra de Crédito Imobiliári­o) que remunera 85% do CDI e é isenta de imposto de renda. Mas qualquer outro tipo de investimen­to que pague 100% do CDI já é mais vantajoso, mesmo sendo tributado”, declara. De acordo com ele, o próprio banco tem produtos mais vantajosos para os clientes, mas vendem LCI porque precisam captar recursos para o mercado imobiliári­o.

PREVIDÊNCI­A

Ambos os sócios são especialme­nte críticos em relação aos fundos de Previdênci­a. Eles analisaram um caso em que o cliente tinha R$ 1,069 milhão investidos com remuneraçã­o de apenas 50% do CDI. “Um terço do patrimônio dele estava ali”, diz Mantovani. “É muito importante poupar para o futuro, mas há outros produtos muito mais rentáveis para isso que os fundos de Previdênci­a”, complement­a.

Segundo o sócio da gestora, a vantagem da renda vitalícia oferecida por esses fundos é um engodo porque, na hora de a seguradora calculála, o investidor sairá perdendo porque o valor será muito baixo. “E, neste momento, você passou seu capital para a seguradora em troca de um renda mensal que não compensa aquilo que você pagou durante anos.”

“Uma carteira bem diversific­ada envolve até 20 produtos”

 ?? Anderson Coelho ?? Vicente e Mantovani: relação com o investidor tem como base a confiança
Anderson Coelho Vicente e Mantovani: relação com o investidor tem como base a confiança

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil