Segurança alimentar
A agricultura é um dos pilares centrais da economia brasileira. Desde 1970, o Brasil incorporou o desafio de desenvolver um modelo de agricultura e pecuária para superar as barreiras que limitavam a produção de alimentos, fibras e energia renovável no País. Esse esforço ajudou o País a se transformar de um importador de alimentos a um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, o que o torna uma força motriz por trás dos sistemas globais de alimentação e segurança alimentar. Junto com políticas públicas colocadas em prática pelo governo, muito desse sucesso pode ser atribuído aos esforços de pesquisa e pesquisa e inovação empreendidos pela Embrapa e suas organizações parceiras.
Em adição a esses avanços expressivos em agricultura e alimentação, o Brasil também é reconhecido como um exemplo global por suas realizações na redução da pobreza, da fome e da subnutrição. O País tem alcançado considerável sucesso na redução do atraso no crescimento infantil, que coincidiu com rápidas mudanças em determinantes sociais-chaves da saúde e da nutrição.
Em anos recentes, no entanto, os ganhos na produção de alimentos não têm sido seguidos, em escala global, por ganhos equivalentes em densidade e qualidade nutricional. Mudanças nos padrões alimentares e aumento no consumo de alimentos ultraprocessados são os fatores principais que contribuem para o aumento de alimentos não saudáveis e de doenças não transmissíveis relacionadas a dietas, tais como infartos e diabetes. Hoje, a anemia atinge 20% das mulheres em idade reprodutiva, e a alimentação e a insegurança alimentar permanecem um problema em comunidades específicas. Mais da metade da população adulta no Brasil já se encontra com excesso de peso. Em 1975, o Brasil tinha a nona maior população de homens abaixo do peso do mundo, mas em 2014 foi posicionado como o terceiro país em termos globais no que se refere a homens obesos.
O Brasil desempenha um papel fundamental em movimentar sistemas globais de alimentação e modelar mercados globais. A fim de estimular uma sociedade saudável, uma mudança de abordagem é necessária. É crucial que o País não apenas apoie a produção e o consumo de alimentos mais saudáveis, mas também promova a implementação de políticas que promovam dietas de alta qualidade, seguras e acessíveis, sempre com base em dados e resultados científicos comprovados.
Felizmente, há sinais de que estamos indo na direção certa. Em 2014, as Orientações Dietéticas brasileiras estabeleceram um padrão para recomendações de dietas de alta qualidade, contendo quantidades mínimas de alimentos ultraprocessados.
Apesar das inciativas bem-sucedidas, há ainda muito a ser feito. Mais pesquisas agropecuárias com foco em nutrição são necessárias para subsidiar políticas de fortalecimento dos nossos sistemas alimentares. É por isso que a Embrapa e o Painel Global de Agricultura e Sistemas Alimentares de Nutrição estão trabalhando juntos para estabelecer a fundamentação para um futuro melhor, em que a nutrição receba grande prioridade na agenda de pesquisa e inovação para a agropecuária brasileira.
O Painel Global, do qual sou membro, recentemente publicou um artigo na revista científica Nature que oferece uma nova agenda global de pesquisa para sistemas alimentares. Ele propõe dez modos de mudar o foco da pesquisa em agricultura, alimentação e nutrição de uma perspectiva de alimentar as pessoas para uma outra, de nutri-las.
Creio que está na hora de institutos de pesquisa agropecuária e de alimentos destinarem uma atenção maior na busca de sistemas de produção e de saúde comprometidos com a promoção de dietas de alta qualidade, ao mesmo tempo em que antecipam e enfrentam os desafios do futuro.
Está na hora de institutos de pesquisa agropecuária e de alimentos destinarem uma atenção maior na busca de sistemas de produção e de saúde