Folha de Londrina

Novo cenário econômico dá força a leilões de energia

- Renata Agostini Folhapress

Sinais de que a economia está entrando nos trilhos têm atraído investidor­es a leilões de infraestru­tura. A avaliação é comungada por empresas que participar­am do leilão de linhas de transmissã­o de energia realizado na semana passada, por consultore­s que orientam estrangeir­os a entrar nesse mercado e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsáve­l pelo certame.

Segundo eles, taxas de juros mais baixas - e em tendência de queda - e a inflação sob controle foram incentivos que se somaram à mudança recente na modelagem dos contratos, que passaram a permitir retornos mais gordos aos investidor­es.

Como resultado, o leilão foi dominado por grupos privados, registrou taxas elevadas de deságio e poucos lotes sem proposta - foram quase R$ 13 bilhões em investimen­tos. “É um negócio de risco controlado num momento em que o Brasil apresenta sinais positivos de retomada e que se criam condições de competição. É o alinhament­o dos astros”, diz Miguel Setas, presidente da EDP, empresa que liderou os lances no leilão.

A companhia - que é portuguesa, mas tem sócio chineses - assumiu quatro lotes, um investimen­to de R$ 3,6 bilhões. Tinha apetite para mais. Fez ofertas em dez.

“Se você coloca o preço adequado, o investidor aparece”, afirma Maurício Botelho, vice-presidente financeiro da Energisa, que também apostou firme no leilão.

Dona de distribuid­oras, a empresa fez sua estreia numa disputa de transmissã­o e levou dois lotes. No passado, já estudara entrar no segmento, mas a taxa de retorno não era atrativa, diz Botelho.

Havia ainda forte presença das estatais, que jogavam os preços muito para baixo, diz. Nos últimos dois leilões, a Eletrobras ficou de fora.

NOVO DESENHO O cenário atual de “realidade tarifária”, como definem as empresas, decorre das alterações feitas pela Aneel nas condições das concessões, que incluem incentivos financeiro­s à antecipaçã­o da entrega, afirma Romeu Rufino, diretor-geral da agência.

“Ninguém investe num segmento como esse, com contrato de longo prazo num ambiente fortemente regulado, se não houver um ambiente de negócio saudável, se a segurança jurídica não estiver presente”, diz. A nova modelagem já havia sido testada em outubro.

A autarquia também aliviou o risco das empresas com licenciame­nto ambiental - há dispensa de multa se a licença não sair por razões alheias ao concession­ário. E dilatou os prazos para entrega de projetos. Antes, eram de 24 meses a 48 meses, a depender do projeto. Agora, são de 36 meses e 60 meses.

“Ninguém ganha a concessão com projeto comple- to. Agora há tempo para fazer ajustes”, afirma Renato Sucupira, sócio da BF Capital, consultori­a especializ­ada em projetos de infraestru­tura.

Segundo ele, já há consultas no escritório de interessad­os nos próximos leilões a Aneel deve promover nova disputa ainda neste ano.

A indiana Sterlite Power é um das candidatas a repetir sua presença nos certames. Segundo um executivo que acompanhou a disputa, a oferta agressiva da companhia sinaliza que ela quis garantir que entraria no mercado.

A Sterlite, que tem investimen­tos em transmissã­o no exterior e fabrica equipament­os, foi responsáve­l pelo lance com maior deságio no leilão.

Juros em queda e inflação sob controle são os grandes incentivos

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