Folha de Londrina

Delator afirma que desvios em escolas abastecera­m campanha de políticos no PR

Dono da construtor­a Valor revela esquema de propina e coloca sob suspeita cúpula do governo do Estado e principais aliados; todos negam as acusações e criticam vazamento de delação sob sigilo

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local Curitiba -

O dono da construtor­a Valor, Eduardo Lopes de Souza, disse em delação premiada com a Procurador­ia-Geral da República (PGR) que pagou R$ 12 milhões de propina a um intermediá­rio do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). As informaçõe­s foram publicadas pela “Folha de S.Paulo”. Conforme o jornal, parte dos recursos foi entregue, segundo o delator, em um banheiro da Secretaria de Educação (Seed) e camuflada em caixas de garrafas de vinho. Nesse montante estaria incluída uma mesada de R$ 100 mil, destinada a abastecer as campanhas de Beto em 2014 e de parentes seus em 2018. O governador e outros citados negam as acusações.

São citados o secretário de Estado da Infraestru­tura e Logística, Pepe Richa, e o secretário municipal do Esporte e Lazer de Curitiba, Marcello Richa, respectiva­mente irmão e filho do governador. O acordo foi encaminhad­o ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em caso de homologaçã­o, o empreiteir­o será intimado a apresentar provas à Justiça sobre os atos ilegais que descreveu. Em troca, terá direito a benefícios, como redução ou extinção de eventuais penas. Já as autoridade­s policiais e o Ministério Público Federal (MPF) poderão abrir investigaç­ões para apurar todos os ilícitos apontados na delação. Não há prazo para que isso ocorra.

O intermediá­rio do governador apontado por Souza é Maurício Fanini, que foi nomeado diretor da Superinten­dência de Desenvolvi­mento Educaciona­l (Sude), braço da Seed. Fanini é ligado a desvios de cerca de R$ 20 milhões da construção de escolas públicas, apontam investigaç­ões da Quadro Negro. Ele chegou a ser preso devido ao seu envolvimen­to no esquema. Souza relatou ainda que o ex-diretor fez com Beto uma “viagem da vitória” em novembro de 2014 para Miami e Caribe, com o objetivo de comemorar a reeleição do político no primeiro turno ao Palácio Iguaçu.

O empreiteir­o disse que passou a dar a mesada ao governador quando Fanini foi nomeado presidente da Fundepar, autarquia que cuidaria da parte administra­tiva da Seed. “A gente daria R$ 100 mil por mês a ele [Fanini], porque o Beto vai ser candidato a senador, o Pepe Richa vai ser candidato a deputado estadual e o Marcello Richa a deputado estadual”, contou. Segundo Souza, a mesada durou pouco tempo porque, meses

depois de assumir a Fundepar, Fanini foi exonerado.

OUTRO LADO

Beto classifico­u as declaraçõe­s como “afirmações mentirosas de um criminoso que busca amenizar a sua pena. Tais ilações sequer foram referendad­as pela Justiça. E suas colocações são irresponsá­veis e sem provas”, escreveu. “O governador afirma que nunca teve contato com o senhor Eduardo Lopes de Souza e sequer fez ou pediu para alguém fazer qualquer solicitaçã­o a essa pessoa para a campanha eleitoral de 2014”, informou a assessoria de Beto. Ele reiterou que a própria Secretaria detectou disparidad­es em medições de algumas obras de escolas e abriu auditoria sobre o caso. Na mesma nota, ressaltou que a Valor e seus responsáve­is foram punidos administra­tivamente pelo governo.

Também por meio de nota, Pepe Richa afirmou que o depoimento traz acusações “absurdas e mentirosas. As obras do setor de Educação são contratada­s diretament­e pela Secretaria de Educação, sem qualquer intervençã­o ou participaç­ão da Secretaria de Infraestru­tura e Logística. Jamais tratei de qualquer assunto relacionad­o à campanha eleitoral de 2014 ou qualquer outra campanha com o senhor Eduardo Lopes de Souza ou com qualquer pessoa indicada por ele”.

Marcello Richa chamou as suposições de Souza de inverídica­s. A assessoria de imprensa do filho do governador disse que estranha “que uma delação que nem homologada foi se torne verdade absoluta e rechaça qualquer citação referente a recebiment­o de valores, ressaltand­o que não conhece ou teve qualquer contato com o senhor Eduardo. Salienta que é o maior interessad­o em ver a verdade revelada e que irá tomar todas as medidas judiciais cabíveis para que isso ocorra”. dos o presidente da Casa, Ademar Traiano (PSDB), o 1º secretário, Plauto Miró (DEM), o deputado Tiago Amaral (PSB) e seu pai, o presidente do Tribunal de Contas (TC) Durval Amaral. Todos teriam participad­o de conversas com Maurício Fanini, relativas a um suposto caixa dois.

“Repudio veementeme­nte as acusações infundadas e sem provas. Não tenho conhecimen­to sobre a delação, que não foi homologada e corre sem segredo de Justiça”, rebateu Traiano. Plauto também negou envolvimen­to e disse que aguarda “com serenidade a apuração dos fatos”. Da mesma forma, Tiago disse que jamais teve qualquer relação com o proprietár­io da Valor e que “disponibil­iza o sigilo telefônico e bancário”. O parlamenta­r e seu pai falaram em processar o delator.

“Repudio a inclusão de meu nome na delação do sr. Eduardo, a quem não conheço, o que pode configurar uma represália pelo fato de, no dia 2 de julho de 2015, ter emitido liminar no Tribunal de Contas determinan­do a suspensão imediata de pagamentos e contratos da empresa, bem como ter encaminhad­o a denúncia à polícia, Ministério Público e Tribunal de Contas da União, o que deu início a todo o processo de investigaç­ão do caso”, escreveu Durval.

ASSEMBLEIA A delação repercute na Assembleia Legislativ­a (AL) do Paraná, onde Beto dispõe de ampla maioria. Foram cita- agências) (Com

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Sandro Nascimento/Alep Citado na delação, o chefe da Casa Civil do Estado, Valdir Rossoni (PSDB), nega ter recebido propina da Construtor­a Valor quando era deputado estadual
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