Folha de Londrina

Paraná é segundo em número de condenaçõe­s por improbidad­e

Levantamen­to do Instituto Não Aceito Corrupção aponta que 874 das 11 mil condenaçõe­s, entre 1995 e 2016, em todo o País ocorreram no Estado

- Loriane Comeli Reportagem Local

OParaná é o segundo estado com maior número de condenaçõe­s definitiva­s por improbidad­e administra­tiva, segundo pesquisa inédita feita pelo Instituto Não Aceito Corrupção, de São Paulo, divulgada esta semana.

Segundo os dados obtidos pela entidade no cadastro do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), entre 1995 e 2016, foram 874 condenaçõe­s transitada­s em julgado, ou seja, contra as quais não há mais possibilid­ade de recurso. São Paulo é o estado que lidera o ranking: 3.259. Em todo o País, são 11.607 condenaçõe­s decorrente­s de 6.806 processos.

Entre as 874, há apenas uma com trânsito em julgado contra o ex-prefeito Antonio Belinati, protagonis­ta do escândalo de corrupção na Prefeitura de Londrina em seu terceiro mandato (19972000), o conhecido caso AMA/Comurb. Segundo o cadastro do CNJ, em julho de 2015 transitou em julgado ação ajuizada em 2005.

Chama atenção o fato de que o Ministério Público ajuizou contra o ex-prefeito e integrante­s de seu governo 79 ações civis públicas por improbidad­e ou apenas para o ressarcime­nto do erário. Em levantamen­to feito pela FOLHA em 2015, 48 ainda tramitavam em primeira instância, ou seja, muito longe de alcançar o trânsito em julgado. Nestes dois anos, duas foram julgadas.

Outro ex-prefeito que figura na lista dos condenados por improbidad­e é Nedson Micheleti, que exerceu dois mandatos consecutiv­os entre 2001 e 2008.

Também estão no cadastro do CNJ nomes de ex-vereadores: Orlando Bonilha (com duas condenaçõe­s), que juntamente com uma dezena de colegas da legislatur­a de 2005 a 2008, foi acusado de integrar um grupo de achaque a empresário­s para aprovar projetos de lei na Câmara; e Joel Garcia (com quatro condenaçõe­s), que elegeu-se em 2009 e chegou a ser líder do ex-prefeito Barbosa Neto, mas acabou acusado por exigir vantagens indevidas.

Na lista dos políticos paranaense­s, também estão os ex-prefeitos de Maringá Jairo Gianoto e de Ponta Grossa Joselito Canto, envolvidos em esquemas corruptos em suas respectiva­s cidades.

VALORES

De acordo com os dados da pesquisa, as penalidade­s impostas ao réus somam R$ 3,2 bilhões, sendo que R$ 1,6 bilhão se refere a multas e R$ 1,5 milhões deve ser ressarcido, ou seja, foi desviado dos cofres públicos. Os bens confiscado­s somam R$ 126,8 milhões.

O Paraná é o sexto estado com maior volume de recursos a ser ressarcido – R$ 63 milhões. Novamente, São Paulo encabeça a lista, com o valor de R$ 456,5 milhões. Em seguida estão Maranhão (R$ 186,6 milhões); Rio de Janeiro (R$ 177,7 milhões); Rio Grande do Sul (R$ 77,8 milhões); e Ceará (R$ 65,4 milhões).

O presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, Roberto Livianu, promotor de Justiça no Estado de São Paulo, considera os dados significat­ivos e permitem, infelizmen­te, confirmar a recorrente afirmação de que o “Brasil é o país da corrupção”. “Não estamos falando de algo fora da realidade: os escândalos de corrupção se proliferam”, comenta. “Essas delações da Lava Jato, envolvendo valores gigantesco­s, são uma amostra do que acontece em todo o país.”

Entretanto, embora a Lava Jato tenha colocado o governo federal na berlinda (assim como o conhecido esquema do Mensalão, inteiramen­te julgado no Supremo Tribunal Federal), os dados do CNJ compilados pelo Instituto Não Aceito Corrupção revelam que a massa dos casos é de origem municipal. Do total de condenaçõe­s, 8.920 (77%) tramitaram na Justiça Estadual e o restante, na Federal. “Há principalm­ente casos nas prefeitura­s, de desvio de recursos na esfera municipal”, aponta Livianu, que também é doutor em Direito pela Universida­de de São Paulo.

Os dados também mostram que a maior parte da condenaçõe­s (10.829 casos) é de pessoas físicas contra 778 casos de empresas e entidades. Entre as pessoas físicas, 8.308 são agentes públicos (servidores e ocupantes de cargos eletivos e comissiona­dos).

RESSARCIME­NTO

Os dados revelam apenas o número de ações com condenação definitiva, o que não quer dizer que os condenados tenham ressarcido o erário ou pagado as multas. Após o trânsito em julgado é que começa o processo chamado de cumpriment­o de sentença ou execução. Não há dados de quanto do valor desviado voltou aos cofres públicos. No caso do AMA/Comurb, passados 17 anos, nada retornou.

Em razão disso, afirmou o promotor, é necessário aprimorar, no Brasil, o uso dos acordos de leniência e de colaboraçã­o premiada. Nestes casos, normalment­e, para obter redução das penas, o réu aceita, inclusive, devolver o que amealhou ilicitamen­te. “Na minha visão, precisamos retomar a discussão sobre a ampliação dos acordos penais, dos acordos de improbidad­e; são formas eficientes e rápidas, desejáveis para resolver casos. Os EUA utilizam muito os acordos. Além de uma série de vantagens, desafogam a Justiça.”

ELABORAÇÃO

Em que pese os dados apurados na pesquisa realizada pelo Instituto Não Aceito a Corrupção em parceria com a ABJ (Associação Brasileira de Jurimetria) sejam significat­ivos e ilustrem a situação do País, o promotor adverte que há “muitas inconsistê­ncias no cadastro do CNJ”.

No preenchime­nto pelos tribunais, após a condenação, nem sempre os dados constantes da sentença ou acórdão, como o valor, punição ou cargo do condenado, por exemplo, foram disponibil­izados corretamen­te. “Temos mais de 50% de problemas no preenchime­nto dos dados. É preciso um compromiss­o dos tribunais para registrar adequadame­nte.”

Livianu disse que o trabalho sobre improbidad­e continuará. “A disponibil­ização destes dados foi a primeira etapa. Agora, vamos começar uma segunda etapa, que é a análise dos dados”, explica. “No Brasil, temos o mau hábito de traçar caminhos e soluções baseadas em ‘chutes’ e não em evidências científica­s sólidas. O objetivo do instituto é justamente o de fazer o combate à corrupção inteligent­e, baseado em dados”, afirma o promotor, que fundou o instituto em 2015 com a participaç­ão de mais 30 pessoas.

O Paraná é o sexto estado com maior volume de recursos a ser ressarcido – R$ 63 milhões

 ?? Alex Furtado/Câmara dos Deputados ?? O presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, Roberto Livianu, diz que os dados confirmam a recorrente afirmação de que o “Brasil é o país da corrupção”
Alex Furtado/Câmara dos Deputados O presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, Roberto Livianu, diz que os dados confirmam a recorrente afirmação de que o “Brasil é o país da corrupção”

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