Alta trimestral do PIB de 0,3% é puxada pelo consumo das famílias
Agropecuária também chamou a atenção, com crescimento de 14,9%
Rio
- A alta de 0,3% no PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre ante igual período de 2016, informada nesta sexta-feira, dia 1º, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi a primeira variação positiva após 12 trimestres de queda. Já a alta de 0,7% no consumo das famílias, na mesma base de comparação, foi a primeira após nove quedas.
O desempenho da agropecuária também chamou atenção. A alta de 14,9% no PIB da agropecuária ante o segundo trimestre de 2016 foi a maior desde o primeiro trimestre de 2013, quando o avanço foi de 21,5%. Embora no terreno negativo, a queda de 0,3% no PIB de serviços também nessa base de comparação foi a maior variação desde o quarto trimestre de 2014, quando houve alta de 0,2%.
Na contramão, a queda do consumo do governo foi histórica. O tombo de 2,4% ante o segundo trimestre de 2016 só é superada, nessa base de comparação, pela queda de 2,8% registrada no quarto trimestre de 2000 ante igual período de 1999.
Já a queda de 0,3% no PIB de serviços no segundo trimestre ante igual período de 2016 foi a décima seguida. A queda de 2,1% no PIB da indústria na mesma base de comparação foi a 13ª consecutiva. Treze trimestres é também a sequência de recuos na FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo). No segundo trimestre deste ano, houve queda de 2,1% ante o segundo trimestre de 2016.
“O crescimento foi puxado por serviços e consumo das famílias”, disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE
Entre a série de fatores para explicar a alta do consumo das famílias, Rebeca citou a massa salarial crescendo em termos reais, “porque o salário real está crescendo, com a forte desaceleração da inflação”. “O aumento do salário real mais que compensou a queda na ocupação”, afirmou Rebeca, lembrando que houve também o efeito positivo da liberação dos recursos das contas inativas do FGTS. Outros fatores por trás da alta do consumo são as taxas de juros menores, embora o crédito ainda esteja caindo em termos reais.
Segundo Rebeca, o crescimento do PIB do segundo trimestre deste ano confirma a trajetória mais positiva da atividade econômica. “Olhando o ciclo, a partir do segundo semestre do ano passado, estamos em trajetória ascendente”, afirmou Rebeca. A pesquisadora frisou que o IBGE não data os ciclos econômicos, identificando o término da recessão, mas reconheceu que essa trajetória ascendente é “coerente com a saída de uma recessão”.
AJUSTE
Para ela, o ajuste fiscal conduzido pelos governos federal e estaduais afetou o desempenho da construção. A construção teve um recuo de 7% no segundo trimestre ante o mesmo período do ano passado, a principal contribuição negativa para o PIB industrial, que encolheu 2,1% no período. “Tem uma parte importante da construção que tem a ver com o setor público. Se você tem que fazer ajuste fiscal - e isso está acontecendo nos três níveis, especialmente no governo federal e Estados -, o mais fácil de cortar é investimentos. A parte de investimento público realmente está sofrendo”, contou Rebeca.
Quanto ao setor privado, a recuperação também é muito gradual, de médio e longo prazo. No segundo trimestre, a construção teve perda tanto pela parte imobiliária quanto pela infraestrutura, disse Rebeca. “Quem mais investe é governo e empresas. A família investe pouco, é muito menor comparado ao setor público e empresas”, explicou a pesquisadora.
PLANEJAMENTO
O Ministério do Planejamento divulgou nota nesta sexta-feira, segundo a qual, o resultado trimestral corresponde a um ritmo de crescimento anualizado de 1%. Para o ministério, a retomada do consumo das famílias e do setor de serviços decorre de medidas propostas pelo governo, como a permissão de saques das contas inativas do FGTS (Fundo de Garanta por Tempo de Serviço) e a redução dos juros do crédito consignado e do cartão de crédito.
“Vale dizer que, nos próximos meses, outras medidas favoráveis ao crescimento econômico deverão alcançar resultados similares, garantindo a manutenção da retomada da atividade, do emprego e da renda, de maneira sólida e sustentável”, afirmou a pasta, no documento.
Olhando o ciclo, a partir do segundo semestre do ano passado, estamos em trajetória ascendente”