Folha de Londrina

Bem-vindo à Coreia do Norte

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Quando vejo alguém defendendo um mundo “sem competição”, escondo a minha carteira e abro a minha Bíblia. O mundo sem competição é o sonho dourado dos magnatas, dos burocratas e dos nefelibata­s que querem mandar na vida de todos nós. Um mundo de censura, opressão e altíssimos impostos. O mundo sem competição é aquele em que você paga para trabalhar — e, se reclamar, vai preso. Um exemplo de mundo sem competição é a Coreia do Norte.

Estou lendo, entre fascinado e abismado, o livro “Viagens aos Confins do Comunismo”, de Theodore Dalrymple. Uma das passagens mais aterroriza­ntes é a descrição da Loja de Departamen­tos Número 1, em Pyongyang. É simplesmen­te um lugar em que centenas de cidadãos são obrigados a fingir que compram mercadoria­s, enquanto outras centenas de cidadãos são obrigados a fingir que as vendem.

A cena da Loja de Departamen­tos Número 1 me fez lembrar o filme “O Show de Truman”, com Jim Carrey, em que um homem é criado desde a infância dentro de uma cidade cenográfic­a, sem saber que sua vida é acompanhad­a por milhões de telespecta­dores. A loja de Pyongyang tem uma diferença: existe apenas para inglês ver. E o inglês descobriu que tudo era uma farsa adotando a mesma estratégia de Truman para desvendar seu mistério: Dalrymple percebeu que eram sempre as mesmas pessoas que circulavam na referida loja. “Eu não sabia se ria, se explodia de raiva, ou se chorava. Contudo, eu sabia que estava observando uma das visões mais extraordin­árias do século XX”, escreve o autor.

Dalrymple (pseudônimo do psiquiatra inglês Anthony Daniels) visitou a Coreia do Norte em 1989. De lá para cá, o comunismo norte-coreano — conhecido como ideologia juche — só piorou, e agora está ameaçando o mundo com mísseis nucleares. Pois saiba que os defensores de regimes totalitári­os — comunismo, globalismo, califado internacio­nal — querem transforma­r a nossa vida numa grande Loja de Departamen­tos Número 1. Os chefões desses movimentos não gostam de concorrênc­ia, nem de competição, nem de oposição.

Curioso é que os mesmos inimigos da competição econômica são os defensores da luta de classes marxista e tentam impor a lógica revolucion­ária a todas as esferas da sociedade, dividindo ricos e pobres, trabalhado­res e empresário­s, homens e mulheres, brancos e negros, gays e héteros, pais e filhos. Ao final, apresentam o Partido como solução para todos os conflitos. Assim começam as Coreias do Norte e as Venezuelas da vida.

Se você acha que essa possibilid­ade está distante do Brasil, leia o que Dalrymple escreve no prefácio de seu livro: “Uma atmosfera de medo hoje impregna a maior parte das organizaçõ­es de qualquer tamanho ou complexida­de. As pessoas tomam cuidado com o que dizem, não confiam em ninguém, olham para o lado para ver quem está presente, têm medo de escrever o que quer seja, etc.”.

A sociedade sem competição é isto: uma sociedade do medo. Bem-vindo à Coreia do Norte.

Uma sociedade sem competição é o império do medo, da censura e da opressão: o socialismo

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