Folha de Londrina

Cidadania contra a mediocrida­de

- WILSON FRANCISCO MOREIRA Wilson Francisco Moreira é agente penitenciá­rio e sociólogo em Londrina

A corrida eleitoral está para começar novamente. Outra vez veremos todos nossos problemas resolvidos na campanha. As lutas intestinas nos partidos e a busca por aliados já começou. Mas, afinal, o que é a política senão um bando de lobos digladiand­o-se pelo poder? É isso o que a realidade superficia­l nos tem mostrado constantem­ente. Seja na esfera federal, estadual ou municipal. A cada eleição e a cada intervalo entre elas há os “ajuntament­os” e “separações” entre políticos e partidos, que geralmente só são traumático­s para quem não vive de política, mas depende dela, como os mais necessitad­os que dependem do poder publico.

Em busca de conquistar o poder, os partidos fazem as alianças as mais flexíveis possíveis, nada é anormal na arena partidária pós-ditadura. A sopa de letrinhas desfila na tela televisiva no período eleitoral sem pudor algum. Aparecem juntos aqueles que se odiavam, acusam-se os que se amavam. Trocam siglas por apoios, por “governabil­idade” loteiam e esfacelam o feudo governista.

O fisiologis­mo partidário brasileiro parece coisa intrínseca, inseparáve­l. Uma caracterís­tica marcante em busca da sobrevivên­cia. Infelizmen­te, as exceções são cada vez mais difíceis de encontrar. Ideologias de todos os matizes não faltam, no entanto, pouco representa na prática os nomes que ostentam. Mas será que tudo isto ora exposto e visto por todos é definitivo? E toda a luta pela democracia? E todas as marchas e os movimentos de rua, de nada valem? E os pedidos por mudanças?

Alheios estamos nós, os comuns. Somos os puros que não participam das maracutaia­s. Aqueles orgulhosos de não sujar as mãos pelo poder e recusando a participaç­ão política. Talvez, esteja aí nosso erro anticidadã­o. Não percebemos que quando nos afastamos da política e a deixamos nas mãos de poucos, ela degenera.

Apesar da realidade, há esperança. O que nos permite afirmar isso é estarmos num estado democrátic­o de direito, e esperamos que continue assim. O que nos permite ter esperança é a democracia. Não em seu sentido formal simplesmen­te, mas no sentido de cidadania que é seu sentido forte. A cidadania prevê e impõe a participaç­ão e é justamente a participaç­ão que permite que possamos nos indignar e mostrar a voz, apontando novos caminhos, sempre dentro da democracia.

Embora muitos ainda pensem que precisamos de “salvadores da pátria” e de “guias”, a política precisa ser de cada vez mais pessoas, como mostraram os movimentos de rua que tivemos recentemen­te, e que precisam se inserir no mundo político partidário também. Por outro lado, precisamos ser vacinados contra o autoritari­smo e a intolerânc­ia que ainda vivem por aí e, por qualquer motivo, afloram. Ataques injustific­ados sejam terrorista­s ou não, contra pessoas apenas por sua condição de origem, crença, ou opção de vida, assim como ataques a instituiçõ­es são frutos do pensamento maniqueíst­a, que quer dividir o mundo e as pessoas entre bons e maus. Apenas somos diferentes, nada mais.

O que precisa ficar claro é que precisamos mais política, e não menos; mais democracia, e não menos. Participaç­ão política e cidadã, acompanham­ento do trabalho dos políticos e envolvimen­to nas questões locais. Eis uma boa receita para irmos além de um mundo de intolerânc­ia e maniqueíst­a.

Cidadania prevê direitos, deveres e responsabi­lidades e o período eleitoral é bom momento para se interessar pelas questões coletivas, mas não apenas nele. Política é a essência da organizaçã­o social e não podemos fugir disso.

Precisamos mais política, e não menos; mais democracia, e não menos”

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