Cidadania contra a mediocridade
A corrida eleitoral está para começar novamente. Outra vez veremos todos nossos problemas resolvidos na campanha. As lutas intestinas nos partidos e a busca por aliados já começou. Mas, afinal, o que é a política senão um bando de lobos digladiando-se pelo poder? É isso o que a realidade superficial nos tem mostrado constantemente. Seja na esfera federal, estadual ou municipal. A cada eleição e a cada intervalo entre elas há os “ajuntamentos” e “separações” entre políticos e partidos, que geralmente só são traumáticos para quem não vive de política, mas depende dela, como os mais necessitados que dependem do poder publico.
Em busca de conquistar o poder, os partidos fazem as alianças as mais flexíveis possíveis, nada é anormal na arena partidária pós-ditadura. A sopa de letrinhas desfila na tela televisiva no período eleitoral sem pudor algum. Aparecem juntos aqueles que se odiavam, acusam-se os que se amavam. Trocam siglas por apoios, por “governabilidade” loteiam e esfacelam o feudo governista.
O fisiologismo partidário brasileiro parece coisa intrínseca, inseparável. Uma característica marcante em busca da sobrevivência. Infelizmente, as exceções são cada vez mais difíceis de encontrar. Ideologias de todos os matizes não faltam, no entanto, pouco representa na prática os nomes que ostentam. Mas será que tudo isto ora exposto e visto por todos é definitivo? E toda a luta pela democracia? E todas as marchas e os movimentos de rua, de nada valem? E os pedidos por mudanças?
Alheios estamos nós, os comuns. Somos os puros que não participam das maracutaias. Aqueles orgulhosos de não sujar as mãos pelo poder e recusando a participação política. Talvez, esteja aí nosso erro anticidadão. Não percebemos que quando nos afastamos da política e a deixamos nas mãos de poucos, ela degenera.
Apesar da realidade, há esperança. O que nos permite afirmar isso é estarmos num estado democrático de direito, e esperamos que continue assim. O que nos permite ter esperança é a democracia. Não em seu sentido formal simplesmente, mas no sentido de cidadania que é seu sentido forte. A cidadania prevê e impõe a participação e é justamente a participação que permite que possamos nos indignar e mostrar a voz, apontando novos caminhos, sempre dentro da democracia.
Embora muitos ainda pensem que precisamos de “salvadores da pátria” e de “guias”, a política precisa ser de cada vez mais pessoas, como mostraram os movimentos de rua que tivemos recentemente, e que precisam se inserir no mundo político partidário também. Por outro lado, precisamos ser vacinados contra o autoritarismo e a intolerância que ainda vivem por aí e, por qualquer motivo, afloram. Ataques injustificados sejam terroristas ou não, contra pessoas apenas por sua condição de origem, crença, ou opção de vida, assim como ataques a instituições são frutos do pensamento maniqueísta, que quer dividir o mundo e as pessoas entre bons e maus. Apenas somos diferentes, nada mais.
O que precisa ficar claro é que precisamos mais política, e não menos; mais democracia, e não menos. Participação política e cidadã, acompanhamento do trabalho dos políticos e envolvimento nas questões locais. Eis uma boa receita para irmos além de um mundo de intolerância e maniqueísta.
Cidadania prevê direitos, deveres e responsabilidades e o período eleitoral é bom momento para se interessar pelas questões coletivas, mas não apenas nele. Política é a essência da organização social e não podemos fugir disso.
Precisamos mais política, e não menos; mais democracia, e não menos”