‘Populismo não cabe mais na Câmara’
Para analista político, vereador cassado errou na postura e ameaçou estabilidade conquistada pela Casa após anos tumultuados
Oprofessor de ética e filosofia política da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Clodomiro Bannwart Junior, analisou o resultado da cassação do agora ex-vereador Emerson Petriv (PR), conhecido por Boca Aberta, e apontou que sua cassação é resultado de uma pauta altamente populista que ele carregou para dentro da Câmara, gerando instabilidade permanente dentro do legislativo. “Nesses primeiros meses da legislatura só houve tumulto. Havia a necessidade de apagar incêndios gerados por um vereador totalmente explosivo. É uma postura tão populista que gera instabilidade institucional do funcionamento da própria Câmara. É um tipo de agenda que não cabe mais na política.”
O professor ressaltou que Boca Aberta monopolizou a pauta de forma que ele se tornou objeto da própria pauta. “Ele canalizou a Câmara Municipal em torno dele em todo esse período em que ele esteve no legislativo e não gerou nada positivo para a sociedade”, observou.
Bannwart destacou que o poder legislativo geralmente possui uma postura um tanto corporativista e comparou o que ocorreu em Londrina Aécio Neves. O senado quer salvá-lo, mas ao mesmo tempo tem a questão da opinião pública”, aponta. No caso do Boca Aberta, analisa Bannwart, havia grande probabilidade pela cassação, porque a Câmara Municipal passou por crises no passado e nos últimos anos ela conseguiu uma certa estabilização institucional. “Essa normalidade estava sendo desafiada pela postura muito populista do vereador”, realça o professor.
Questionado se uma parcela grande da população não estaria se sentindo traída, já que ele foi o vereador mais votado do Paraná, o professor responde que a política, de um modo geral, acolhe representatividade de várias parcelas da população. “A forma como ele fez a campanha e como ele chega à Câmara Municipal é lastreada por um tipo de política populista. O que fica evidenciado, sobretudo para esse eleitorado, é que não temos mais espaço para posturas populistas dentro da política institucional. O populismo já não é a pauta fundamental para o exercício da atividade política”, apontou.
Bannwart afirmou que Londrina conseguiu depurar essa questão do populismo gerindo a política. Ele argumentou que isso ficou evidenciado na postura do prefeito Marcelo Belinati. “Ele veio de um contexto político, que hoje caminha na direção oposta daquilo que foi a grande herança dele (referindo-se à herança política do tio Antônio Belinati, que foi cassado enquanto prefeito). Para o professor, a cassação de Petriv fica como exemplo de caráter pedagógico para que a escolha dos representantes do povo seja realizada com um pouco mais de clareza.
Ele compara o caso de Petriv com o do presidente americano Donald Trump. “Embora seja muito distante da gente, é um exemplo disso. Como esse maluco vai gerir a presidência da maior potência do mundo? Ele não vai gerir a partir do arbítrio. Ele vai ter que se enquadrar dentro de um regramento institucional”, argumentou. Segundo ele, a democracia é mais forte que esse caráter arbitrário de quem chega ao comando. “Aqui é a mesma coisa. Não é porque eu chego chutando a porta e tenho apoio da população que isso seja suficiente para gerir a coisa pública. Você tem que se enquadrar dentro de parâmetros institucionais. Esses aspectos nós conseguimos fortalecer nos anos de democracia e esses elementos não podem ser jogados fora”, reforçou.
Bannwart admitiu que algumas pautas que Petriv apresentou ao longo do percurso foram bastante instigantes e incisivas em relação aos problemas que a cidade possui. “Talvez o grande erro dele tenha sido a forma como ele colocou esses problemas. A maneira como ele agiu e se posicionou não coaduna com o exercício do legislativo. É uma pauta muitas vezes focada na postura individualista, pessoal, e não como representante do legislativo municipal. Ele tem muita razão no que ele coloca, nas bandeiras que ele defendia, mas errou muito na forma, dando caráter pessoal na resolução dos problemas. Nesse aspecto acho que ele exagerou na dose”, apontou.
Sobre a chegada do suplente de Petriv para o cargo na Câmara, Bannwart ressalta que José Roque Neto possui uma postura mais equilibrada e estável. “É uma grande ponderação, sobretudo lá atrás, quando Roque Neto assume a prefeitura em um contexto de crise. Ele conseguiu levar a gestão da administração pública com uma postura de grande tranquilidade. Eu acho que a vinda do Roque Neto para a Câmara vai imprimir essa postura mais equilibrada. Isso não significa que não tenhamos disputas ou debates acirrados, mas eles devem acontecer dentro de um equilíbrio institucional”, projetou.
Como Roque Neto ocupava um cargo comissionado na Secretaria Municipal de Assistência Social, sua saída pode mexer mais uma vez no tabuleiro político da administração municipal. “Essa é uma questão política que a administração municipal terá de avaliar. É uma decisão do prefeito e do grupo dele. Quando eleito, Marcelo Belinati teve grande abertura para acomodar todos os apoiadores de campanha e que acabaram dentro da administração municipal”, concluiu.
com a atividade política na esfera federal. “O caso mais emblemático que vamos ter esta semana é a votação da cassação do senador
- A Câmara disponibilizou em seu site áudios recuperados pela perícia da Polícia Federal que estavam em sigilo por determinação do STF (Supremo Tribunal Ele tem muita razão no que ele coloca, nas bandeiras que defendia, mas errou na forma, dando caráter pessoal na resolução dos problemas”