Folha de Londrina

‘Populismo não cabe mais na Câmara’

Para analista político, vereador cassado errou na postura e ameaçou estabilida­de conquistad­a pela Casa após anos tumultuado­s

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Oprofessor de ética e filosofia política da UEL (Universida­de Estadual de Londrina), Clodomiro Bannwart Junior, analisou o resultado da cassação do agora ex-vereador Emerson Petriv (PR), conhecido por Boca Aberta, e apontou que sua cassação é resultado de uma pauta altamente populista que ele carregou para dentro da Câmara, gerando instabilid­ade permanente dentro do legislativ­o. “Nesses primeiros meses da legislatur­a só houve tumulto. Havia a necessidad­e de apagar incêndios gerados por um vereador totalmente explosivo. É uma postura tão populista que gera instabilid­ade institucio­nal do funcioname­nto da própria Câmara. É um tipo de agenda que não cabe mais na política.”

O professor ressaltou que Boca Aberta monopolizo­u a pauta de forma que ele se tornou objeto da própria pauta. “Ele canalizou a Câmara Municipal em torno dele em todo esse período em que ele esteve no legislativ­o e não gerou nada positivo para a sociedade”, observou.

Bannwart destacou que o poder legislativ­o geralmente possui uma postura um tanto corporativ­ista e comparou o que ocorreu em Londrina Aécio Neves. O senado quer salvá-lo, mas ao mesmo tempo tem a questão da opinião pública”, aponta. No caso do Boca Aberta, analisa Bannwart, havia grande probabilid­ade pela cassação, porque a Câmara Municipal passou por crises no passado e nos últimos anos ela conseguiu uma certa estabiliza­ção institucio­nal. “Essa normalidad­e estava sendo desafiada pela postura muito populista do vereador”, realça o professor.

Questionad­o se uma parcela grande da população não estaria se sentindo traída, já que ele foi o vereador mais votado do Paraná, o professor responde que a política, de um modo geral, acolhe representa­tividade de várias parcelas da população. “A forma como ele fez a campanha e como ele chega à Câmara Municipal é lastreada por um tipo de política populista. O que fica evidenciad­o, sobretudo para esse eleitorado, é que não temos mais espaço para posturas populistas dentro da política institucio­nal. O populismo já não é a pauta fundamenta­l para o exercício da atividade política”, apontou.

Bannwart afirmou que Londrina conseguiu depurar essa questão do populismo gerindo a política. Ele argumentou que isso ficou evidenciad­o na postura do prefeito Marcelo Belinati. “Ele veio de um contexto político, que hoje caminha na direção oposta daquilo que foi a grande herança dele (referindo-se à herança política do tio Antônio Belinati, que foi cassado enquanto prefeito). Para o professor, a cassação de Petriv fica como exemplo de caráter pedagógico para que a escolha dos representa­ntes do povo seja realizada com um pouco mais de clareza.

Ele compara o caso de Petriv com o do presidente americano Donald Trump. “Embora seja muito distante da gente, é um exemplo disso. Como esse maluco vai gerir a presidênci­a da maior potência do mundo? Ele não vai gerir a partir do arbítrio. Ele vai ter que se enquadrar dentro de um regramento institucio­nal”, argumentou. Segundo ele, a democracia é mais forte que esse caráter arbitrário de quem chega ao comando. “Aqui é a mesma coisa. Não é porque eu chego chutando a porta e tenho apoio da população que isso seja suficiente para gerir a coisa pública. Você tem que se enquadrar dentro de parâmetros institucio­nais. Esses aspectos nós conseguimo­s fortalecer nos anos de democracia e esses elementos não podem ser jogados fora”, reforçou.

Bannwart admitiu que algumas pautas que Petriv apresentou ao longo do percurso foram bastante instigante­s e incisivas em relação aos problemas que a cidade possui. “Talvez o grande erro dele tenha sido a forma como ele colocou esses problemas. A maneira como ele agiu e se posicionou não coaduna com o exercício do legislativ­o. É uma pauta muitas vezes focada na postura individual­ista, pessoal, e não como representa­nte do legislativ­o municipal. Ele tem muita razão no que ele coloca, nas bandeiras que ele defendia, mas errou muito na forma, dando caráter pessoal na resolução dos problemas. Nesse aspecto acho que ele exagerou na dose”, apontou.

Sobre a chegada do suplente de Petriv para o cargo na Câmara, Bannwart ressalta que José Roque Neto possui uma postura mais equilibrad­a e estável. “É uma grande ponderação, sobretudo lá atrás, quando Roque Neto assume a prefeitura em um contexto de crise. Ele conseguiu levar a gestão da administra­ção pública com uma postura de grande tranquilid­ade. Eu acho que a vinda do Roque Neto para a Câmara vai imprimir essa postura mais equilibrad­a. Isso não significa que não tenhamos disputas ou debates acirrados, mas eles devem acontecer dentro de um equilíbrio institucio­nal”, projetou.

Como Roque Neto ocupava um cargo comissiona­do na Secretaria Municipal de Assistênci­a Social, sua saída pode mexer mais uma vez no tabuleiro político da administra­ção municipal. “Essa é uma questão política que a administra­ção municipal terá de avaliar. É uma decisão do prefeito e do grupo dele. Quando eleito, Marcelo Belinati teve grande abertura para acomodar todos os apoiadores de campanha e que acabaram dentro da administra­ção municipal”, concluiu.

com a atividade política na esfera federal. “O caso mais emblemátic­o que vamos ter esta semana é a votação da cassação do senador

- A Câmara disponibil­izou em seu site áudios recuperado­s pela perícia da Polícia Federal que estavam em sigilo por determinaç­ão do STF (Supremo Tribunal Ele tem muita razão no que ele coloca, nas bandeiras que defendia, mas errou na forma, dando caráter pessoal na resolução dos problemas”

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Anderson Coelho A cassação do vereador deve ficar como exemplo para que a escolha dos representa­ntes do povo seja realizada com um pouco mais de clareza, sugere professor de ética e filosofia política

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