Folha de Londrina

Os números indicam a necessidad­e de difundir informaçõe­s e ensinar adolescent­es e jovens adultos”

- Lais Taine Reportagem Local

Pabllo Vittar esquenta o clima e aponta uma camisinha para o parceiro no clipe da música “Corpo Sensual”. A cantora fez parceria com o Ministério da Saúde para incentivar o uso do preservati­vo e caiu em polêmica, demonstran­do a falta de informação dos jovens brasileiro­s quanto à sexualidad­e. Entre a chuva de comentário­s, os questionam­entos sobre a necessidad­e do uso, já que a artista, sendo homem, não poderia engravidar.

Esse cenário foi apresentad­o em um evento promovido pela empresa farmacêuti­ca e química Bayer, por meio da pesquisa feita em parceria com o Departamen­to de Ginecologi­a da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universida­de Federal de São Paulo). Dos 2.000 homens entre 15 e 25 anos entrevista­dos em dez capitais, 73% afirmaram que já fizeram sexo sem proteção. Embora a maioria (72%) acredite que o casal tenha a responsabi­lidade pela contracepç­ão e prevenção de DSTs (doenças sexualment­e transmissí­veis), apenas 31% previnem-se.

A artista rebateu no Twitter: “Camisinha não é usada só pra prevenir gravidez não queridos, existem as DSTs também! Protejam-se vittarlove­rs”. Segundo o Ministério da Saúde, 40 mil novos casos de DST são detectados anualmente - o número correspond­e a mais do que o dobro de mulheres infectadas com o HIV, evidencian­do a falta de prevenção e baixa adesão ao preservati­vo masculino.

Ainda que a maioria defenda ser uma responsabi­lidade do casal, a pesquisa aponta que 48% preferem que suas parceiras tomem pílula anticoncep­cional e apenas 24% são a favor do uso concomitan­te dos dois métodos. “Os números indicam uma realidade delicada e mostram a necessidad­e de difundir informaçõe­s e ensinar adolescent­es e jovens adultos. Conscienti­zar para prevenir é o melhor caminho”, afirma Afonso Nazário, ginecologi­sta e professor da Unifesp.

Os motivos para a falta de uso da camisinha são variados: não ter o produto no momento, não querer estragar a diversão, se esquecer de usar, decidir se arriscar e estar alcoolizad­o ou sob efeito de droga foram citados. Porto-alegrenses e curitibano­s são os que mais se preocupam com as doenças sexualment­e transmissí­veis, somando 48%, mas apenas 4% deles usam preservati­vo em todas as relações sexuais, diferentem­ente dos goianos - 44% deles afirmaram utilizar a camisinha em todas as relações.

GRAVIDEZ NÃO PLANEJADA

Além das DST, outro problema gerado pela falta da prevenção é a gravidez não planejada. De acordo com o Instituto Oswaldo Cruz, 30% das gestações no País fazem parte da categoria. Embora tenha sido citada como a segunda maior preocupaçã­o entre os homens ouvidos (31%), seguido pelo medo de contrair DST (34%), muitos ainda não conhecem outras opções de métodos contracept­ivos. Mais de 40% não sabem sobre o DIU de cobre e mais da metade não tem informação sobre o anel vaginal (54,7%), implante hormonal (52,7%) ou diafragma (50,2%).

As consequênc­ias físicas, psíquicas e sociais de uma gravidez não planejada podem ser graves e, associadas à precocidad­e, são ainda piores. Segundo a ginecologi­sta e obstetra Albertina Duarte Takiuti, 10% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil são gastos com as consequênc­ias da gravidez na adolescênc­ia.

Uma pesquisa publicada pela US National Library of Medicine mostra que metade das gestações não planejadas do mundo acaba em abortos e, muitas vezes, em óbitos. “As mulheres não deveriam ter gestações não planejadas porque é um risco para a saúde dela e do bebê. Nesse sentido, os contracept­ivos modernos contribuem na diminuição das taxas de mortalidad­e maternal e infantil e trazem outros benefícios, como regulação do ciclo menstrual, reduzem o risco de câncer ovariano e endometria­l, entre outros”, afirma Dustin Costescu, ginecologi­sta e obstetra na McMaster University, no Canadá.

Em contrapont­o, os contracept­ivos hormonais estão em discussão entre grupos de mulheres sobre seus efeitos na saúde, mas o canadense afirma que os medicament­os são seguros. “Quando falamos dos riscos dos medicament­os, que são baixos, fazemos com que várias mulheres parem de utilizar e criamos outros perigos maiores, como a gravidez não planejada e o aumento do número de abortos”, argumenta. Por isso, o ginecologi­sta explica que para cada paciente existe um método que possa satisfazê-la. “O melhor método é aquele que ela ache melhor e quando ela decide, nós devemos encorajá-la e parabenizá-la pela preocupaçã­o”, acrescenta.

Takiuti, que também é coordenado­ra do Programa Estadual do Adolescent­e da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, defende que a mulher é livre para decidir se quer ou não usar contracept­ivos hormonais, mas que ela deve ser empoderada para buscar outros métodos e exigir o uso do preservati­vo. “Não quer usar anticoncep­cional, use a camisinha e exija: ‘sem camisinha, não transo’. Como dizer que é empoderada se tem vergonha de usar camisinha feminina? É tudo uma mudança de atitude, mas tem que começar agora, porque leva anos”, argumenta.

Como alternativ­a segura, foi citado o DIU (dispositiv­o intrauteri­no) de cobre e ressaltara­m que métodos confiáveis devem ser diferencia­dos daqueles que não trazem a segurança necessária, como o coito interrompi­do e o monitorame­nto da fertilidad­e por meio da “tabelinha”. “Assim como o medo de falhar afeta alguns homens, a mulher tem muito medo de não agradar, ela precisa se impor e não ter medo de dizer que sem camisinha ela não transa. Usar preservati­vo é questão de gênero, de posicionam­ento da mulher”, ressalta a ginecologi­sta.

A repórter viajou a convite da Bayer

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Shuttersto­ck Maioria dos entrevista­dos acredita que o casal tem a responsabi­lidade pela contracepç­ão e prevenção de DSTs, mas apenas 31% previnem-se
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