Folha de Londrina

Falta de discussão gera desinforma­ção

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A sexualidad­e é ainda um tabu em nossa cultura e a falta de discussão nas famílias, nas escolas, igrejas ou em qualquer grupo social gera desinforma­ção. Dos entrevista­dos pela pesquisa feita no Brasil, 60% dos jovens afirmaram que tiram dúvidas sobre sexo na internet e apenas 5% procuram ajuda de profission­ais de saúde.

Laura Muller, jornalista, psicóloga e educadora sexual, relata as dificuldad­es de passar a informação para crianças e adolescent­es. “Para quem está iniciando a vida sexual, pode ser muito complexo, requer antecipaçã­o: ir ao médico para escolher o método anticoncep­cional, retirar na farmácia ou nos postos de saúde, usar o método, e tudo isso não é simples, é difícil lidar com essas situações”, explica.

No âmbito psicológic­o, Muller enumera quatro eixos que preocupam os jovens em relação à sexualidad­e: gravidez fora de hora, DSTs (doenças sexualment­e transmissí­veis), a prática do sexo em si e a diversidad­e sexual. Ao mesmo tempo, esses jovens estão passando por dilemas existencia­is e profission­ais. “A informação é fundamenta­l, mas é necessária uma educação compartilh­ada que envolva boas fontes, instituiçõ­es e profission­ais capacitado­s. Aos pais, o trabalho de orientação e acolhiment­o desses jovens, que estão passando por um momento de transição”, argumenta.

A ginecologi­sta responsáve­l pelo Programa Estadual do Adolescent­e da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Albertina Duarte Takiuti, afirma que é preciso promover uma mudança de cultura e aposta nas rodas de conversa com metodologi­as menos formais. “A gravidez na adolescênc­ia não é resultado de escolhas deliberada­s, mas da falta de opções. É uma consequênc­ia, também, do pouco ou nenhum acesso à escola, informaçõe­s e serviços de saúde”, ressalta a ginecologi­sta. A pesquisa aponta que, para mais da metade dos entrevista­dos do sexo masculino (56,2%), a educação sexual nas escolas é insuficien­te, ainda que seja considerad­o por 52,2% deles o local mais comum de aprendizad­o sobre esse assunto.

No entanto, o ginecologi­sta da Unifesp, Afonso Nazário, afirma que a educação sexual no Brasil esbarra em muitos obstáculos, como a religião e partidos políticos. “Quando se inicia um programa de educação sexual importante, há muitas reclamaçõe­s por questões religiosas. No entanto, sem essas informaçõe­s, os jovens buscam na internet e descobrem por meio de fontes não seguras”, informa.

Quando se trata de tirar dúvidas, a internet é a principal fonte de informação. “E o problema da internet é a fonte utilizada”, explica o ginecologi­sta. Porém, as formas de conhecimen­to sobre o assunto vêm com os pais (39,8%), amigos (37,8%), livros ou revistas (35,3%), sites educaciona­is (31,8%), materiais pornográfi­cos (29,9%) e, somente em último lugar, os médicos (25,9%).

A falta de educação sexual tem consequênc­ias desastrosa­s. No Brasil, o aborto não é legalizado, portanto não há número seguro de quantos são realizados no País. Além do risco durante a gravidez, a adolescent­e pode optar por clínicas clandestin­as, potenciali­zando ainda mais os perigos. Por isso, os profission­ais capacitado­s agem dentro da lei, pedindo a urgência de educação sexual como forma de distribuir informação de qualidade e evitar as consequênc­ias de uma gravidez não planejada, além de diminuir as taxas de DSTs.

“Conhecer seu corpo e os métodos contracept­ivos disponívei­s lhe dará mais liberdade e confiança para tomar decisões na sua vida. Fale abertament­e sobre sexo e contracepç­ão com seu médico e se mantenha no controle do seu corpo e da sua vida sexual. A escolha é sua”, orienta Nazário.

(L.T.)

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