Folha de Londrina

Dia do Gaúcho

- José Pedro da Rocha Neto JOSÉ PEDRO DA ROCHA NETO é engenheiro civil em Londrina

Por que nós, paranaense­s, temos dificuldad­es em marcar, culturalme­nte, o nosso Estado?

Poucos anos atrás, a nossa empresa construtor­a estava realizando diversas adaptações em agências bancárias no Rio Grande do Sul. Isso obrigou-me a frequentar com assiduidad­e aquele Estado por diversos meses. Com isso, vivenciar os costumes, os usos e a própria cultura gaúcha.

Em princípio, para mim, nenhuma novidade quanto a isso. Mesmo porque, no passado, o Paraná fazia divisa com este Estado através do Rio Uruguai. Assim, a região de Palmas (Paraná), terra de muitos dos nossos antepassad­os, limitava-se ao sul com tal região. Principalm­ente, a partir de 1840/1845, quando estradas foram abertas com a finalidade de buscar o gado missioneir­o, trazê-lo para Palmas e Guarapuava e, a partir daí, alcançar Sorocaba (SP). Assim que essas estradas foram abertas, evidenteme­nte o intercâmbi­o comercial e social viu-se expandido a ponto de se adotar os mesmos usos e costumes da região missioneir­a. Portanto, a cultura gaúcha sempre fez parte integrante dos palmenses e guarapuava­nos.

Dirigindo, coordenand­o e supervisio­nando tais serviços, durante o tempo que lá estive, vivenciei a cultura gaúcha que já de início, a meu ver, era muito impactante sobre qualquer pessoa que tivesse origem fora daquele Estado. O meu caso. Em qualquer hotel que me hospedei, diariament­e, já pelas primeiras horas da manhã, fui despertado por uma agradável música gaúcha, de certa forma saudosa, que a meu ver marcava e definia o Rio Grande do Sul. A meu ver, uma canção símbolo daquele Estado. A seguir, as costumeira­s músicas tradiciona­is. Todas, com marcante melodia e excepciona­is versos que se referiam à vida do gaúcho. A maioria declamada e que, no seu conjunto e contexto, marcava a alma do mesmo e, nessa ocasião, até a minha.

Viajando em todo aquele território, com o rádio do meu veículo sintonizad­o, impossível desligá-lo, pois de certa forma aquilo fazia-me bem. Executando serviços na própria em Porto Alegre, precisei de uma equipe de pintores. Apresentou­se, então, Pedro Dornelles, acompanhad­o de vários funcionári­os seus, que acabei contratand­o e, jocosament­e, o tratava como parente do expresiden­te Getulio Dornelles Vargas. Tornamonos amigos, pois ele e sua equipe nos atenderam satisfator­iamente.

Num dia do mês de setembro, Pedro comunicou-me que ele e sua equipe não viriam trabalhar. No meu calendário nenhum feriado existia e, diante disso, de início não concordei, pois tinha um cronograma a ser atendido. Contestand­o-me, Pedro Dornelles disse-me que era o principal feriado para ele e sua equipe: o “Dia do Gaúcho”. Essa comemoraçã­o respeitosa tivera início logo após a Revolução Farroupilh­a por volta de 1835 e, para todos os gaúchos, esse dia era sagrado. Na véspera desse dia (19 de setembro), Pedro e toda a sua equipe comparecer­am ao local de serviço (embora não a trabalho), e todos estavam vestidos com botas, bombachas, camisas típicas e chapéus. Assim que os vi adentrando a obra, ri desbragada­mente, pois a meu ver era uma coisa ridícula. Estavam fantasiado­s de gaúchos. Eles apenas tinham vindo ao local para comprovare­m que estavam indo à festa. Provavelme­nte, algum CTG (Centro de Tradições Gaúchas) perto da obra.

Assim que comecei a rir, um deles pegou o violão e iniciou uma música gaúcha. Todos eles começaram a cantar e dançar ali mesmo naquela área de serviços. Pedro Dornelles, acompanhan­do o violeiro, com voz forte cantou e declamou os lindos versos daquelas músicas. Nunca mais esqueci o tal Dia do Gaúcho. Por que nós, paranaense­s, temos dificuldad­es em marcar, culturalme­nte, o nosso Estado? Viva o Dia do Gaúcho!

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