Dia do Gaúcho
Por que nós, paranaenses, temos dificuldades em marcar, culturalmente, o nosso Estado?
Poucos anos atrás, a nossa empresa construtora estava realizando diversas adaptações em agências bancárias no Rio Grande do Sul. Isso obrigou-me a frequentar com assiduidade aquele Estado por diversos meses. Com isso, vivenciar os costumes, os usos e a própria cultura gaúcha.
Em princípio, para mim, nenhuma novidade quanto a isso. Mesmo porque, no passado, o Paraná fazia divisa com este Estado através do Rio Uruguai. Assim, a região de Palmas (Paraná), terra de muitos dos nossos antepassados, limitava-se ao sul com tal região. Principalmente, a partir de 1840/1845, quando estradas foram abertas com a finalidade de buscar o gado missioneiro, trazê-lo para Palmas e Guarapuava e, a partir daí, alcançar Sorocaba (SP). Assim que essas estradas foram abertas, evidentemente o intercâmbio comercial e social viu-se expandido a ponto de se adotar os mesmos usos e costumes da região missioneira. Portanto, a cultura gaúcha sempre fez parte integrante dos palmenses e guarapuavanos.
Dirigindo, coordenando e supervisionando tais serviços, durante o tempo que lá estive, vivenciei a cultura gaúcha que já de início, a meu ver, era muito impactante sobre qualquer pessoa que tivesse origem fora daquele Estado. O meu caso. Em qualquer hotel que me hospedei, diariamente, já pelas primeiras horas da manhã, fui despertado por uma agradável música gaúcha, de certa forma saudosa, que a meu ver marcava e definia o Rio Grande do Sul. A meu ver, uma canção símbolo daquele Estado. A seguir, as costumeiras músicas tradicionais. Todas, com marcante melodia e excepcionais versos que se referiam à vida do gaúcho. A maioria declamada e que, no seu conjunto e contexto, marcava a alma do mesmo e, nessa ocasião, até a minha.
Viajando em todo aquele território, com o rádio do meu veículo sintonizado, impossível desligá-lo, pois de certa forma aquilo fazia-me bem. Executando serviços na própria em Porto Alegre, precisei de uma equipe de pintores. Apresentouse, então, Pedro Dornelles, acompanhado de vários funcionários seus, que acabei contratando e, jocosamente, o tratava como parente do expresidente Getulio Dornelles Vargas. Tornamonos amigos, pois ele e sua equipe nos atenderam satisfatoriamente.
Num dia do mês de setembro, Pedro comunicou-me que ele e sua equipe não viriam trabalhar. No meu calendário nenhum feriado existia e, diante disso, de início não concordei, pois tinha um cronograma a ser atendido. Contestando-me, Pedro Dornelles disse-me que era o principal feriado para ele e sua equipe: o “Dia do Gaúcho”. Essa comemoração respeitosa tivera início logo após a Revolução Farroupilha por volta de 1835 e, para todos os gaúchos, esse dia era sagrado. Na véspera desse dia (19 de setembro), Pedro e toda a sua equipe compareceram ao local de serviço (embora não a trabalho), e todos estavam vestidos com botas, bombachas, camisas típicas e chapéus. Assim que os vi adentrando a obra, ri desbragadamente, pois a meu ver era uma coisa ridícula. Estavam fantasiados de gaúchos. Eles apenas tinham vindo ao local para comprovarem que estavam indo à festa. Provavelmente, algum CTG (Centro de Tradições Gaúchas) perto da obra.
Assim que comecei a rir, um deles pegou o violão e iniciou uma música gaúcha. Todos eles começaram a cantar e dançar ali mesmo naquela área de serviços. Pedro Dornelles, acompanhando o violeiro, com voz forte cantou e declamou os lindos versos daquelas músicas. Nunca mais esqueci o tal Dia do Gaúcho. Por que nós, paranaenses, temos dificuldades em marcar, culturalmente, o nosso Estado? Viva o Dia do Gaúcho!