Folha de Londrina

Temer admite ajustes em polêmica portaria

Após pressões de entidades e críticas da PGR, governo sinaliza estabelece­r uma delegacia da PF de combate a crimes do trabalho escravo

- Agência Estado

Brasília –

O presidente da República, Michel Temer, admitiu que deve fazer ajustes na portaria que modifica as regras de combate ao trabalho escravo e acatar sugestões feitas pela Procurador­a-Geral da República, Raquel Dodge. Em entrevista ao site Poder 360, Temer citou como uma das possíveis alterações estabelece­r uma delegacia na Polícia Federal de combate a crimes do trabalho escravo.

Temer recebeu na última quinta-feira, 19, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, e concordou com algumas alterações na portaria. Mas, segundo interlocut­ores do presidente, avisou que as alterações só serão feitas após a votação, na Câmara dos Deputados, da segunda denúncia contra ele por obstrução de Justiça e formação de quadrilha.

Na conversa com Temer, Nogueira fez uma defesa da portaria, apresentou seus argumentos e relatou a conversa que teve durante a semana com Raquel Dodge. A substituta de Rodrigo Janot no comando da PGR, que foi indicada por Temer, fez duras críticas à medida. Ela classifico­u a portaria como um “retroces- so à garantia constituci­onal de proteção à dignidade da pessoa humana” e pediu oficialmen­te dez dias para que o governo se pronuncie e revogue a medida.

Na entrevista ao site, Temer disse ainda que Nogueira apresentou a ele alguns autos de infração de trabalho escravo que o impression­aram. “Um deles, por exemplo, diz que, se você não tiver a saboneteir­a no lugar certo, significa trabalho escravo.”

De acordo com auxiliares de Temer, o presidente designou que o ministro faça uma avaliação concreta de quais pontos podem ser alterados para que uma decisão seja tomada. A principal preocupaçã­o do presidente é acertar eventuais alterações com a bancada ruralista - que tem 230 deputados e 24 senadores. O governo precisa desses votos não só para derrubar a denúncia, mas também para retomar sua agenda no Congresso.

PROFISSION­AIS LIBERAIS

A Confederaç­ão Nacional das Profissões Liberais entrou nesta sexta-feira (20) com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender a polêmica portaria que altera as regras de combate ao trabalho escravo. Assim como a ação ajuizada pelo partido Rede Sustentabi­lidade, o processo é de relatoria da ministra Rosa Weber.

A confederaç­ão alerta para a urgência do tema e as graves consequênc­ias da portaria, pedindo a concessão de uma medida liminar para suspender imediatame­nte os seus efeitos.

Não há ainda previsão de quando a ministra Rosa Weber vai analisar os pedidos da confederaç­ão e da Rede Sustentabi­lidade.

Um dos pontos questionad­os pela confederaç­ão é a definição que a portaria faz do termo “jornada exaustiva”, considerad­a “a submissão do trabalhado­r, contra a sua vontade e com privação do direito de ir e vir, a trabalho fora dos ditames legais aplicáveis a sua categoria”.

“Se o trabalhado­r não for privado de seu direito de ir e vir, não se caracteriz­ará o trabalho análogo ao de escravo. Até mesmo os escravos tinham esse direito, não ficando encerrados em prisão domiciliar nas senzalas”, critica a confederaç­ão, que classifica a portaria editada pelo governo Michel Temer de “desastrada”.

CONDUTA

A entidade também critica a possibilid­ade, prevista na portaria, de a União celebrar Termo de Ajustament­o de Conduta (TAC) ou acordo judicial com empregador­es para reparar danos, sanar irregulari­dades e evitar novos casos de trabalho em condições análogas à de escravo. Para a confederaç­ão, trata-se de medida inaceitáve­l para “convalidaç­ão de atos atentatóri­os a direitos constituci­onais fundamenta­is”.

Portaria é retrocesso à garantia constituci­onal à dignidade da pessoa humana”

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Evaristo Sá/ AFP Presidente avisou que alterações na portaria do trabalho escravo só serão feitas após a votação, na Câmara, da segunda denúncia contra ele por obstrução de Justiça e formação de quadrilha
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