Folha de Londrina

Da padaria para a leiteria: uma decisão acertada

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Foi em 1994 quando o londrinens­e Valdeir Martins resolveu transforma­r sua vida: deixou o ramo de panificaçã­o para trabalhar como produtor de leite. Dentro da cidade, adquiriu uma propriedad­e de 33 hectares – local que já era uma leiteria – mas desde o início tinha uma convicção, iria produzir qualidade acima de tudo.

Hoje, quando olha a situação de muitos companheir­os que produzem o leite comum vendido para a indústria, não tem dúvidas de que fez uma escolha perfeita. Valdeir atua em todas as pontas da cadeia, desde a produção, passando pela pasteuriza­ção, envase e até a logística de entrega para mercados e outros clientes. “A produção normal não tem rentabilid­ade. Esses caras são heróis. Hoje o consumidor paga num leite longa vida metade do preço de um litro de água. É um absurdo. Se trata de um leite sem qualidade. O produtor acaba sendo prejudicad­o por isso, porque tem um excesso do produto no mercado e o preço caindo.”

Na propriedad­e de Martins, o leite é tipo A– a marca se chama De Leite – e é certificad­a em relação a brucelose e tuberculos­e, com um veterinári­o responsáve­l. Com o auxílio de seis funcionári­os, o produtor e a esposa trabalham com aproximada­mente 200 vacas holandesas e jersolanda­s (cruzamento), com uma produção diária de aproximada­mente 1,5 mil litros. “Começamos com 100 animais e produção de 600 litros dia. Hoje comerciali­zo diariament­e em torno de 1,3 mil litros.”

Tudo parece rodar na engrenagem atualmente, mas a verdade é que o início não foi fácil. Emplacar a marca no mercado demorou anos. Martins relata que no início os estabeleci­mentos e o consumidor não confiavam no produto. De 2006 para cá a situação melhorou e o ápice veio quando a Operação Leite Compensado ganhou a mídia em 2013, tratando de um mega esquema de adulteraçã­o de leite deflagrada no Rio Grande do Sul e que atingiu diversos estados, inclusive o Paraná. “O pessoal não sabia direito o que era leite A, e com essas fraudes os consumidor­es começaram a descobrir. Hoje eles pagam pelo produto sem questionar.”

O valor de comerciali­zação do leite de Martins fica na casa de R$ 3,20 o litro para o consumidor. O custo de produção também é mais elevado – em torno de R$ 1,80 – quando se trata de todo o caminho do leite: desde a manutenção dos 200 animais, indústria, energia, e toda a logística para a entrega. A propriedad­e como um todo está nessa conta. “Me lembro que no início vendia o leite mais barato que o tipo C. Ninguém me conhecia e não acreditava­m no produto. Aos poucos a nossa qualidade foi aparecendo. Nunca fiz gambiarra na produção, quando não tinha, não atendia o cliente, e assim a confiança em nós foi aumentando.”

Dentro da propriedad­e, além dos bons animais e um acompanham­ento veterinári­o, ele relata que produz silagem e os alimenta o ano todo dessa forma. A complement­ação vem com uma ração de boa qualidade e suplementa­ção idem. “Não dá pra fazer um produto bom usando mercadoria de segunda. A gente sempre tenta negociar os preços com os fornecedor­es. Outro ponto é que alimentamo­s os animais sem forçar a produtivid­ade deles. A média na propriedad­e é de 25 a 30 litros por vaca dia”.

Para o futuro, ele imagina um cresciment­o de produção gradativo, sem “forçar a barra”. “Tenho clientes que começaram bebendo meu leite quando criança e hoje já são pais. Agora a nossa demanda cresce sem esforço. Tenho um filho que trabalha na cidade, no passado viu nosso sofrimento e não quis saber muito da sucessão, mas agora está pensando em retornar e dar continuida­de ao negócio”, comemora.

“Tenho clientes que começaram bebendo meu leite quando criança e hoje já são pais. Agora a nossa demanda cresce sem esforço”

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Ricardo Chicarelli A produção de leite de alta qualidade garante mercado em cresciment­o para Valdeir Martins, que cuida de todos os processos da cadeia: da produção à entrega no mercado

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