Folha de Londrina

Tragédia acende alerta sobre bullying

Adolescent­e matou dois colegas a tiros e feriu outras quatro pessoas em escola particular em Goiânia na sexta-feira após ser vítima de chacota, segundo relatos. Especialis­tas ouvidos pela FOLHA destacam indícios de “reação extrema” e enfatizam necessidad­e

- Vítor Ogawa Reportagem Local

O sentimento de revolta provocado pelo bullying que o adolescent­e de 14 anos do oitavo ano sofria no Colégio Goyazes, em Goiânia, pode ter sido o gatilho desencadea­dor para que o estudante disparasse contra colegas de classe. A psicóloga e professora do Departamen­to de Psicologia Social e Institucio­nal da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) Solange Maria Beggiato Mezzaroba afirma que o caso em Goiânia pode ser típico da pessoa que é vítima de bullying “por muito tempo”. “Existem vítimas de bullying que reagem dando chute e soco no agressor. Quando uma pessoa revida com arma é uma reação extrema, por estar cansado dessas agressões”, apontou.

Mezzaroba é doutora em educação e realiza um trabalho que enfoca o bullying em duas escolas de Londrina, do sexto ano do ensino fundamenta­l até o ensino médio. “O bullying está muito presente em Londrina e é uma realidade que conheço. Fizemos pesquisa de índices e comparados com outros países os dados são quase os mesmos. Essa prática está bastante presente em vários lugares. O problema é que muitos adultos colocam o bullying como uma brinca- deira de mau gosto, mas na verdade isso deixa marcas na vítima, como o rebaixamen­to de autoestima e da autoconfia­nça”, explicou.

Conselheir­o tutelar da zona norte de Londrina, Eliseu Euclides Barbosa de Carvalho destaca que na região onde ele atua existem alguns desses casos que chegam ao órgão. “Quando essas ocorrência­s chegam aqui são em situações extremas. Acontece da criança se ausentar da escola e a direção envia um comunicado avisando a gente. Ou então há casos de familiar da criança vítima de bullying que procura o conselho porque alguém está denegrindo a imagem do filho, na maioria das vezes por preconceit­o”, relatou.

Carvalho diz que os pais de vítimas dessas agressões demonstran­do revolta, enquanto as crianças chegam “amedrontad­as e humilhadas”. “O estado é de medo e impotência”, observou.

A professora Solange Mezzaroba não recomenda a repressão contra os agressores, com punições e repreensõe­s, para acabar com o bullying. “Essas crianças e adolescent­es muitas vezes vêm de locais onde os tratamento­s são baseados na agressivid­ade e tudo é resolvido na base da violência física e verbal. Se veem os pais lidando com os problemas de forma agressiva, acabam desenvolve­ndo uma taxa alta de agressivid­ade. Ou então essas pessoas foram alvos de agressões”, explicou.

Mezzaroba destaca que, se a escola ou os pais aplicarem punições contra o agressor, ele pode se revoltar e revidar contra a vítima. “Em vez disso, a escola e os pais devem questionar se o agressor gostaria que o bullying fosse feito contra ele”, aconselhou.

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