O Parlatório Livre funcionou neste sábado em São Paulo como uma escola de realidade
Voluntárias se unem para confeccionar sutiãs com próteses e almofadas pós-cirúrgicas para mulheres que passaram por mastectomia
Olaço rosa que simboliza a luta e prevenção do câncer de mama também retrata o trabalho de grupos e entidades em Londrina que se doam em prol das mulheres mastectomizadas. Pois essas iniciativas surgem e se mantêm firmes pelos laços de amizade, solidariedade e, principalmente, amor. Através da produção de acessórios, esses grupos estão fazendo a diferença na autoestima, bem-estar e saúde de mulheres em tratamento ou que já enfrentaram o câncer de mama. E não são poucas. Além de ser o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres, ele responde no Brasil, por cerca de 25% dos novos casos a cada ano. A estatística é do Inca (Instituto Nacional de Câncer), que apontou mais de 57 mil novos registros da doença em 2016.
Para frear esses números, o mês de outubro é evidenciado pela cor rosa para alertar a população sobre algumas práticas preventivas e protetivas, como manter hábitos saudáveis e fazer o autoexame. Quando descoberto precocemente, o câncer de mama tem alto índice de cura (90%) e o tratamento tende a ser menos agressivo. Porém, a maioria dos pacientes passará por algum tipo de cirurgia para retirada do tumor.
No HCL (Hospital do Câncer de Londrina), uma média de 18 mulheres são submetidas à mastectomia (procedimento de retirada total ou parcial da mama) mensalmente. “A retirada da mama é o que mais afronta a mulher, na minha opinião. As mulheres se escondem, ficam encolhidas, tentam disfarçar”, comenta Cleuza Maria Rizo, da coordenadoria nacional das entidades de senhoras de rotarianos. Ela é de Apucarana (Centro-norte) e está entre as pioneiras na confecção dos sutiãs com prótese no Paraná. O primeiro contato com o acessório foi em uma reunião em São Paulo. “Eu me encantei com aquilo. Pedi para trazer um modelo com o objetivo de reproduzir”, lembra.
Após alguns experimentos, no início de 2014, o grupo de Apucarana começou a produzir as próteses e sutiãs e durante dois anos atendeu a demanda do HCL. “Agora, atendemos toda a região do Vale do Ivaí e estamos iniciando uma parceria com Maringá (Noroeste). Tudo é feito com o dinheiro arrecadado em promoções, ou seja, com a ajuda de toda a comunidade para que as mulheres o recebam gratuitamente”, ressalta.
Além da autoestima, as próteses desses sutiãs são fundamentais para realinhar o peso corporal, evitando possíveis dores e prejuízos na coluna de pacientes mastectomizadas.
DE MÃO EM MÃO
Uma boa ideia não tem fronteiras. Ao saber do trabalho das senhoras de rotarianos de Apucarana, um grupo de londrinenses abraçou a causa e buscou meios de começar a produção aqui na cidade. Hoje, a confecção mensal chega a 300 unidades que abastecem a Central de Acessórios do HCL e que em breve também serão entregues ao HU (Hospital Universitário) de Londrina.
Para essa roda de solidariedade girar, muitas mãos são envolvidas. A começar pela comunidade que colabora nos eventos e com parcerias no projeto do Rotary Rosa, um grupo formado por mulheres, entre elas, Neli Ferreira Linn, empresária do ramo de confecção. “Colaboramos com a mão de obra. Entre uma demanda e outra, as costureiras fazem os sutiãs”, explica.
Já as próteses que são preenchidas de polipropileno, vêm das mãos de um grupo de senhoras voluntárias do Parque Guanabara (zona sul). De acordo com Cristiana Caldeirão Pívaro, do Rotary Rosa, desde o início do projeto em 2015 foram distribuídos cerca de 2.500 acessórios. “A ideia é atender cada vez mais mulheres. Temos conversado com grupos de fora, interessados em aprender nosso trabalho. Já mandamos moldes para Umuarama, Cascavel, Goiânia, Belém, entre outros.”
Os sutiãs seguem uma modelagem do número 40 ao 48 e cada prótese deve ter medidas e gramaturas específicas. Cada kit (prótese + sutiã) tem um custo de R$ 30. Para manter e até aumentar a produção, o Rotary Rosa vem trabalhando com um selo para quem quiser colaborar.
Segundo a assistente social do HCL, Celeste de Souza Campos, em média são três mulheres por dia que busca os sutiãs e próteses na Central de Acessórios. No local, também são ofertados bonés, lenços, bijuterias e há um sistema de empréstimo de perucas de cabelo natural. “Tudo sem custo nenhum para os pacientes”, diz.