O bullying e a capacidade de resiliência
Precisamos urgentemente ajudar e educar nossos jovens a resistirem de forma positiva aos estímulos estressantes que os cercam”
A tragédia de Goiás movimentou as redes sociais e reacendeu a discussão sobre a questão do bullying em nossas escolas. Afinal, dois adolescentes foram mortos e outros ficaram feridos. O atirador, também adolescente de apenas 14 anos, chocou o país com tamanha brutalidade. Claro que esta é, sem dúvida, a questão de fundo: o bullying que este sofreu na escola, depois de ter sido chamado de “fedorento”. Não quero aqui dizer que o bullying é uma questão que deva ser minimizada, de forma alguma. O bullying tem que ser tratado de forma exaustiva nas escolas, de forma a evitar mais tragédias.
Mas queria aqui lançar luzes sobre um outro viés que precisa ser considerado na reflexão e que está intimamente ligado ao bullying. Diante de uma sociedade altamente exigente, como reagem nossos adolescentes? A sociedade empurra goela abaixo dos nossos adolescentes e jovens a necessidade cada vez maior de ser os melhores, de saberem o maior número de informações possível, de terem produtos de última moda. Ou seja, nossos adolescentes são bombardeados com um número infinito de estímulos e não sabem como lidar com isso.
Junte a esse composto já explosivo por si só a incapacidade que algumas pessoas têm de não saberem reagir com calma diante de certas contrariedades. Isso se chama resiliência. Resiliência pode ser definida como a capacidade que alguns corpos têm de retomar a sua forma original após uma deformação. Pensemos no elástico, que volta ao seu estado normal depois de ter sido esticado. No campo do comportamento humano, é a capacidade que temos de nos adaptar diante de uma situação estressante. Poderíamos nos perguntar: como reagimos quando somos contrariados? Sabemos romper o círculo da ação-reação? Hoje muitos reagem em vez de agir, em vez de dialogar com seus sentimentos.
Esse adolescente sofreu bullying sim, isso é verdade e isso é grave. Mas será que nossas escolas, nossos professores estão capacitados a ensinar nossos adolescentes a protegerem seus sentimentos, ensinando-os que não precisamos reagir cada vez que somos contrariados? Será que nós, em primeiro lugar, sabemos romper esse círculo vicioso de ação/reação? Sabemos que não precisamos reagir de forma bruta a cada estímulo ruim e que podemos proteger nossas emoções? Precisamos urgentemente ajudar e educar nossos jovens a resistirem de forma positiva aos estímulos estressantes que os cercam. Saber resistir, fugir da tensão provocada pelos estímulos ruins é essencial e vital, para que novas tragédias como essa não aconteçam. Bullying é ruim. Bullying pode deixar marcas profundas. Bullying pode marcar a vida de uma pessoa. Mas educar e preparar nossas crianças, adolescentes e jovens a sobreviver nesse mundo estressante e conflito é essencial também.
É preciso abrir mais espaços de diálogo, onde esses adolescentes e jovens possam falar e libertar os fantasmas interiores. Assim estaremos ensinando que não é preciso reagir de forma bruta quando temos uma situação contrária. Afinal, como diz Maria Bethania na música “Brincar de viver”, é “a arte de sorrir cada vez que o mundo diz não”.