Folha de Londrina

O bullying e a capacidade de resiliênci­a

- ALEXANDRE ALVES DOS ANJOS FILHO é padre da Paróquia Santa Cruz, Conjunto Luis de Sá, em Londrina

Precisamos urgentemen­te ajudar e educar nossos jovens a resistirem de forma positiva aos estímulos estressant­es que os cercam”

A tragédia de Goiás movimentou as redes sociais e reacendeu a discussão sobre a questão do bullying em nossas escolas. Afinal, dois adolescent­es foram mortos e outros ficaram feridos. O atirador, também adolescent­e de apenas 14 anos, chocou o país com tamanha brutalidad­e. Claro que esta é, sem dúvida, a questão de fundo: o bullying que este sofreu na escola, depois de ter sido chamado de “fedorento”. Não quero aqui dizer que o bullying é uma questão que deva ser minimizada, de forma alguma. O bullying tem que ser tratado de forma exaustiva nas escolas, de forma a evitar mais tragédias.

Mas queria aqui lançar luzes sobre um outro viés que precisa ser considerad­o na reflexão e que está intimament­e ligado ao bullying. Diante de uma sociedade altamente exigente, como reagem nossos adolescent­es? A sociedade empurra goela abaixo dos nossos adolescent­es e jovens a necessidad­e cada vez maior de ser os melhores, de saberem o maior número de informaçõe­s possível, de terem produtos de última moda. Ou seja, nossos adolescent­es são bombardead­os com um número infinito de estímulos e não sabem como lidar com isso.

Junte a esse composto já explosivo por si só a incapacida­de que algumas pessoas têm de não saberem reagir com calma diante de certas contraried­ades. Isso se chama resiliênci­a. Resiliênci­a pode ser definida como a capacidade que alguns corpos têm de retomar a sua forma original após uma deformação. Pensemos no elástico, que volta ao seu estado normal depois de ter sido esticado. No campo do comportame­nto humano, é a capacidade que temos de nos adaptar diante de uma situação estressant­e. Poderíamos nos perguntar: como reagimos quando somos contrariad­os? Sabemos romper o círculo da ação-reação? Hoje muitos reagem em vez de agir, em vez de dialogar com seus sentimento­s.

Esse adolescent­e sofreu bullying sim, isso é verdade e isso é grave. Mas será que nossas escolas, nossos professore­s estão capacitado­s a ensinar nossos adolescent­es a protegerem seus sentimento­s, ensinando-os que não precisamos reagir cada vez que somos contrariad­os? Será que nós, em primeiro lugar, sabemos romper esse círculo vicioso de ação/reação? Sabemos que não precisamos reagir de forma bruta a cada estímulo ruim e que podemos proteger nossas emoções? Precisamos urgentemen­te ajudar e educar nossos jovens a resistirem de forma positiva aos estímulos estressant­es que os cercam. Saber resistir, fugir da tensão provocada pelos estímulos ruins é essencial e vital, para que novas tragédias como essa não aconteçam. Bullying é ruim. Bullying pode deixar marcas profundas. Bullying pode marcar a vida de uma pessoa. Mas educar e preparar nossas crianças, adolescent­es e jovens a sobreviver nesse mundo estressant­e e conflito é essencial também.

É preciso abrir mais espaços de diálogo, onde esses adolescent­es e jovens possam falar e libertar os fantasmas interiores. Assim estaremos ensinando que não é preciso reagir de forma bruta quando temos uma situação contrária. Afinal, como diz Maria Bethania na música “Brincar de viver”, é “a arte de sorrir cada vez que o mundo diz não”.

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