Folha de Londrina

DESIGUALDA­DE

Fórum Econômico Mundial estima que vai demorar um século para que sejam superadas as diferenças entre homens e mulheres; piora foi puxada pela diminuição da paridade na economia e na política

- Carolina Vila-Nova Folhapress

Após uma década de retração lenta, mas contínua, a desigualda­de entre homens e mulheres medida pelo WEF ( Fórum Econômico Mundial) aumentou em 2017 no Brasil e em todo o mundo. O índice de igualdade global de gênero criado pela entidade com base em quatro quesitos - saúde e sobrevivên­cia, participaç­ão e oportunida­de econômica, realização educaciona­l, e empoderame­nto político - sofreu seu primeiro recuo desde que a medição começou, em 2006.

A entidade calcula que, mantido esse ritmo, serão necessário­s cem anos para as diferenças entre os gêneros serem superadas. “Quando olhamos os resultados dessas quatro dimensões em termos globais, foi um ano sombrio para o progresso da paridade de gênero. Enquanto nos anteriores tinha havido certa evolução, neste omovimento não apenas estacionou como se recolheu”, disse Till Leopold, doWEF.

“Em 2017, não deveríamos estar vendo o progresso para a paridade de gênero caminhar no sentido inverso. Igualdade de gênero é um imperativo tanto moral quanto econômico”, afirmou Saadia Zahidi, também do WEF. A piora foi puxada principalm­ente pela diminuição da igualdade na economia e na política.

A Islândia é a campeã da igualdade de gênero no mun- do, seguida por Noruega, Finlândia, Ruanda e Suécia. Os EUA caíram quatro posições, aparecendo em 49 º . Entre os países do G20, a França lidera, em 11 º lugar, seguida da Alemanha (12º) e do Reino Unido ( 15 º ) . Já o Brasil caiu nove posições, ficando em 90º. O país faz feio na comparação com outros latino-americanos. A melhor performanc­e é a da Nicarágua (pela sexta vez consecu- tiva); neste ano, o país figura entre os dez primeiros no ranking global pela primeira vez, no 6 º lugar. A Bolívia aparece em 17 º ; Cuba, em 25º, e a Argentina, em 34º.

Os cinco com mais desigualda­de de gênero no mundo são Irã, Chade, Síria, Paquistão e Iêmen.

CASO BRASILEIRO No caso do Brasil, a baixa representa­tividade de mu- lheres em ministério­s e no Legislativ­o jogou o índice para baixo. “Vemos uma representa­ção muito menor da mulher na política hoje do que no ano passado. Hoje há menos mulheres em posições ministeria­is e parlamenta­res, de forma que podemos dizer que há menos mulheres exercendo poder político. Portanto, houve um retrocesso”, afirmou Leopold.

“Apesar de ser verdade que o Brasil estava indo bem na economia nos últimos anos, isso estacionou, ao passo que os demais países da América Latina viram sua situação melhorar. Com a queda na representa­tividade política, é como se o Brasil tivesse ficado parado, enquanto os demais avançaram”, analisou Leopold, explicando a posição ruim do país.

Em uma nota positiva, no entanto, o Brasil foi o único país da América Latina (e aparece entre seis no mundo todo) que conseguiu diminuir a diferença de gêneros na saúde e na educação. Questionad­o sobre a eficácia da adoção de políticas para abordar a diferença de gênero - como cotas nas direções das empresas -, Leopold disse que “certamente não há uma receita única que funcione para todos os países”. “Mas pesquisas mostramque medidas com alvo no gênero para ajudar mulheres a progredir no mercado de trabalho têm efeito multiplica­dor para a economia como um todo e, assim, podem ser bastante eficazes.”

Brasil cai nove posições, ficando em 90º no ranking mundial

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