Projeto resgata biografias em sepulturas em Curitiba
Quem visitou o Cemitério Municipal São Francisco de Paula, o maior de Curitiba, neste feriado de Finados percebeu que alguns túmulos traziam uma placa com uma pequena biografia de quem ali está sepultado. Logo abaixo, a frase: “Você tem algum parente ou conhecido que foi uma personalidade curitibana sepultado aqui? Conte pra gente memento@ fcc. curitiba.pr.gov.br”. A ação, iniciada nesta quinta- feira ( 2), tratase do projeto Memento Tuum (fraseemlatim que traduzida significa “Lembre- se do seus”), encabeçado por Clarissa Grassi, idealizadora das visitas guiadas ao Cemitério Municipal, pesquisadora cemiterial e presidente da Abec (Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais), que visa resgatar histórias de pessoas que nem sempre estão nos livros ou que ficam restritas apenas às famílias.
Segundo a pesquisadora, neste primeiro momento, são 15 personalidades escolhidas do “Guia de Visitação ao Cemitério Municipal São Francisco de Paula – arte e memória no espaço urbano”, que traz um recorte de 99 personalidades divididos em dez trajetos temáticos: artistas, empresários, políticos, intelectuais, músicos, arquitetura, arte tumular, geologia, personalidades e ritos e fé. “São pessoas que foram importantes na construção da história da cidade, mas nem todas tiveram reconhecimento. Muitas, inclusive, caíram no esquecimento com o tempo e não estão em túmulos suntuosos. Queremos que outros tantos tenham sua história contada”, detalha.
A visita guiada é uma par- ceria da diretoria de Patrimônio Cultural da FCC (Fundação Cultural de Curitiba) e do Departamento de Serviços Especiais da Secretaria Municipal doMeio Ambiente.
Uma dessas pessoas, destaca ela, é Enedina Alves Marques, nascida em Curitiba em 1913 e que formou-se em engenharia civil em 1945 pela UFPR (Universidade Federal do Paraná). “Entrou para a história como a primeira mulher engenheira no Estado e a primeira engenheira negra do Brasil”, aponta Grassi. Outra personalidade que ganhou a placa foi Vicente Moreira de Freitas, responsável por idealizar a Sociedade Operária Beneficente Treze de Maio, que ajudava exescravos. O clube aceitava apenas negros e, hoje, trabalha com projetos de valorização da cultura negra.
Há, ainda, uma placa com o breve histórico de Antonio Melillo, maestro que fundou a Orquestra do Clube Curitibano e a Orquestra Sinfônica do Paraná, e Emílio Correia deMenezes, jornalista e poeta curitibano que foi eleito membro da ABL ( Academia Brasileira de Letras) em 1914.
MEMÓRIA
A visitação em dias como o de Finados aumenta consideravelmente. No entanto, esse é um costume que está se perdendo nas novas gerações, independentemente da época do ano. Segundo Clarissa, as visitas guiadas conseguem diminuir o afastamento e a percepção sobre o conceito de morte e a relação dos jovens com a memória. “A princípio, muitas pessoas entram em um cemitério por curiosidade, mas recebem uma aula de história e arquitetura. A partir dessa descoberta, conhecem a história de sua cidade, das pessoas, entendem o local como patrimônio e passam a olhar o espaço sob uma ótica diferente, a da memória. Com essa sensibilização sobre a importância dos cemitérios, a biografia de outras personalidades virão à tona.”