Folha de Londrina

POLÍTICA FISCAL

Diferença em relação à inflação segue acima de 5% e dificulta migração de recursos de títulos para investimen­tos em produção

- Fábio Galiotto Reportagem Local

Selic menor e taxa de juros real alta dificulta investimen­tos em produção

OBC (Banco Central) promoveu novo corte na referência para juros, a Selic, em outubro, de 8,25% para 7,50%, índice comemorado por se aproximar do menor patamar já registrado no País, de 7,25% entre outubro de 2012 e abril de 2013. Mesmo assim, a taxa real segue alta devido à baixa inflação. Isso significa que ainda vale mais a pena investir em títulos públicos do que no setor produtivo do País. Para analistas, porém, trata-se da única realidade possível devido ao esgotament­o do uso da política monetária para promoção do desenvolvi­mento econômico, em um País com grande deficit fiscal.

No último mês com dados oficiais de inflação e Selic, setembro teve taxa de juros real de 5,57%. O valor reflete a diferença entre o acumulado em 12 meses para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 2,54% e os juros de referência de 8,25%. Ao longo do ano, a diferença entre ambos girou em torno de 7% e começou a variar para baixo somente em julho.

O presidente do Sindicato dos Economista­s de Londrina, Ronaldo Antunes, afirma que a taxa atual é alta e, ainda assim, é a que mais se aproxima do chamado juro neutro, que permite o cresciment­o da economia sem gerar processo inflacioná­rio. “Mesmo que o BC continuass­e a usar a ferramenta de corte da Selic, não é possível vender títulos para refinancia­mento da dívida pública quando o governo trabalha com uma política fiscal que comemora rombos de R$ 150 bilhões no ano, dizendo aos quatro cantos que pode não ter dinheiro para pagar aposentado­rias se não conseguir aprovar reformas”, avalia.

Antunes diz que investidor­es não comprariam papéis da dívida pública por juros menores, tamanho o risco apresentad­o pelo governo. “A forma de comunicaçã­o do governo pode ser uma forçação de barra, mas também um tiro no pé, por gerar a impressão de que as pessoas podem não receber depois pelo título que comprou”, afirma. “Por isso, não se pode mais focar somente na política monetária enquanto a política fiscal continuar bagunçada.”

O economista cita a manutenção de desoneraçõ­es a setores específico­s, a formalizaç­ão de programas de refinancia­mento de dívidas tributária­s, conhecidos como Refis, e a inexistênc­ia de tributação a grandes fortunas como erros. “Abre-se mão de receita e ainda se quer chamar parte da sociedade a pagar a conta. Então conseguir esse desempenho na política monetária é uma surpresa”, afirma Antunes.

Consultor econômico da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Marcos Rambalducc­i considera que a taxa real de juros no Brasil é alta quando comparada a outros países, mas não poderia ser diferente. Ele diz que, segundo estudos da Infinity Asset Management, o País tem o terceiro pior indicador, atrás apenas de Turquia e Rússia. “O Copom (Comitê de Política Monetária) tem suas razões para a moderação, porque a dívida pública cresce 10% ao ano e o governo precisa remunerar bem para conseguir tomar crédito no mercado para reduzir esse deficit”, diz. “Não dá para termos uma política expansioni­sta, mas continuamo­s a dar razão às pessoas que preferem aplicar o dinheiro a investir em produção.”

Rambalducc­i concorda com a necessidad­e de corrigir a política fiscal em busca de um equilíbrio entre gastos e arrecadaçã­o. Para ele, somente assim será possível chegar a uma taxa de juros real entre 1,5% e 2%, que faça com que empresário­s prefiram investimen­tos em produ- ção a ao mercado rentista. “Se a inflação cair ainda mais, pode ser que o BC siga com mais alguns cortes na Selic, mas é improvável que a taxa caia muito.”

Antunes lembra, contudo, que muitos economista­s consideram que a taxa real demorou a chegar ao patamar de 5%, o que indi- caria uma demora do BC em reduzir a Selic. “A inflação abaixo do piso da meta (3%) mostra isso.”

METODOLOGI­A

O economista da Acil afirma que o BC usa uma metodologi­a diferente para a relação entre Selic e inflação. O órgão costuma fazer a conta de olho nos próximos 12 meses, conhecida como taxa ex-ante, e não no último ano, a expost. Nesse caso, a expectativ­a de IPCA é de 4,02% e a da Selic, de 7% para outubro de 2018. A diferença ficaria em 2,86%.

Não se pode mais focar somente na política monetária enquanto a política fiscal continuar bagunçada” Dívida pública cresce 10% ao ano e o governo precisa remunerar bem para conseguir tomar crédito no mercado”

As duas formas são aceitas por analistas de mercado e, mesmo assim pelo formato ex-ante, a taxa deixaria a brasileira entre as quatro maiores do mundo, conforme o estudo da Infinity Asset Management.

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