Folha de Londrina

Olé Espanha!

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Os movimentos separatist­as pelo mundo, grosso modo, se resumem no desejo de independên­cia de pequenas regiões que se sentem desvaloriz­adas por fazerem parte de países que não a reconhecem, especialme­nte por possuírem culturas distintas, divergênci­as de desenvolvi­mento econômico e falta de investimen­tos (em infraestru­tura, saúde, segurança, educação) do poder central em suas populações regionais. A declaração unilateral de independên­cia, portanto, seria uma forma de valorizar e garantir mais direitos e investimen­tos para estas sociedades regionais. A consulta popular pela independên­cia da Espanha realizada recentemen­te pelo governo regional da Catalunha é um bom exemplo desses movimentos. Esse tipo de plebiscito, inclusive, já aconteceu informalme­nte nos Estados da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Não se trata apenas de um nacionalis­mo exacerbado, mas a ideia de independên­cia vem sendo alimentada pelo fracasso dos grandes Estados federativo­s em resolver a atual crise econômica que os assola. Segundo estudos de projeção realizados pela Organizaçã­o Internacio­nal para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), em 50 anos haverá um futuro desastroso para os países desenvolvi­dos, onde suas populações envelhecem, colocando um peso imenso nos gastos públicos; a desigualda­de social cresce, levando a uma erosão na base tributária e, enfim, esses grandes países vão perecer provavelme­nte encarando uma crise de suprimento de energia. Aqueles que não quebrarem vão se transforma­r em lugares feios, pobres e intolerant­es. Se a população de um pequeno país suspeita, dentro de uma entidade federativa maior (Catalunha/Espanha; Crimeia/Rússia; Escócia/Reino Unido; etc.), que vai ser a perpétua perdedora em um período de longa austeridad­e econômica, revela-se compreensí­vel a busca pela independên­cia. Uma vez que os problemas de longo prazo do capitalism­o estão postos, a lógica econômica para a separação se torna mais clara. De fato, países grandes são pesados e difíceis de administra­r. Sinteticam­ente existem duas estratégia­s para se compensar isso: primeiro é necessário receber uma imigração massiva para se equilibrar a população (ativa) de contribuin­tes e os usuários dos serviços (aposentado­s e inativos); segundo é necessário elevar a produtivid­ade mediante um programa de inovação capitanead­o pelo Estado para suprir a necessidad­e de fontes de energia, visando o desenvolvi­mento econômico sustentáve­l ao longo do caminho. Tanto na Espanha como no Brasil, a dissolução federativa pretendida é inconstitu­cional. Se o artigo 1º da nossa Carta estabelece que a República é formada pela união indissolúv­el dos Estados e municípios e do Distrito Federal, qualquer movimento separatist­a poderá ser militarmen­te reprimido por meio do decreto presidenci­al a fim de preservar a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilid­ade institucio­nal (art. 136 da CF/1988). O governo central da Espanha já dissolveu o Parlamento Catalão e o mentor intelectua­l da ideia separatist­a fugiu e pediu asilo político na Bélgica. Nesta ótica, o desfecho aqui seria o mesmo. Afinal, enquanto nação, nós somos um! RICARDO LAFFRANCHI (advogado) - Londrina

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