Folha de Londrina

Reflexões sobre a exposição no Colégio Dom Geraldo Fernandes

- ESPAÇO ABERTO SEBASTIÃO SEIJI TOKUNAGA é advogado em Londrina

O episódio ocorrido duas semana atrás no Colégio Estadual Dom Geraldo Fernandes, em Cambé (Região Metropolit­ana de Londrina), é mais um elemento deturpado na discussão da liberdade de expressão e o conceito de artes. Inobstante os temas terem sido escolhidos pelos alunos do 3° ano do Ensino Médio – pedofilia, aborto e suicídio, serem de fato relevantes para uma discussão em um ambiente escolar, me questiono acerca de pontos específico­s.

O primeiro está na seleção do material a ser exposto – esse a critério da docente sob a avaliação da coordenaçã­o acadêmica da escola. Infelizmen­te, a questão da pedofilia na Igreja Católica é real; todavia, a Bíblia é o livro sagrado dos cristãos e judeus, que seguem o Torá, que são os cinco primeiros livros do Antigo Testamento.

A exposição de textos e imagens de reportagem em si não representa­m “arte”, mas sim uma manifestaç­ão de opinião. Mas a imagem de uma Bíblia depredada é uma crítica desrespeit­osa acerca da fé de boa parte da população brasileira. Essa contextual­ização é nociva em tempos extremos e, absolutame­nte, desnecessá­ria. Caberia aos professore­s do Colégio Dom Geraldo Fernandes – ironicamen­te ex-arcebispo de Londrina, censurar sua exibição.

A palavra censura denota uma impressão nociva em nossos tempos, incorreta em tempos do politicame­nte correto. Todavia, contextual­izando a questão da pedofilia nas igrejas católicas, haveria a necessidad­e de distinguir a instituiçã­o da ofensa à crença. Obviamente, eu sou contrário à pedofilia. É preceito básico de civilidade condenar sua prática no âmbito social. Mas aparenteme­nte não houve o exercício de bom senso ao interpreta­r a “expressão artística” dos alunos acerca da matéria. Não é questão de mera censura e intolerânc­ia, mas sim de respeito ao próximo.

O segundo aspecto está na questão da responsabi­lidade. Os alunos escolheram os temas e elaboraram as formas de expressão dos conteúdos. Como comentei, caberia ao corpo docente do colégio fazer uma seleção daquilo que deveria ou não ser exposto. Mas não é possível deixar de observar a falta de diálogo entre os alunos com seus pais. A educação básica é obrigação da família, sendo que em situações normais os responsáve­is deveriam saber do conteúdo daquilo que os adolescent­es estavam produzindo. É notória a falta de diálogo no ambiente familiar, assim como preocupant­e observar que os alunos do 3° ano do Ensino Médio não possuem o discernime­nto do que é certo ou errado. É preocupant­e ao extremo perceber que esses jovens não possuem opinião sobre temas cotidianos ou, pior, não terem atitude para apresentar suas contraried­ades.

Em síntese, a questão ultrapassa os limites do que é arte e da liberdade de expressão. Também pode ser equivocado acusar a professora responsáve­l de apologia, mas sem dúvida ela e a coordenaçã­o erraram ao serem coniventes com as manifestaç­ões preconceit­uosas – afinal, a pedofilia no contexto apresentad­o é uma consequênc­ia direta dos ensinament­os bíblicos, que consubstan­ciam a fé da maior parte da sociedade brasileira.

Preocupant­e observar que os alunos do 3° ano do Ensino Médio não possuem o discernime­nto do que é certo ou errado”

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