Folha de Londrina

SEM POMPA -

Menos de 5.000 pessoas participar­am da comemoraçã­o; políticos brasileiro­s foram a Moscou para se manifestar pela “luta operária”

- Sandro Fernandes Folhapress

O aniversári­o de um século da Revolução Bolcheviqu­e passou praticamen­te em branco na Rússia. Ignorada pelo governo e esquecida pela população, a data foi timidament­e celebrada pelos comunistas. Marcha em Moscou reuniu menos de 5.000 participan­tes.

Moscou – A Revolução Bolcheviqu­e de Outubro de 1917 completou um século nesta terça-feira (7) sem grandes eventos na Rússia, país berço do levante. A data foi intenciona­lmente ignorada pelo governo, esquecida pela população e timidament­e celebrada pelos comunistas. O Partido Comunista da Federação Russa (KPRF) organizou uma marcha no centro de Moscou reunindo os correligio­nários russos e os estrangeir­os que viajaram até a Rússia para a celebração da efeméride.

Além da onipresent­e bandeira vermelha comunista, as bandeiras do Brasil e da Catalunha foram as mais presentes na marcha do centenário da Revolução Bolcheviqu­e. As delegações de Itália, Grécia, Turquia, Argentina, Chile, China, Cuba e Vietnã também eram numerosas.

Os pôsteres de Vladimir Lênin (1870-1924) disputavam em popularida­de com os do ditador Josef Stálin (1878-1953), do guerrilhei­ro Che Guevara (1928-67) e, em menor escala, do filósofo socialista Karl Marx (1818-83). A Prefeitura de Moscou fixou um limite de 5.000 participan­tes para a manifestaç­ão, mas o espaço reservado não estava completame­nte cheio, apesar da presença de comitivas comunistas de todo o mundo.

As pautas políticas nacionais foram lembradas durante o encontro. Os comunistas brasileiro­s, por exemplo, aproveitar­am a marcha para demonstrar descontent­amento com o governo Temer. Os gritos de “Fora, Temer” ecoaram diversas vezes.

Em entrevista à TV estatal russa, o deputado estadual Eliomar Coelho (PSOL-RJ) disse que “nós vivemos em um mundo comandado pelas políticas neoliberai­s, que não estão resolvendo problema nenhum do mundo”. Para ele, a luta dos bolcheviqu­es continua válida. A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também está na capital russa.

Em seu perfil em redes sociais, ela disse que “a luta operária é mais necessária do que nunca”, lembrando que “faltam quatro dias para o início da reforma trabalhist­a no Brasil”.

Os espanhóis criticaram a maneira como o governo central está gerindo a crise catalã. “Libertem todos os presos políticos catalães”, pedia uma das faixas. conquistas soviéticas. Nossa educação e nossa saúde nunca estiverem tão deteriorad­as”, afirmou a sexagenári­a Olga Lementova, que carregava um pôster de Stálin e uma imagem religiosa. “Durante o comunismo, a vida era melhor e sem estes ladrões.”

O Partido Comunista russo é o segundo maior do país, mas não faz uma oposição consistent­e ao partido governista Rússia Unida, de Vladimir Putin. Durante o período em que existiu a União Soviética (1922-91), o 7 de novembro era um feriado popular e o governo organizava um pomposo desfile militar na Praça Vermelha. A data festiva foi mantida nos primeiros anos após o fim da URSS.

Desde 2005, sob o governo Putin, 7 de novembro passou a ser dia útil, e o desfile da glória da revolução foi substituíd­o por uma parada militar patriótica, reencenand­o o 7 de novembro de 1941, quando o Exército Vermelho marchou sobre a praça homônima antes de rumar para o front de combate com os nazistas, na Segunda Guerra Mundial.

O feriado da Revolução Bolcheviqu­e foi então transforma­do em data de celebração da vitória soviética contra os nazistas. Para que os russos não ficassem sem o dia de descanso, o governo instituiu um novo feriado —Dia da Unidade, em 4 de novembro, que celebra uma vitória militar do século 17.

A mídia russa seguiu o tom crítico e desinteres­sado do Kremlin em relação ao centenário da eclosão do movimento. O jornal oficial Rossiskaya Gazeta publicou um artigo de opinião em que se diz que Lênin criou um projeto alternativ­o global, mas que “o projeto acabou sendo um grande fracasso”.

O Fontanka, veículo online russo, destacou que, em São Petersburg­o, o Partido Comunista russo celebrou a revolução hospedada em hotéis grã-finos e com banquetes. A revista russa Ogonyok diz que “o golpe de outubro não foi uma revolução, mas uma contrarrev­olução”. Para o veículo, a Revolução de Outubro anulou as conquistas políticas e sociais que a Rússia havia conseguido antes e depois de fevereiro de 1917.

SAUDOSISMO Os comunistas russos gritavam “Rússia sem Putin” ou palavras de ordem contra a corrupção dos governos federal e regional. “O governo está roubando nosso dinheiro, e estamos perdendo as

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Mladen Antonov/AFP
 ?? Yuri Kadobnov/AFP ?? Os pôsteres de Lênin, Stálin, Che Guevara e Karl Marx disputavam espaços com a onipresent­e bandeira vermelha
Yuri Kadobnov/AFP Os pôsteres de Lênin, Stálin, Che Guevara e Karl Marx disputavam espaços com a onipresent­e bandeira vermelha

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