Folha de Londrina

Experiênci­a de inclusão de pessoas surdas

- Rafael Machado Grupo Folha

Do terceiro e último andar do prédio cinquenten­ário do Iles (Instituto Londrinens­e de Educação de Surdos), moradores do Jardim Caravelle (zona leste) escutam batuques ininterrup­tos. A baqueta “machuca” o tambor. O prato se esgoela no agudo. O carnaval fora de época acontece quando o educador musical Irton Silva, ou Batman Griô, afasta as cadeiras da ampla sala e convida mais de 40 alunos para uma festa, que ganha ressonânci­a com a mistura de diversos sons.

A educação de surdos, seja ela musical ou não, nunca esteve tão atual no Brasil. Até foi tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) no último domingo (5). Porém, para a diretora do colégio do Iles, Doralice Dias da Silva, o assunto ainda é tabu para muita gente. “Hoje temos 80 alunos que começam desde cedo, prosseguem até o 3ª ano do ensino médio e depois são lançados ao mercado de trabalho. Porém, a inclusão não é concretiza­da porque parte da sociedade ainda não está adaptada para receber esse público”, avaliou.

Segundo a diretora, o preconceit­o pode aparecer

mesmo em um ambiente faídos miliar. “Eles ficam excluí'dos e sentem-se incapacita­dos para enfrentar novos desapor fios, como o emprego, por exemplo. Aqui no Iles priorizamo­s essa didática de inclusão, que ganha um auxílio enorme com a música.”

O pernambuca­no Silva é o responsáve­l pelo Som da Pele, uma experiênci­a de inclusão e capacitaçã­o de pessoas surdas. A convite da organi

zação do 37º FML (Festival de Música de Londrina), ele apresentou o concerto didático no Iles. Por meio de um sistema conhecido como “MusiLibras”, Silva ensina o alfabeto dos sons com um metrônomo visual e instrument­os adaptados com sensores e leds.

“O mais importante é que a cidadania está sendo trabalhada. Além de ajudar na concentraç­ão, a repetição dos movimentos corporais aprimora outros aspectos do desenvolvi­mento humano”, ressaltou a coordenado­ra pedagógica do FML, Magali Kleber.

A oficina ministrada por Silva no Iles pode estar presente em outras edições do Festival de Música. “Somos analfabeto­s em libras. O som tem que ser bem forte porque o surdo entende a linguagem por meio da vibração. Quando mais intenso, melhor”, afirmou a diretora. “É esse o tipo de relação institucio­nal em que todo mundo sai ganhando. É essencial para a sobrevivên­cia das prioridade­s da sociedade”, observou Kleber.

O som tem que ser bem forte porque o surdo entende a linguagem por meio da vibração”

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Gina Mardones Por meio de um sistema conhecido como “MusiLibras”, educador musical Irton Silva ensinou o alfabeto dos sons no Iles

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