Rebelde sem causa
Estou adentrando a terceira idade, mas já fui jovem e rebelde. Na verdura da nossa juventude, até que algumas traquinagens são toleradas. Mas o que me traz aqui, dessa vez, é a constatação de que nem sempre é o rebelde sem causa que atrapalha a vida dos outros. Sofro de insônia e o ruído não me perturba tanto, mas fico pensando nos outros, nos doentes, naqueles que precisam de um boa noite de sono, pois precisam acordar bem cedo para trabalhar e colocar comida na mesa de sua família; nas mães extenuadas, que além de terem o sono entrecortado com o aleitamento, ou com a preocupação com os filhos, ainda precisam embalá-los, quando estes são despertados por sons violentos ou perturbadores. Mas a que sons violentos ou perturbadores estou me referindo? Moro em uma das principais ruas do centro de Londrina. Existem pessoas que “esquecem”, ou ainda não perceberam, que o som costuma subir à altura inimaginável! São aquelas que conversam despreocupadas, enquanto vagueiam pelas ruas e pela madrugada ou se despedem ao final de uma carona ou na despedida de uma visita. Também penso nos “contraventores” da lei do silêncio, que desfilam pelas ruas, exibindo a potência do som dos seus carros endiabrados, cujo intento é o de acionar os alarmes dos carros estacionados por onde passam. Penso na meia dúzia de gatos pingados que se embebeda nos barzinhos, gargalhando e gritando, ignorando que suas alegrias custam o sono e o sossego de dezenas de vizinhos (a proporção é justa?). Os donos dos estabelecimentos não estão nem aí, pensam apenas no lucro ganho, mesmo que pequeno! E os vizinhos pagam altos impostos, como em uma penitência! E a lei? E o respeito? E a esperada vigilância das autoridades públicas? Não, meus amigos, os autores dessas infames infrações não são rebeldes sem causa ... são marmanjos irresponsáveis e egoístas, caso contrário, estariam dormindo em seus lares, aguardando o raiar do dia para trabalhar e produzir! E isso de segunda a domingo! Sem trégua. Se o leitor acha que estou errado, mostre este texto aos amigos e perceberá em seus semblantes, de duas uma: ou a perplexidade ou a sombra da culpa! Sei que os insensatos vão dizer que não tenho o que fazer, que sou demagogo e enchedor de linguiça! Mas para quem é idoso e mora praticamente sozinho, garanto que é melhor expor minhas opiniões e tentar modificar o que julgo errado no mundo, em vez de ficar simplesmente conversando com as paredes que com nada iriam lucrar!
(aposentado) – Londrina
MARCOS DOMINGUES DA SILVA