Folha de Londrina

CCJ aprova PEC do fim do foro

Proposta mantém blindagem somente a presidente­s do Executivo, Legislativ­o e Judiciário; STF retoma nesta quinta-feira julgamento sobre privilégio

- Daiene Cardoso Agência Estado

Brasília -

Às vésperas do julgamento sobre a restrição do foro privilegia­do no STF (Supremo Tribunal Federal), marcado para esta quinta-feira (23), a CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da Câmara dos Deputados aprovou nessa quarta-feira (22) a admissibil­idade da PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) que acaba com o foro privilegia­do por prerrogati­va de função em casos de crimes comuns.

O mérito da proposta será discutido agora por uma comissão especial, que precisa ser criada pela presidênci­a da Casa. As bancadas se posicionar­am favoráveis ao andamento da PEC na Casa, mas destacaram que pretendem aprofundar a discussão e mudar a extensão do foro na comissão especial.

A proposta que restringe o foro especial valerá para crimes comuns cometidos por deputados, senadores, ministros de Estado, governador­es, prefeitos, ministros de tribunais superiores, desembarga­dores, embaixador­es, comandante­s das Forças Armadas, integrante­s de tribunais regionais federais, juízes federais, membros do Ministério Público, procurador-geral da República e membros dos conselhos de Justiça e do Ministério Público.

O foro permanecer­á para presidente e vice-presidente da República, presidente do Supremo Tribunal Federal e os presidente­s da Câmara e do Senado. O texto em apreciação na CCJ é a íntegra da proposta que foi aprovada pelos senadores.

“O foro por prerrogati­va de função, popularmen­te chamado de ‘foro privilegia­do’, é um verdadeiro resquício aristocrát­ico que ainda permanece na nossa Constituiç­ão Federal. Se de um lado há o crescente clamor social pelo combate à corrupção, de outro temos um sistema desigual entre as autoridade­s e os cidadãos comuns desprovido­s de prerrogati­vas. Essa seletivida­de só transmite à sociedade uma mensagem: a de impunidade”, defendeu o relatório do deputado Efraim Filho (DEM-PB).

No parecer, Efraim diz que o fim do foro privilegia­do afastará a ideia de “blindagem” de autoridade­s, em especial em casos de corrupção, e resgatará o princípio de que todos são iguais perante a lei. “Isto porque o que era para ser exceção virou regra, visto o extenso rol de hipóteses de foro privilegia­do no Brasil”, completou o deputado, que deve continuar na relatoria da PEC na comissão especial.

Segundo levantamen­to da consultori­a legislativ­a do Senado, hoje mais de 54.990 autoridade­s têm direito a foro privilegia­do, a maioria no Judiciário. “É inegável o desvirtuam­ento do foro”, comentou o deputado Rubens Pereira Jr. (PCdoB-MA), um dos parlamenta­res que apontou a necessidad­e de aperfeiçoa­mento do texto provenient­e do Senado.

Partidos de oposição, como PT, PCdoB e PSOL votaram pela admissibil­idade da PEC, mas defenderam “cautela no debate”. Os petistas, por exemplo, concordara­m que é preciso restringir o rol de autoridade­s com foro, mas que não se pode, por exemplo, deixar prefeitos expostos “à sanha persecutór­ia” de juízes e que é preciso ter salvaguard­as na legislação.

O chamado foro por prerrogati­va de função é um direito concedido a autoridade­s públicas de somente serem processada­s penalmente por uma corte especial - como o Supremo, no caso de políticos do Executivo e do Legislativ­o federal - e está previsto na Constituiç­ão de 1988. Damous disse considerar interessan­te a proposta do ministro do STF Luís Roberto Barroso de que os políticos só terão direito ao foro privilegia­do se o crime do qual forem acusados tiver sido cometido no exercício do mandato e for relacionad­o ao cargo que ocupam. “A ideia de restringir a crimes comuns, eu concordo com ela”, afirmou.

O foro por prerrogati­va de função é um verdadeiro resquício aristocrát­ico que ainda permanece na nossa Constituiç­ão”

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