Empatia é o segredo para enfrentar o trabalho durante as festas
Quem passa o ano novo trabalhando ensina que se colocar no lugar dos outros ajuda a aceitar a rotina
Para a maioria, a chegada de um novo ano é celebrada com festas, confraternizações em família, comida farta, brindes à meia-noite e rituais para trazer bons fluídos. Para quem trabalha em serviços que funcionam 24 horas, porém, a regra das celebrações nem sempre é válida. Nos hospitais ou na estrada, entre outros exemplos, a passagem para o dia 1 de janeiro será de mais um dia de trabalho. Enfrentar a rotina nos dias de festas não é fácil, mas trabalhadores acostumados à labuta logo no primeiro dia do ano garantem que o segredo para lidar com essa adversidade com mais leveza é praticar a empatia. Ao colocarem-se no lugar das pessoas que estão precisando do serviço, eles garantem que fica mais fácil passar as festas trabalhando.
Funcionário daViação Garcia há 22 anos, o motorista Agnaldo Luiz Domingues conta que o fim do ano é uma época de muita demanda para a empresa, por isso os motoristas estão sempre prontos para viajar, seja no Natal ou no Ano Novo. “É bem provável que eu esteja na estrada na virada do ano. É uma mistura de sentimentos. Ao mesmo tempo que me sinto triste por estar longe da família, é muito gratificante colaborar para unir pessoas que, muitas vezes, estão há muito tempo sem se ver”, diz.
A passagem do ano na estrada é sempre tranquila. “Pelo microfone, aviso que já é meia-noite e os passageiros aplaudem. A festa mesmo é quando chegamos ao destino e há o encontro com familiares e amigos”, diz ele, que passou a noite do dia 24 de dezembro com a família mas também trabalhou no dia do Natal. “Sinto falta da companhia das família, mas já me acostumei, alguém tem que trabalhar”, brinca.
Casado e pai de duas meninas, Heloísa, 14, e Victória, de apenas 7 meses, Domingues está apreensivo por passar o primeiro ano novo da caçula longe dela. “É algo novo a se pensar. Mas já sei que, se estiver na escala, vou esperar a próxima folga para comemorar com elas”, garante. A filha mais velha, segundo ele, já está acostumada com as viagens, mas não deixa de sentir falta. “Elas querem a nossa presença, mas estar ausente faz parte da profissão”, diz.
No Hospital Evangélico, muitos funcionários vão trabalhar na virada do ano. Apesar do clima ficar diferente por não haver muitas cirurgias eletivas agendadas, as pessoas continuam precisando de antedimento médico e a demanda não para.
A recepcionista Evelyn Alves de Almeida é uma das es- caladas para o plantão do Ano Novo e garante que já está acostumada. “Todo ano revezamos entre Natal e Ano Novo, mas este ano me dispus a vir nos dois feriados porque vou sair de férias e achei justo dar oportunidade aos colegas para descansarem”, conta. Ela é mãe de Thaís, 12, e Guilherme, 4, e conta que ficar longe dos filhos é a pior parte. “O Gui- lherme é autista e não entende minha ausência. Quando chego, é sempre uma festa”, emociona-se.
Os familiares demoraram a aceitar a rotina da recepcionista. “Converso e explico que faz parte do meu trabalho, mas nem sempre há o entendimento. Fico dividida, pois sei que os pacientes precisam de mim, mas os filhos também”, relata.
Nos primeiros plantões, ela ficava triste e até chorava, mas depois aprendeu a praticar a empatia. “Me coloco no lugar de quem está hospitalizado e vejo que nosso trabalho é importante para eles”,
“Fico dividida, pois sei que os pacientes precisam de mim, mas os filhos também”