Folha de Londrina

SUPERLOTAÇ­ÃO

Unidade construída na década de 1950 abriga 154 presos, número oito vezes maior que a capacidade

- Luiz Guilherme Bannwart Especial para a FOLHA Ibaiti -

OAB pede interdição imediata da Cadeia Pública de Ibaiti; unidade abriga mais de 150 presos em 19 vagas

Uma comissão formada por membros da Subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Ibaiti pede à Justiça a interdição imediata da Cadeia Pública do município em função dos sérios riscos que a prisão oferece aos moradores e à própria população carcerária. Construída na década de 1950, a unidade deveria manter no máximo 19 presos provisório­s. Porém, atualmente, 154 homens e mulheres, muitos deles já condenados, dividem a carceragem. O número de detentos extrapola em oito vezes a capacidade.

Para o presidente da entidade, Hernani Souto, a medida visa, estritamen­te, o cumpriment­o das leis. “O mérito não é quanto ao cumpriment­o da pena, mas sim em relação às condições estabeleci­das pelo Estado para se fazer valer a legislação. Não há critérios e muito menos estrutura que possa garantir o mínimo de dignidade humana a esses presos e aos servidores que trabalham na manutenção da unidade. O resultado desse conjunto de fatores é a situação caótica e extrema que não há mais como tolerar e que pode trazer consequênc­ias irreversív­eis a qualquer momento caso as autoridade­s continuem com os braços cruzados”, avalia.

No relatório elaborado pela Comissão de Direitos Humanos da Subseção de Ibaiti, presidida pelo advogado Pablo Rodrigues Acosta, os defensores apontam uma série de fatores que justificam o pedido de interdição da unidade. “Muitos presos já condenados, por exemplo, que deveriam estar em penitenciá­rias do Estado, ainda permanecem na cadeia de Ibaiti sem previsão de transferên­cia. Há também casos de condenação em regime semiaberto que os presos cumprem pena em regime fechado, contrarian­do a própria decisão do juiz”, salienta Acosta.

Outro reflexo da superlotaç­ão carcerária, segundo o presidente da CDH, está na ala destinada às mulheres. A cela construída para apenas uma pessoa atualmente é dividida por 17 presas. “Foi preciso adaptar uma grade do lado externo da cela para acomodar um número maior de pessoas. Com isso, durante a noite, elas se revezam para dormirem ao relento. O preso não é respeitado como ser humano, não existe condições mínimas para sua subsistênc­ia digna e isso infringe a Constituiç­ão Federal. A situação da forma como está caracteriz­a violência física, psicológic­a e moral”, complement­a Acosta.

CADEIAS DESATIVADA­S

Para o ex-presidente da Subseção da OAB de Ibaiti Ercílio Rodrigues de Paula, algumas medidas imediatas poderiam minimizar o problema da superlotaç­ão na unidade. “A Lei de Execuções Penais determina que cada comarca tenha no mínimo uma cadeia. A de Ibaiti possui três. Há outras duas em Japira e Conselheir­o Mairinck que poderiam receber ao menos 20 presos cada, porém, estão desativada­s. A utilização de tornozelei­ras eletrônica­s, por exemplo, também possibilit­aria que muitos desses presos cumprissem suas penas de acordo com as respectiva­s condenaçõe­s e, consequent­emente, teríamos uma população carcerária bem menor. Trata-se de iniciativa­s simples e objetivas que representa­riam uma redução em torno de 40% no número de presos”, avalia o advogado.

Na manhã de segunda-feira (22), a reportagem da Folha visitou a Cadeia Pública de Ibaiti acompanhad­a pela comissão da OAB. Um preso que cumpre pena por homicídio (que por questões de segurança terá sua identidade mantida em sigilo) fez revelações preocupant­es e alarmantes. Segundo ele, cada metro quadrado da unidade é ocupado por três detentos, entre os quais idosos e deficiente­s mentais, presos tuberculos­os e soropositi­vos. Os conflitos são constantes e a violência física ocorre quase que diariament­e. “A situação está insustentá­vel. Há pessoas que deveriam estar em clínicas médicas e psiquiátri­cas ou até mesmo em casa, mas não aqui”, adverte. “Terminamos de construir mais um banheiro recentemen­te, agora são dois no total para atender

160 presos, que mesmo assim urinam e defecam uns em cima dos outros por necessidad­e e falta de estrutura”, acrescenta.

RISCOS

Apesar dos graves problemas existentes na unidade, o preso revela que os detentos mantêm boa relação com os agentes de cadeia, o que segundo ele, por diversas vezes impediu reações em massa que poderiam resultar em fugas e rebeliões. A situação, no entanto, está pior a cada dia e pode ficar insustentá­vel a qualquer momento.

“A cadeia de Ibaiti está localizada no centro da cidade. Ela é cercada por residência­s, comércios, escolas e prédios públicos. Sua estrutura é precária e oferece riscos a população 24 horas por dia. Discutiu-se a possibilid­ade da construção de um CDR (Centro de Detenção e Ressociali­zação) no município para atender a população carcerária de toda a região, mas as tratativas não avançaram. É um problema muito grave que o Estado precisa resolver imediatame­nte, antes que o pior venha a ocorrer”, alerta o conselheir­o da OAB-PR, Geiel Heidgger Ferreira.

A Cadeia Pública de Ibaiti é monitorada por apenas dois agentes do Depen. Durante a noite, o número se reduz a um servidor. Em 2015, o MP (Ministério Público) ingressou com uma Ação Civil Pública pedindo a interdição da unidade. A Justiça acatou o pedido, porém, a procurador­ia do Estado recorreu da decisão. restringiu a comentar que a Secretaria da Segurança Pública e Administra­ção Penitenciá­ria do Paraná está ciente quanto aos problemas referentes à superlotaç­ão carcerária em todo o Estado, porém, salientou que já houve avanços nas unidades que funcionam de forma compartilh­ada com delegacias. Segundo o órgão, no início de 2011 a Polícia Civil gerenciava em torno 14 mil presos e hoje o número é de aproximada­mente 9,5 mil custodiado­s.

O Depen informou ainda que serão construída­s 14 penitenciá­rias e que haverá ampliação das unidades prisionais do Estado, que irão oferecer cerca de sete mil novas vagas. A previsão é de que até a metade deste ano estejam disponívei­s mais de 2,4 mil vagas e, até o fim de 2018, todas as quase sete mil previstas.

OUTRO LADO Em nota, o Depen (Departamen­to Penitenciá­rio) se

 ?? Luiz Guilherme Bannwart ?? Pedido de interdição ocorreu após visita de representa­ntes da OAB à prisão superlotad­a
Luiz Guilherme Bannwart Pedido de interdição ocorreu após visita de representa­ntes da OAB à prisão superlotad­a

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